Numa visita ao centro de saúde Algueirão-Mem Martins (concelho de Sintra), que marcou o arranque da sua campanha no período oficial, a antiga eurodeputada do PS foi questionada como pretende continuar as suas iniciativas políticas se, como tudo indica, o país entrar em confinamento geral na quinta-feira.
A candidata anulou todas as iniciativas previstas para domingo, por querer aguardar pela reunião com os epidemiologistas no Infarmed em que participará por videoconferência na terça-feira, mas quando ouviu o Governo a praticamente admitir o novo confinamento, disse querer “a possibilidade de fazer contactos no terreno até lá”.
“Achei que tinha de vir para o terreno o mais que puder, naturalmente respeitando todas as regras. E depois, se houver de facto o confinamento, passar para um registo mais online, que nunca deixei de fazer”, afirmou.
“Eu respeitarei rigorosamente as regras que se aplicam a todos os portugueses”, assegurou, embora sem excluir que, além de iniciativas online, possa ter “contactos com os portugueses que estão a trabalhar no rigoroso cumprimento das regras”.
A antiga dirigente do PS - que não tem o apoio do seu partido, que deu liberdade de voto, mas do PAN e do Livre - considerou que a pandemia “prejudica e condiciona muito” os candidatos que querem fazer campanha e criticou os que se “abstêm” deste período de esclarecimento aos eleitores, concretizando estar a falar de Marcelo Rebelo de Sousa.
“A estratégia de Marcelo Rebelo de Sousa é de desvalorização da campanha e das eleições, é de menosprezo dos eleitores”, acusou.
Tal como foi fazendo ao longo dos debates, a candidata criticou o atual chefe de Estado e recandidato ao cargo por ter marcado as eleições de 24 de janeiro no último dia possível.
“Há cinco anos que se sabe que as eleições teriam de ser nesta altura, desde março que se sabe que há pandemia e foi o Presidente da República o primeiro a falar numa segunda vaga, e sabia-se das restrições adicionais que isso implicaria”, afirmou.
Para Ana Gomes, uma marcação atempada das eleições teria dado “mais tempo às autoridades para fazerem os preparativos necessários” e permitir, por exemplo, salvaguardar o voto dos emigrantes por correspondência.
“É indigno que os nossos emigrantes, a maior parte deles, não possam votar porque não foi regulado o voto por correspondência ou o voto eletrónico. Nem sequer a participação que tiveram nas legislativas podem ter agora e a responsabilidade é do professor Marcelo Rebelo de Sousa”, afirmou.
Candidata acusa Marcelo de desequilibrar negociação com privados na saúde “contra interesse público"
Durante a visita, a antiga eurodeputada socialista foi questionada se defende que o Governo já deveria ter avançado para a requisição civil na saúde de meios privados, sobretudo numa altura de agravamento da pandemia de covid-19.
“Suponho que o Governo está a tentar chegar a um entendimento e tem tido pressões nesse sentido, também da parte do próprio Presidente da República, que deu palco aos privados, enfraquecendo o Governo e a ministra da Saúde, quando ela precisava de ser reforçada para poder negociar o entendimento com os privados para defender o interesse público”, afirmou.
Ana Gomes considerou que não será qualquer “enviesamento ideológico” que está a atrasar esse acordo do lado do Governo.
“Há uma pressão que foi favorável aos privados por parte do Presidente da República e que desequilibrou a negociação contra o interesse publico. Espero que o Governo tendo tentado todas as alternativas, se necessário for recorra à requisição civil”, apelou.
A antiga dirigente socialista defendeu que, em momento de emergência, será necessário usar “toda a capacidade hospitalar instalada”, mas acusou os privados de apenas quererem acolher os doentes não-covid, “que são os que dão lucro”
“Se os privados continuarem a não querer, através de um entendimento que o Governo tem tentado, aceitar tratar todos os doentes, então o Governo deve fazer uso da requisição civil e pagar aos privados, mas a preço justo e não aos preços do lucro”, defendeu.
A candidata, que teve hoje a sua primeira ação presencial no período de campanha oficial depois de no domingo ter anulado todas as iniciativas previstas, escolheu o centro de saúde Algueirão-Mem Martins - ainda em obras e com inauguração prevista para 25 de abril - para esse arranque.
“É um grande projeto da vereação socialista [Ana Gomes foi candidata autárquica derrotada em Sintra em 2009], finalmente concretiza-se para servir uma população de cerca de 70 mil pessoas, na maior freguesia do país, Algueirão Mem-Martins”, explicou.
Para a candidata, esta unidade terá a vantagem de juntar cuidados primários e cuidados integrados e permitirá tratar pessoas que têm “alta hospitalar e precisam de continuar a ter cuidados médicos”.
“É um exemplo do que o país precisa: a boa articulação entre a rede hospitalar, a rede de cuidados primários e de cuidados integrados”, afirmou.
Já no dia 18 de janeiro, será inaugurada no local uma unidade de cuidados respiratórios que permitirá dar resposta a alguns doentes com covid-19, de acordo com um vereador presente.
A visita ao local das obras decorreu com menos de vinte pessoas, sendo a grande maioria jornalistas, com a candidata sempre de máscara, incluindo quando fez declarações à comunicação social.
A outra iniciativa de campanha prevista para hoje, também na área da saúde, será ao final da tarde, mas através das plataformas digitais para debater com estudantes de Medicina.
As eleições presidenciais estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.
A campanha eleitoral decorre até 22 de janeiro, com o país a viver sob medidas restritivas devido à epidemia. Concorrem às eleições sete candidatos, Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS/PP) Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, João Ferreira (PCP e PEV) e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).
Comentários