Tucker Carlson é conhecido pelas suas ideias radicais e pelo especial interesse por teorias da conspiração. O programa que tinha no ar na Fox News, "Tucker Carlson Tonight", obteve em média 3,3 milhões de telespectadores em 2022, o que constituiu a audiência mais alta no período da noite nas televisões americanas.
Porque é que alguém com estas audiências sai da Fox News? A história conta-se em poucas linhas: apesar de a Fox News não ter dado um motivo oficial para a saída de Carlson, a mesma coincidiu com o acordo feito pela estação de televisão pelo qual aceitou pagar 787,5 milhões de dólares à Dominion Corporation para evitar um julgamento em tribunal.
E o que é que a Dominion Corporation tem a ver com Tucker Carlson? Basicamente, o apresentador-jornalista denunciou a empresa como tendo sido instrumento de uma suposta fraude nas eleições de 2020 nos Estados Unidos, que Donald Trump perdeu em favor de Joe Biden.
A Fox News aceitou o acordo à margem dos tribunais depois de uma série de mensagens terem vindo a público revelando que Tucker Carlson exibia publicamente acusações de fraude eleitoral e, em privado, expressava sérias dúvidas sobre a veracidade das acusações que fazia.
A estação pagou assim uma indemnização choruda para evitar que o processo de difamação avançasse em tribunal e, coincidentemente, Tucker Carlson saiu da estação.
Agora, e num momento em que muitos observadores denunciam um aumento dos conteúdos de ódio no Twitter, nomeadamente desde que foi adquirida por Elon Musk em outubro, o apresentador anuncia um novo programa a estrear nesta plataforma.
"Não existem muitas plataformas que permitem a liberdade de expressão" disse Carlson num tweet publicado na sua conta. "A última no mundo, a única, é o Twitter". "O Twitter não é partidário", declarou Carlson, "todos podem lá estar e acreditamos que isso é bom".
O apresentador, de 52 anos, propõe, no Twitter, "uma nova versão do programa" que fazia "há seis anos e meio" na Fox News e troca assim de patrão, de Rupert Murdoch para Elon Musk.
Tucker Carlson: quis entrar na CIA, tornou-se jornalista e há quem aponte futuro na política
Programa após programa, Tucker Carlson foi se tornando uma das vozes mais influentes para os conservadores americanos. No "Tucker Carlson Tonight", no ar desde 2016, o apresentador, de fato e gravata, pintava o retrato de um país sob ataque: pela imigração desenfreada, pelos protestos do movimento Black Lives Matter ou até pela própria Justiça.
Com os olhos azuis fixos diretamente nos telespectadores, cinco noites por semana e durante uma hora, comentava as notícias com um tom muito pessoal e afirmações como "os homens americanos estão em uma posição muito delicada", ou que "o racismo antibranco está a explodir em todo o país."
Tucker Carlson é contra o aborto, defende o direito ao porte de arma e nunca hesitou em expor as opiniões pessoais no seu programa. A braços com a justiça americana, foi a Carlson que Trump concedeu a primeira entrevista, a 11 de abril.
De acordo com os críticos, o apresentador apostou no medo para ganhar espectadores e acabou por se perder na própria estratégia.
Um dos exemplos em que a influência de Tucker Carlson emergiu no debate público foi e maio de 2022, quando teve lugar um massacre racista em Buffalo, no estado de Nova Iorque. O responsável pelo ataque foi um jovem supremacista branco acusado de tentar matar a maior quantidade possível de afro-americanos sob influência da teoria da "Grande Substituição" promovida por Carlson, uma ideologia de extrema direita segundo a qual a população branca será substituída por uma população imigrante.
No seu programa, Carlson mencionou centenas de vezes a ideia de que os brancos estavam a ser substituídos por outros grupos étnicos e foi, retomando essas referências, que o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer, denunciou "um veneno difundido por um dos maiores meios de comunicação do país".
Apesar das dificuldades, a Fox News apoiou o seu líder de audiências, defendendo as suas posições como sendo uma prova de diversidade de opiniões. Até ao dia em que foi anunciada a saída, a 11 de abril. Tudo indica que o acordo milionário que a Fox News teve que pagar para evitar um processo por difamação nas eleições presidenciais de 2020 foi a gota de água.
Carlson, pai de quatro filhos, defendeu em entrevistas públicas que as únicas opiniões que contam são "as das pessoas que se preocupam consigo". Terá sido uma lição que aprendeu na infância, marcada pelo abandono da mãe, uma artista plástica, quando ainda não tinha seis anos. A mãe foi morar para França e nunca mais voltou para ver os filhos.
Criado pelo pai jornalista, Carlson seguiu os seus passos e licenciou-se após tentar, sem sucesso, ingressar na CIA, a agência de inteligência dos EUA.
Mas o caminho até a glória foi longo. Trabalhou para a CNN e esteve temporariamente desempregado quando tinha cerca de 40 anos. Afirma nunca ter tido uma televisão em casa e vive longe do coração político dos Estados Unidos, em numa região rural do Maine (nordeste). É de lá que grava o programa, num estúdio montado só para ele.Depois da saída da Fox News, especulou-se que a sua próxima aposta seria a política e circularam mesmorumores de uma possível candidatura às eleições presidenciais de 2024. A acontecer, não será para já. Primeiro, há a estreia no Twitter.
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