Perto das nove da noite, descalço, na sala de orações, ao lado do presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, Abool Vakil, e do imã da Mesquita Central de Lisboa, o xeque David Munir, o chefe de Estado partilhou com eles tâmaras e água.
À sua volta, dezenas de muçulmanos registavam esse momento simbólico, de telemóveis na mão, e alguns tentavam fazer ‘selfies’ com o Presidente da República mesmo enquanto decorria a oração.
“Este é um momento de respeito, solidariedade, partilha, entendimento”, diria, mais tarde, Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado ficou cerca de quinze minutos na sala de orações e de seguida calçou-se, atravessou o pátio interior da mesquita, sempre rodeado de gente, e desceu ao espaço de refeições.
Pelo caminho, o Presidente da República contou que esta é a primeira vez que partilha o ‘iftar’ e assinalou “uma certa convergência” com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, referindo que “ele próprio jejuou durante um dia para manifestar a sua solidariedade durante o período do Ramadão”.
Questionado se também jejuou hoje, respondeu que sim, acrescentando: “É como tudo na vida, não é propriamente difícil, é uma escolha, é uma opção. E, neste caso, é uma solidariedade, é uma partilha”.
No espaço de refeições, Marcelo Rebelo de Sousa cumprimentou e tirou sucessivas fotos com as mulheres que jantavam em mesas compridas num espaço à parte, separado por painéis, e com os homens, até perto das dez da noite, hora a que se sentou para jantar com membros de outras confissões religiosas convidados para esta cerimónia.
Dirigindo-se à comunidade muçulmana, o chefe de Estado declarou: “É para mim uma honra, como representante de todos os portugueses, estar aqui com tantas e tantos portugueses, dos melhores que temos, naquilo que é uma partilha sem qualquer tipo de limitação, mas com compreensão, com fraternidade e com afeto”.
Segundo o Presidente da República, “de facto, Portugal quer verdadeiramente viver, e vive todos os dias, o espírito que está na Constituição, que é realmente a liberdade religiosa e o convívio inter-religioso” e fá-lo de “forma exemplar”.
Contudo, defendeu que há que olhar para os “exemplos de xenofobia, de intolerância, de incompreensão” pelo mundo fora e ter a consciência de que esta “é uma luta que tem de passar de geração em geração e tem de ser construída por todos, todos os dias”.
“Daí o significado da minha presença, também”, afirmou.
Portugal tem cerca de 50 mil muçulmanos.
O Ramadão é um período de jejum, que deve ser cumprido entre a alvorada e o pôr-do-sol, e de maior dedicação à espiritualidade, celebrado anualmente no nono mês do calendário islâmico.
Comentários