O manifesto “Por um projeto de cidade para Tavira” foi apresentado na última semana em Assembleia Municipal por uma arquiteta de Tavira com o objetivo de que o projeto seja repensado de forma “multidisciplinar”, tendo em conta a localização naquela que é uma das cidades “mais bem conservadas” do Algarve.
No documento, a que a Lusa teve acesso, os arquitetos apelam à autarquia para que tenha a “coragem” de “dar um passo atrás” e que pare “para refletir a favor da definição de uma estratégia de intervenção urbana abrangente”, contemplando não só o local de implantação da nova ponte, mas também o projeto global das frentes ribeirinhas da cidade.
“Não há razão nenhuma que justifique avançar como uma coisa que já se sabe que é um erro”, afirmou à Lusa Catarina Corvo, do Movimento “Tavira Sempre”, que já tinha pedido a suspensão do projeto e que agora manifesta o seu apoio ao documento subscrito pelos 24 arquitetos.
O projeto em causa pretende substituir a atual ponte provisória - edificada na sequência das cheias de 1989 - e colmatar os danos causados na antiga ponte sobre o rio Gilão, que acabou por se manter ativa durante 30 anos, mas que foi interditada ao trânsito automóvel há três anos por razões de segurança.
“Importa refletir sobre o processo de conceção e construção de uma ponte viaduto para o centro histórico de Tavira, bem como sobre as alterações que esta operação irá implicar no que se refere à manutenção e salvaguarda patrimoniais, culturais e identitários fundamentais, que dizem respeito não só à população local, mas a todos os que a visitam”, lê-se no manifesto.
O Movimento “Tavira Sempre” defendeu que, “havendo 24 arquitetos - reconhecidos, professores, premiados e com provas dadas na área da arquitetura – a dizer que esta não é uma boa solução e é necessário pensar, refletir e estudar” o projeto, “não há qualquer razão que justifique que a Câmara não o faça”.
Fonte da Câmara de Tavira reiterou à Lusa o argumento que já tinha apresentado publicamente, de que a suspensão do projeto, num momento em que a obra já está adjudicada, abriria caminho a exigências de indemnizações, pondo “em risco” a situação financeira do município.
Catarina Corvo sugeriu que, “em primeiro lugar, se suspenda a obra” para permitir “que se reflita e se estudem” todas as soluções para o projeto, argumentando que “não são todas as cidades que têm 24 técnicos desta envergadura a dar o seu parecer e opinião sobre o centro histórico”, contributo que a Câmara não deveria desperdiçar.
“Honra Tavira e deveria ser suficiente para a Câmara repensar a estratégia”, considerou, frisando que o movimento “não contesta a necessidade de uma ponte, contesta a forma como se chegou àquela solução” para substituir a ponte militar instalada há várias décadas, de forma provisória, para ligar as duas margens do rio Gilão no centro da cidade.
“Quem chegou a esta conclusão de que a necessidade era aquela, em que estudos se baseou?”, questionou Catarina Corvo, defendendo que “é necessário haver estudos que suportem” a solução.
Segundo aquela responsável, não há “estudo de mobilidade, de tráfego” que justifique a opção de avançar para a construção de uma ponte em betão e ferro como a que a Câmara quer construir, sem integração na paisagem, na parte mais emblemática da cidade.
“Aquela ponte viaduto podia ser integrada em Tavira ou em outro local qualquer”, lamentou, considerando que é necessário ter em conta o centro histórico em que insere e encontrar uma solução que se adapte bem à paisagem local, “sem preocupações economicistas” a orientar a decisão.
Comentários