Na sua intervenção no Conselho Nacional do PSD, a que a Lusa teve acesso, Rui Rio ‘devolveu’, de forma implícita, as acusações do antigo líder parlamentar social-democrata Luís Montenegro que o acusou de “falta de coragem” por não ter aceitado o seu repto de marcar eleições diretas antecipadas.
“Não foi seguramente a mim que me faltou a coragem. Faltou, sim, a quem há um ano atrás, na altura própria, não teve o arrojo de se assumir, poupando o PSD a este espetáculo pouco dignificante que estamos a dar aos portugueses”, afirmou.
Há um ano, Luís Montenegro ponderou a possibilidade de ser candidato à liderança do PSD, mas acabou por não avançar invocando “razões políticas e pessoais”.
No seu discurso, o líder social-democrata deixou outro recado direto a Montenegro: "Estou à espera de, pela primeira vez, perder umas eleições, enquanto que os que me desafiam estão na posição inversa: estão à espera de conseguir ganhar uma eleição, pela primeira vez na vida".
“Aquilo que hoje aqui se pede é maturidade e sentido de responsabilidade. Responsabilidade, que passa por não facilitar a vida aos nossos adversários, acentuar a oposição ao Governo e construir uma alternativa de governação ao Partido Socialista. Se o caminho seguido for esse, acredito que a vitória está ao nosso alcance”, afirmou.
Pelo contrário, defendeu, se os militantes escolherem "o outro" caminho, que considerou ser da “instabilidade e do afundamento nas questões internas, é mais do que claro que a derrota será certa e o definhamento do partido poderá ser ainda superior” ao das últimas autárquicas.
“Se o partido decidir caminhar nesse sentido, tenho a consciência tranquila, porque não será por ato meu que tal acontecerá”, avisou.
Rui Rio argumentou ainda que “não é justo, nem seria correto, chumbar a moção de confiança à Comissão Política Nacional (CPN), depois de ela nunca ter tido as condições de trabalho que a qualquer direção nacional se devem dar”.
“Desde o primeiro dia da sua tomada de posse que o clima de guerrilha interna não parou. Aliás, começou até no dia anterior à sua tomada de posse. Logo a 17 de fevereiro, há precisamente 11 meses - um dia antes de iniciar funções - já esta CPN tinha potenciais candidatos a líder, que, apesar de não o terem sido, já discordavam daquilo que ainda nem sequer tinha começado. Não é a postura ética mais recomendável”, criticou.
Perante os conselheiros, Rui Rio repetiu algumas das ideias a que tinha recorrido no sábado, quando rejeitou o repto de Montenegro para marcar diretas, e anunciou, por outro lado, que iria submeter a sua direção a uma moção de confiança, que será votada hoje.
“Sempre respeitei os resultados eleitorais. Nunca andei em manobras de corredores parlamentares ou jornalísticos, conspirando contra quem é legitimamente eleito. Muito menos, seria capaz de boicotar a atividade de quem foi democraticamente escolhido para trabalhar, para, no momento seguinte, poder reclamar que tudo está mal. Em português, a isso, chama-se hipocrisia e essa é coisa que, seguramente, não faz parte do meu rol de defeitos”, disse.
Respondendo a um dos argumentos apontados pelos críticos – a má prestação do PSD nas sondagens -, Rio desvalorizou os estudos de opinião e recordou várias falhas, quer em relação ao partido, quer a si próprio.
“Sempre fui muito melhor em eleições do que em sondagens (…), não faltam os que, ao contrário de mim, são muito melhores em sondagens do que em eleições”, criticou, apontando como exemplo os maus resultados do PSD nas últimas autárquicas, em particular em Lisboa e no Porto.
Com base nesses resultados, Rio considerou que o ponto de partida da sua direção foram os “11% nos principais municípios no país” e na ordem "dos 25 ou 26%" nas legislativas, expurgados os votos do CDS-PP.
Rui Rio afirmou ainda que não foi por falta de coragem que recusou as diretas, mas por considerar que tal “revelaria uma irresponsabilidade e uma falha grave aos compromissos” que assumiu perante os militantes.
“Tenho como certo que tomar a decisão de enredar, outra vez, o partido numa longa campanha interna, seria colaborar numa irresponsabilidade de consequências totalmente imprevisíveis. Com eleições europeias, regionais e legislativas este ano, e com as europeias a realizarem-se dentro de uns escassos quatro meses, não se consegue entender semelhante insensatez”, defendeu.
Rui Rio respondeu até a uma entrevista de Pedro Duarte ao Público e Renascença, que o criticou por ainda não ter apresentado nomes e ideias para as europeias, mas por outro lado defendeu que o partido deve “mergulhar numa disputa interna” a tão pouco tempo das mesmas.
“Precisamos de mais coerência e mais maturidade nos comportamentos e nas críticas. Dizer mal por dizer, não demonstra capacidade para assumir tão grandes responsabilidades”, apontou.
Para Rui Rio, convocar diretas agora seria "um tsunami partidário" e “fazer um frete ao Partido Socialista, abrindo-lhe as portas a uma vitória eleitoral fácil”
“E é, também, um aliciante convite ao nosso eleitorado para se encaminhar para a abstenção e para as alternativas partidárias à nossa direita”, alertou.
O presidente do PSD considerou que a reunião do Conselho Nacional de hoje “é ela própria um espetáculo de ‘prime time’ para [o primeiro-ministro] António Costa”: “Se for um homem educado, terá de, necessariamente, agradecer a alguns companheiros nossos, pelo serviço de excelência que lhe estão a prestar”, disse.
Por outro lado, Rui Rio defendeu que fazer agora novas eleições seria “prejudicar toda a estabilidade futura do partido”, mas assegurou que aceitará “democraticamente a superior decisão do Conselho Nacional”.
[Notícia atualizada às 19:51]
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