“Em jejum controlamos a nossa língua, a visão, os desejos e a zanga. É um mês de reflexão, em que as pessoas se dedicam mais à espiritualidade, à prática da religião”, explica em declarações à agência Lusa o imã da Mesquita de Lisboa, xeque David Munir.
O Ramadão é o mês sagrado para os muçulmanos porque foi durante este período que o profeta Maomé recebeu as primeiras revelações do Alcorão.
O jejum está associado, é um dos pilares do Islão e é obrigatório. Todos os muçulmanos adultos e saudáveis devem fazê-lo, crianças doentes e idosos estão isentos.
Este é um mês em que as mesquitas se enchem em todo o mundo, diz Munir.
Em Portugal, um país com cerca de 50 mil muçulmanos, a realidade não é diferente. Cinquenta mesquitas ou lugares de culto serão um espaço de oração, em especial à noite.
“É o milagre do Ramadão, é o poder espiritual que o Ramadão tem. Tentamos que todas as leituras do Alcorão sejam feitas nessas 30 noites”, diz o imã, adiantando que este é um momento de reflexão e de treino para os restantes meses do ano.
O jejum físico, explicou, de não comer e não beber durante muitas horas também é benéfico para o organismo, embora todo o outro processo seja igualmente importante.
Segundo o xeque Munir, este é também um momento de misericórdia para a reflexão dos muçulmanos e um momento para mostrarem a sua generosidade que começa, por exemplo, “no dar de comer a um jejuador”.
Na mesquita central de Lisboa, por exemplo, são servidas mil refeições grátis e outras mil confecionadas para mesquitas que o pedem.
“Um dos objetivos do jejum é valorizar o que nós temos e sentir na pele o que outro não tem. Não é algo novo inventado pelo profeta Maomé, mas é um mês de sacrifício de reflexão e dos muçulmanos pensarem e refletirem, é um mês em que as pessoas se tornam generosas”, disse.
No mês do Ramadão, defende, os líderes religiosos têm de transmitir uma mensagem de paz e de tolerância, de condenar veemente os atos feitos por alguns em nome do Islão.
Não sendo Portugal um país islâmico, a prática do jejum e a vivência do Ramadão altera um pouco o dia-a-dia, especialmente os que trabalham, mas no entender do xeque Munir é realizado de forma tranquila.
“Como diz o presidente da nossa comunidade, Portugal é um paraíso. Não há problema religioso entre os religiosos, esperamos que os outros países também possam seguir esse exemplo”, frisou, referindo que em Portugal há imenso interesse em conhecer o Islão.
Abdool Vakil, Presidente da Comunidade Islâmica em Portugal, diz que foi dos primeiros a chegar a Portugal em 1956 e que na altura a sua prática era vista “como um animal exótico” mas sem qualquer problema de aceitação.
“Vamos agora entrar no sagrado mês do Ramadão e aqui vivemos bem. As pessoas apreciam quando veem os muçulmanos a jejuar. Cada um tem a sua religião, ninguém tem de interferir”, disse.
Este é também o mês da caridade e “de olhar para o outro que necessita”, frisou, acrescentando que este treino é importante para que se mantenha o bem nos restantes onze meses.
O jejum faz parte do Ramadão e, explicou, é a verdadeira jihad, porque é o que os muçulmanos devem fazer para dominar os maus instintos do ser humano, é um exercício.
“O nosso profeta disse uma vez quando veio de uma batalha com os seus companheiros ‘acabámos de vir de uma jihad pequena, agora começou a jihad grande´, que é a vida que temos de moldar o nosso espirito para o bem”, frisou.
Infelizmente, prosseguiu, estão a deturpar a palavra e que nada tem a ver com o Islão, “como matar em nome Deus, que é um pecado mortal”.
“Jihad” é um termo árabe que significa “luta”, “esforço” ou empenho. É muitas vezes considerado um dos pilares da fé islâmica, que são deveres religiosos destinados a desenvolver o espírito da submissão a Deus.
O termo “jihad” é utilizado para descrever o dever dos muçulmanos de disseminar a fé muçulmana mas também utilizado para indicar a luta pelo desenvolvimento espiritual.
Os muçulmanos formam o segundo maior grupo religioso, com 1,6 mil milhões de pessoas, ou 23,2% do total, entre 87% e 90% são sunitas e entre 10% e 13% são xiitas.
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