“Estou no viaduto, mano”, exclamava um estudante, localizado entre a Rua de Camões e a Estação do Metro da Trindade, respondendo por telefone a um colega.
Uns metros mais à frente, uma mãe, ansiosa, respondia, com o telemóvel ao ouvido, que estava "perto da Décor, a loja de alcatifas". "Vem sempre pelo lado do metro [da Trindade]”, aconselhava.
Outra mãe comentava com uma amiga que a filha nunca foi "destas coisas” (praxes académicas), mas este ano veio participar no Cortejo da Queima das Fitas.
Entre ramos de flores multicolores nos braços dos familiares dos estudantes, latas de cerveja e garrafas de litro a espreitar dos bolsos dos trajes académicos, o som das bengalas a bater nas cartolas dos estudantes era uma constante na Baixa do Porto.
A tradição do Cortejo da Queima das Fitas do Porto regressou hoje às ruas, depois de dois anos suspensa por causa das restrições impostas pela covid-19, mas chegou com um percurso mais curto, devido às obras da nova linha de metro que impedem, por exemplo, a descida dos estudantes pela Rua dos Clérigos.
“É uma liberdade muito grande poder festejar depois de tanto tempo presa e depois de cinco anos de estudo intenso”, contava, em passo apressado e de cartola vermelha na cabeça, Raquel Nunes, de 22 anos, finalista de Contabilidade e Gestão.
Para Helena Moreira, finalista de Medicina, o Cortejo da Queima das Fitas 2022 é o culminar de nove anos de estudo, mas a estudante lamenta que só possam desfilar em 450 metros de distância até aos Aliados. Longe vão os tempos de um desfile que começava na Anémona, em Matosinhos.
“É uma pena ser só uma retazinha de cortejo, porque lá não cabem os dois últimos anos. Sabe a muito pouco”, desabafa a estudante, acrescentando que acima de tudo é “uma honra” poder desfilar pelas ruas do Porto.
Com cartola e bengala roxa, Filipa Martins e Filipa Mendes, finalistas de Farmácia, revelam que hoje sentem uma mistura de sentimentos. Por um lado, felicidade por terminaram um capítulo das suas vidas, por outro, saudades.
“Foram cinco anos que passaram a voar. E foram dois anos de tradições perdidas. É uma nostalgia grande, misturada com felicidade”, concluem.
Em convívio fraterno, Renato Rolo e Ricardo Robalo, ambos de 24 anos e com cartolas e bengalas de cor azul-bebé, unem-se para festejar o fim do curso, que terminou em 2021.
“É muita emoção junta. É o libertar de dois anos de energia contida”, declara Renato Rolo.
Ricardo Robalo confessa, por seu turno, que aguentou as “lágrimas dois anos”, tempo que a pandemia veio roubar aos jovens estudantes.
O cortejo, onde desfilam todas as cores do Ensino Superior da cidade, desceu a Rua de Camões para a tribuna localizada na Praça do General Humberto Delgado, em frente ao edifício da Câmara Municipal do Porto.
No fim do cortejo, os carros dos diferentes cursos serão encaminhados para o Palácio de Cristal, através do túnel de Ceuta, indica a autarquia do Porto.
Hoje, o trânsito nos principais acessos à Baixa do Porto está condicionado e as autoridades aconselham o uso de transportes públicos. São esperadas 400 mil pessoas.
Este ano assinala-se a 100.ª edição da Queima das Fitas do Porto, que se iniciou no domingo e se prolonga até sábado.
Diogo Piçarra, Profjam, Dillaz ou Kevinho são alguns dos artistas que atuam no Queimódromo da 100.ª Queima das Fitas do Porto.
Quim Barreiros, Ana Malhoa e Saúl vão subir hoje ao palco do Queimódromo, sendo que na quarta-feira a noite é entregue aos Wet Bed Gang e a Dillaz.
Na noite de quinta-feira, o duo israelita Vini Vici e a dupla portuguesa Karetus vão animar o palco do Queimódromo.
O brasileiro Kevinho e a rapper portuguesa Nenny atuam na sexta-feira.
A festa dos estudantes termina na noite de sábado, com o som dos Revenge of The 90’s e participação de convidados especiais.
A Queima das Fitas começou em 1920, com a Festa da Pasta, celebração iniciada pelos estudantes de Medicina da Universidade do Porto.
*Por Cecília Malheiro (texto) e Estela Silva (foto), da agência Lusa, e Pedro Soares Botelho (foto), do SAPO24.
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