Os resultados da 1.ª fase do concurso nacional de acesso são divulgados hoje, mas para muitos estudantes, colocados a dezenas de quilómetros de casa, ainda falta passar um teste para entrar no ensino superior: ter alojamento.
Depois dos bons resultados nos exames nacionais e de assegurarem um lugar no ensino superior, a procura de casa pode mesmo ser a prova mais difícil que terão de passar, devido ao valor das rendas.
Lisboa, por exemplo, é a cidade que recebe mais estudantes e é também a mais cara, segundo o Observatório do Alojamento Estudantil, que identifica diariamente a oferta privada de alojamento para estudantes e as rendas praticadas a nível nacional.
Na véspera de serem conhecidas as colocações, a plataforma identificava cerca de 2.600 quartos disponíveis na capital, que custavam entre 270 e 715 euros, sendo que o preço médio se situa nos 480 euros.
O cenário é semelhante no Porto, onde as rendas dos cerca de 800 quartos disponíveis variam entre 218 euros e 600 euros, e o preço médio ronda os 386 euros.
As residências estudantis privadas poderiam ser uma alternativa, mas aí os preços são ainda mais elevados.
As opções mais baratas rondam os 550 euros em Lisboa e 400 euros no Porto, e há residências que cobram mais de 1.000 euros mensais por pequenos estúdios com cerca de 20 metros quadrados.
“O ensino superior é o melhor instrumento de mobilidade social, mas quando temos estes preços proibitivos de 500 ou 550 euros por um quarto, estamos a pôr de parte muitos estudantes”, alertou o presidente da Federação Académica do Porto (FAP).
Em declarações à agência Lusa, Francisco Porto Fernandes relatou que muitos estudantes colocados em instituições da ‘Invicta’ só concluem a matrícula depois de assegurarem lugar numa residência pública e essa realidade repete-se em Lisboa.
“Preocupa-nos que, numa fase inicial, os estudantes nem considerem algumas opções por saberem que não conseguem pagar um quarto em Lisboa quando tinham média para isso, porque trabalharam para isso. Mas também nos preocupam os outros estudantes que no dia 25 vão ser colocados em Lisboa e quando perceberem que não vão ser bolseiros, eliminam logo essa opção”, lamentou a presidente da Federação Académica de Lisboa (FAL).
Há cidades onde estudar pode ficar mais em conta, como Coimbra, onde o preço médio de um quarto ronda os 240 euros, mas a oferta também não chega para todos e, de acordo com o Observatório do Alojamento Estudantil, há nesta altura menos de 500 quartos livres.
“É muito preocupante quando estamos a falar de um direito básico à habitação, e esse direito ser o que mais limita o acesso ao ensino superior”, sublinhou Mariana Barbosa, da FAL.
Nas contas mensais dos jovens, o alojamento representa precisamente a fatia mais pesada, segundo os resultados do Inquérito às Condições Socioeconómicas e Académicas dos Estudantes do Ensino Superior, promovido e financiado pela Direção-Geral do Ensino Superior.
Em média, os estudantes dizem gastar 903,9 euros por mês e cerca de 300 euros são para alojamento, o que representa um terço das despesas.
Os apoios sociais não são suficientes, disse Francisco Porto Fernandes, acrescentando, como exemplo, que o complemento de alojamento, atribuído aos estudantes deslocados bolseiros ou com baixos rendimentos, não chega aos milhares de estudantes sujeitos ao mercado paralelo, sem contrato de arrendamento.
Mariana Barbosa, por outro lado, disse que os cerca de 900 euros gastos pelos estudantes estão acima até do salário mínimo nacional.
“Nem um trabalhador-estudante conseguiria autofinanciar-se e isso mostra muito o quão proibitivo é o custo do ensino superior”, argumentou a presidente da FAL.
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