Em declarações durante a apresentação do Plano de Intervenção na Mata Nacional do Prazo de Santa Marinha, Rui Rosmaninho, responsável das matas nacionais do Centro do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), esclareceu que a área de acesso interdito do parque ascende a cerca de 190 hectares - sensivelmente metade da área total – e, nesta, 83 hectares foram afetados de forma severa pela tempestade de 13 de outubro. Os restantes registaram afetação média.
De acordo com Rui Rosmaninho, a zona interdita coincide com área central do também denominado Parque Florestal Manuel Alberto Rei, onde existiam as árvores de maior porte: pinheiros, eucaliptos e cedros plantados entre 1911 e 1924.
A zona foi dividida em quatro setores (A e B de destruição média e C e D de destruição severa) no âmbito dos trabalhos de avaliação, registo e medição de árvores tombadas, partidas, inclinadas ou em risco de queda, previstos para durar três semanas e que ainda decorrem.
A avaliação, já concluída nos setores A e C, aponta para 3.500 árvores afetadas e que têm de ser retiradas, número que poderá duplicar quando os trabalhos de aferição estiverem terminados, o que deverá acontecer até final do mês.
Em termos da quantidade de madeira a retirar, no âmbito da fase de exploração florestal (alienação, corte, extração e limpeza dos terrenos) que, de acordo com o plano hoje apresentado, deverá durar três a quatro meses, prolongando-se para lá do final do inverno, Rui Rosmaninho apenas apresentou uma valor indicativo de sete mil toneladas (respeitante às 3.500 árvores já avaliadas): "São mais de 150 camiões de carga", frisou, aludindo aos meios pesados e maquinaria que irá intervir na serra da Boa Viagem nos próximos meses.
O ICNF, entidade que tutela a Mata Nacional do Prazo de Santa Marinha, assumiu por três vezes, no último mês, que os trabalhos de remoção de milhares de árvores que caíram ou foram destruídas na serra da Boa Viagem pela tempestade Leslie iriam durar seis meses e, hoje, Rui Rosmaninho, questionado pela agência Lusa nesse sentido, manteve esse prazo indicativo.
"Não houve nenhuma alteração", sustentou.
De acordo com a posição da entidade que tutela o Parque Florestal Manuel Alberto Rei, a circulação no local mais afetado - dois troços de estrada com pouco mais de um quilómetro de extensão entre a zona da capela de Santo Amaro e o miradouro da Bandeira, que desapareceram debaixo de troncos e copas de árvore tombadas e arrancadas pela força do vento - não será autorizada até final do inverno por questões de segurança e "será o último a ser aberto", reiterou hoje Rui Rosmaninho.
No entanto, o mesmo responsável indicou que o setor B, localizado na zona norte e nordeste do parque florestal - que faz fronteira com a área mais afetada e onde se situa o miradouro da Bandeira - poderá ser o primeiro a ser "posto ao dispor da população", nomeadamente aquando da abertura de um acesso automóvel, atualmente encerrado, entre o chamado triângulo de Quiaios (junto às antenas/casa da Proteção Civil) e o referido miradouro.
Desde a tempestade Leslie, a autarquia da Figueira da Foz vinha considerando o prazo de seis meses adiantando pelo ICNF como inaceitável, exigindo a reabertura das referidas vias de circulação e alegando que tinha "tudo preparado" para ali intervir com meios próprios.
Hoje, o plano de intervenção conjunto do ICNF e Câmara Municipal atribui às duas equipas de sapadores florestais municipais uma área de 136 hectares para recuperação de caminhos e trilhos pedestres, maioritariamente na zona oeste do parque florestal, que fica fora da zona interdita e que foi atingida pelo temporal de forma ligeira.
Na sessão, o presidente da autarquia, João Ataíde, admitiu que os trabalhos de limpeza da serra da Boa Viagem "são extremamente complicados" e os danos "muito superiores" aos avaliados numa fase inicial a seguir à tempestade.
"Não se consegue distinguir a estrada de acesso da mata em redor", afirmou o autarca, pedindo ao ICNF "o máximo de urgência e razoabilidade" na intervenção.
De acordo com o relatório de danos hoje revelado, o total de prejuízos estimado em cerca de 100 hectares da Mata Nacional do Prazo de Santa Marinha ascende a 665 mil euros: 235 mil de perda do material lenhoso verde a cortar, 180 mil de custos de repovoamento e 250 mil de recuperação de infraestruturas e equipamentos.
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