O restauro de uma das pinturas mais famosas do mundo foi descrita como "um choque para todos" depois de revelar um cordeiro com pormenores humanos, conta o The Guardian.
O Retábulo de Gante, concluído por Hubert e Jan van Eyck em 1432, é uma obra-prima do século XV e está na Catedral de St. Bavo, na Bélgica. É considerada a primeira grande obra de arte a usar tinta a óleo .
Durante séculos, o seu painel central, a Adoração do Cordeiro Místico, contou com um animal recatado: o Cordeiro de Deus a ser sacrificado num altar, sendo uma representação de Jesus Cristo. Em 1550 o retábulo foi restaurado por um outro artista e, agora, uma recente restauração de vários milhões de dólares revelou a face original do cordeiro: o animal apresenta olhos maiores e mais vibrantes e um nariz rosado e mais detalhado. Mais humano, portanto.
Nas redes sociais circulam já imagens dos dois rostos lado a lado, sendo descritas como "um pesadelo".
Contudo, o jornal britânico diz que, ao contrário do que aconteceu com outras obras de arte — como, por exemplo, o Ecce Homo —, o cordeiro de Gante foi, de facto, restaurado profissionalmente para retomar a sua aparência original.
Ao The Art Newspaper, Hélène Dubois, chefe do projeto de restauração, referiu que a descoberta chocou a equipa, a igreja, os estudiosos e o comité internacional que acompanha o projeto.
O painel tinha "pintura em excesso" e, graças à boa conservação, foi possível remover as camadas posteriores à obra original. Por isso, não foi apenas a face do cordeiro que ficou diferente. A remoção de uma colina azul no horizonte revelou um trio de edifícios em miniatura no estilo de Gante Medieval, é referido.
Quanto ao cordeiro, Hélène Dubois tem uma certeza: o original tem uma "interação mais intensa com os espectadores". Mas ainda ficam muitas dúvidas, pelo que que historiadores e teólogos vão continuar a pesquisar o motivo que levou os Van Eycks a escolher uma representação "caricatural", quando toda a pintura apresenta um estilo naturalista, ao ponto de "os botânicos conseguirem identificar todas as plantas presentes", aponta Dubois.
Apesar das perguntas que ficam por responder, este é um importante achado na história da arte. "Achamos que conhecemos [a obra dos] Van Eyck porque faz parte da cultura", referiu. "Mas agora podemos ver realmente [o trabalho] e isso será uma revelação para as pessoas", rematou.
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