"É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais", lê-se no comunicado citado pela Globo.
"Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação", lê-se ainda na nota.
Nascida Elza Gomes da Conceição numa favela do Rio de Janeiro em 1937, Elza Soares surgiu no programa de talentos “Calouros em Desfile” e gravou o primeiro álbum, “Se acaso você chegasse”, em 1959, a que se seguiram mais de três dezenas de discos.
A par da sua carreira, foi mãe adolescente, enfrentou a morte de quatro filhos e a morte de companheiros, como o ex-futebolista Garrincha, enfrentou preconceitos, viu a carreira soçobrar por várias vezes e renasceu sempre, através da música.
No seu percurso destacam-se álbuns como “A bossa negra” (1960) “Sambossa” (1963), "Elza pede passagem" (1972) e "Lição de vida" (1976), "Elza negra negra" (1980), "Alegria do povo", "Somos todos iguais” (1985) e “Voltei” (1988), “Trajetória” (1997) ou o mais recente "Do cóccix até ao pescoço", publicado em 2002, pouco depois de a BBC Radio a ter incluído entre as melhores vozes do milénio.
Em 1984, com Caetano Veloso, cantou "Língua", o 'samba-rap' que se transformou num dos maiores sucessos da música brasileira - "Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões" -, em que ambos 'refazem' o idioma em neologismos e apelam à criação de uma "frátria", uma pátria fraterna, mais do que "pátria" ou do que "mátria".
Dona de uma longa e atribulada carreira, Elza Soares teve um renascimento artístico já no século XXI, com o lançamento de "A Mulher do Fim do Mundo", em 2015, que a levou numa digressão internacional e que se assumiu como uma triunfante declaração da sua vitalidade.
Foi com esse álbum editado que visitou Portugal em várias datas: atuou na Casa da Música, no Porto, no Festival Sons em Trânsito, em Aveiro, e no Mexefest, em Lisboa em 2016.
Depois desses concertos, seguiram-se outros ainda em promoção ao seu lançamento de 2015, com passagens pelo Coliseu dos Recreios, em Lisboa, pelo festival Primavera Sound, no Porto, pelo Teatro das Figuras, em Faro, pelo Festival Raízes do Atlântico, na ilha da Madeira, em 2017.
Após o sucesso de "A Mulher do Fim do Mundo" — inclusive na crítica internacional —, Elza Soares lançou ainda "Deus É Mulher", em 2018, e "Planeta Fome", em 2019.
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