Na ressaca de um Conselho Nacional extraordinário de quinta-feira e que só terminou esta madrugada, o qual renovou a confiança na direção de Rio com 75 votos a favor e 50 contra (correspondente a cerca de 60%), um resultado superior ao alcançado nas eleições diretas de há um ano (54%), Luís Montenegro prometeu uma trégua para os próximos tempos, mas deixou no horizonte um possível ajuste de contas para 6 de outubro, o dia das legislativas.
O ex-líder parlamentar Luís Montenegro, o rosto da oposição a Rio, e que acabou por provocar a marcação de um Conselho Nacional extraordinário que durou quase 12 horas, prometeu já hoje deixar "todo o espaço de intervenção política à direção do PSD", reservando as suas intervenções públicas para "um combate cerrado ao Governo, ao primeiro-ministro, António Costa, e ao PS, por tudo aquilo que têm feito ou não têm feito no país”, assegurou.
Montenegro não deixou, no entanto, de reivindicar para si aquilo a que chamou o acordar de "um gigante adormecido" e sem esconder as divergências com a atual direção.
“Falamos no dia das eleições”, assegurou Montenegro, não enjeitando o regresso ao confronto se o resultado das legislativas não for convincente.
“Podemos andar à procura de vencedores e vencidos, mas o único que verdadeiramente venceu foi esse projeto de intervenção cívica que é o PSD”, disse no que também já tinha sido secundado, logo após a reunião do Porto, por Maria Luís Albuquerque, a ex-ministra das Finanças do governo de Pedro Passos Coelho.
Rui Rio, embalado por uma noite que lhe correu de feição, aproveitou a onda para pedir aos sociais-democratas que “remem todos no mesmo sentido”, permitindo à atual direção prosseguir "o caminho de construir uma alternativa ao governo PS".
"Neste momento, já é claro que o PS pode perder as próximas eleições, o que ainda não é claro é que o PSD as possa ganhar. Isso é o que nós temos que fazer, é essa a tarefa que temos pela frente. Metade está feita, o PS pode perder, agora nós temos que construir a possibilidade de a ganhar. E espero que a partir de agora remem todos no mesmo sentido para ver se o PSD recupera", apelou.
O líder social-democrata conseguiu mesmo surpreender a oposição interna ao propor o voto secreto, aprovado pelos conselheiros, e vencendo com cerca de 60% dos votos.
Outro trunfo jogado por Rio na noite do Conselho Nacional foi o surpreendente abraço do seu eterno rival do Norte, Luís Filipe Menezes, cuja candidatura à Câmara do Porto se recusou a apoiar no passado. Longe ficaram os tempos em que Rio, como autarca do Porto, e Menezes, em Vila Nova de Gaia, disputavam no S. João o “campeonato” do melhor fogo-de-artifício das margens do Rio Douro.
A vitória de Rio no Conselho Nacional estancou, ou pelo menos atenuou, as críticas internas até às legislativas e terá travado qualquer hipotética debandada para o Aliança, o novo partido de Pedro Santana Lopes.
Fernando Negrão, o líder parlamentar do PSD que apoiou Santana no congresso que entronizou Rui Rio, sintetizou numa frase aquilo que se pede agora aos dirigentes: “É preciso apostar na direção atual do PSD".
Um recado para figuras de proa do tempo de Passos Coelho, como Hugo Soares, Pedro Pinto, ou as ex-ministras Maria Luís Albuquerque e Paula Teixeira da Cruz.
Após a derrota no Conselho nacional, os críticos perdem margem de manobra mas poderão não ficar calados em absoluto se o PSD não descolar nas sondagens.
O mote que justificou o avanço de Luís Montenegro foi, aliás, a "degradação do PSD" traduzida na "queda nas sondagens" e com a necessidade de inverter o "caminho para o abismo em que está mergulhado".
Resta saber se a elaboração das listas de candidatos a deputados poderá espoletar uma nova 'guerra' interna, sobretudo se houver tendência para afastar elementos incómodos conotados com a liderança de Passos. Para já, figuras com o ex-líder parlamentar Hugo Soares ou o ex-ministro Aguiar Branco colocaram-se fora das listas.
Ainda antes da votação da moção de confiança, Rui Rio assumiu disponibilidade para ouvir críticas, abrindo a porta à correção de alguns pontos da sua estratégia.
“Àquilo que foram as intervenções com bom senso, com argumentos, posso discordar, mas passa a ser mais um parâmetro da equação para eu ouvir. Essa humildade todos devemos ter e eu também tenho, a humildade é um ato de inteligência”, reconheceu.
Para já, a expectativa reside no anúncio do cabeça de lista às eleições europeias de maio e de saber se Paulo Rangel será reconduzido como cabeça de lista, depois de o eurodeputado ter sido um apoio de peso de Rui Rio neste diferendo interno.
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