Com palavras de ordem, afirmando que não vão deixar a empresa Australis avançar com a prospeção de gás na freguesia da Bajouca, exibindo cartazes e pequenos vasos com plantas, o grupo de 170 pessoas que esteve acampado durante dois dias na localidade juntou-se no centro da vila a mais de uma centena de manifestantes.
Todos juntos caminharam até ao local previsto para a prospeção e formaram um cordão humano à volta do terreno, tendo alguns manifestantes entrado no espaço, e continuaram as palavras de ordem: “Australis, aqui não vais furar” ou “Não ao furo, sim ao futuro”.
“Agora que se fala tanto em ambiente e no aquecimento global, não se percebe por que é que o ministro do Ambiente fica calado perante isto. As pessoas não querem esta exploração. Temos de defender o nosso futuro. Querem acabar com os combustíveis fósseis e vêm aqui fazer exploração de gás”, afirmou João Domingues, natural da Bajouca.
Outro manifestante, Abílio Fonseca, lamentou que o Governo tenha “assinado contratos sem ouvir a população da Bajouca”.
“Não há qualquer mais-valia. Até o dinheiro que irão fazer será levado daqui. Nós continuaremos a ser pobres e a enriquecer empresas que levarão o lucro para paraísos fiscais”, acrescentou.
Um dos organizadores do Camp in Gás, Acampamento de Ação contra Gás Fóssil e pela Justiça Climática, João Costa, afirmou à Lusa que esta iniciativa é uma forma de “mandar um recado muito sério à Australis: seja ‘fracking’ ou não, este ou no próximo ano, não vão furar aqui nem em Aljubarrota [concelho de Alcobaça, no distrito de Leiria]”.
“Não somos ecologistas, não somos ambientalistas. Somos pessoas voluntárias e lutamos pela justiça climática”, salientou, ao agradecer o apoio da Associação Bajouquense para o Desenvolvimento, do museu do Casal Novo, de Monte Redondo e do Grupo Alegre Unidos.
Os manifestantes plantaram ainda cerca de 80 árvores autóctones no terreno da Australis, “junto à vedação, para que a população possa regar sem invadir o terreno”, explicou João Costa.
No espaço previsto para a prospeção foi também deixado um mastro “com várias mensagens escritas pelos participantes no acampamento”.
João Costa explicou que este acampamento começou a ser preparado em janeiro, depois de terem conhecimento da possibilidade de haver prospeção na Bajouca.
“Estava contratualizado o furo acontecer até setembro, pelo que imaginámos que esta seria uma boa altura para parar algumas máquinas. Entretanto houve o pedido do estudo de impacto ambiental e da suspensão do contrato”, explicou.
Apesar de a Australis assegurar que a segurança está garantida, João Costa sublinhou que “mesmo que o risco seja 0,000001 ele existe e a água não se pode vender, nem abdicar”.
Numa resposta enviada por escrito à agência Lusa, “a Australis considera que todas as pessoas têm o direito de se manifestar e expressar as suas opiniões dentro do previsto pela lei”.
“A política da empresa é de não comentar qualquer anúncio ou intenção de protesto, mas continuar a apresentar os factos sobre o projeto e a cumprir as nossas obrigações legais e regulamentares. A empresa respeita também o direito à propriedade privada e convida todos a fazerem o mesmo. A Australis lamenta ainda que o seu terreno tenha sido invadido de forma ilegal”, acrescentou.
A empresa sublinhou que a “Australis sempre pretendeu dialogar e comunicar com as populações residentes nas freguesias e municípios e já realizou sessões públicas para apresentar o projeto”.
“Ouviu as preocupações das populações e outras partes interessadas. Mais sessões serão realizadas após a conclusão do Estudo de Impacto Ambiental, processo que se encontra em curso.”
Segundo uma nota da Australis, a empresa recebeu do Governo português, em 2015, as concessões da Batalha e de Pombal e desde então “já investiu mais de 1,2 milhões de euros em estudos e trabalhos de engenharia para compreender as potenciais oportunidades de exploração das suas concessões”.
“A Australis não vai estimular estes poços através de fraturação hidráulica. O objetivo é realizar estes poços utilizando técnicas convencionais”, refere, ao afirmar que “estas operações terão um impacto muito positivo junto das populações locais, com a criação de emprego e dinamização da economia local”.
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