INTRODUÇÃO

Criar uma empresa sem quaisquer riscos associados?

Só pode ser brincadeira!

Não, não é.

Este livro é dedicado a todos os wantrepreneurs (1) e intrapreneurs (2), que querem aprender a criar ou escalar a sua própria empresa sem risco.

SABIA QUE...?

No relatório Global Entrepreneurship Monitor 2022‐20234, em média, 45 por cento dos respondentes internacionais (adultos) que identificavam boas oportunidades no mercado não iniciariam o negócio devido ao medo do fracasso: ou seja, medo do risco. Estes números não consideram sequer aqueles que desejam tornar‐se empreendedores, mas que não identificaram ainda uma boa oportunidade no mercado. 

Exatamente a mesma conclusão foi retirada de um grande estudo, conduzido pela EBAN (European Business Angels Network), em que os business angels foram questionados sobre quais eram os fatores que os impediram de investir nos negócios em que recusaram investir. A principal razão em 87,6 por cento dos projetos apresentados foi: demasiado risco!

Aqueles que adoram ver o programa televisivo Shark Tank conhecem muito bem o investidor Mark Cuban. Numa recente entrevista, mencionou que as fases iniciais de uma nova empresa têm todas que ver com a redução do risco. Confessou também que ele próprio fica aterrorizado com o risco.

Não há dúvida de que o risco está no centro das decisões dos wantrepreneurs e dos investidores. Se os wantrepreneurs reduzirem o risco do projeto, a sua vontade de iniciar uma empresa aumenta espetacularmente e a vontade dos investidores em investir cresce também.

Ao percorrer os elementos essenciais do empreendedorismo bem-sucedido, o Startup Risco Zero irá ensinar-vos a reconhecer, avaliar e reduzir significativamente os diferentes tipos de risco na vossa nova empresa, utilizando uma metodologia de mitigação do risco (MEFLO) única. Irá revelar também dicas e truques invulgares para compreenderem a fase inicial do mundo dos investimentos, para que fiquem mais bem preparados para as vossas reuniões com potenciais investidores ou financiadores e que vos levarão a questionar todos os aspetos da vossa preparação para serem (e se tornarem) empreendedores.

O Startup Risco Zero está enraizado na metodologia MEFLO, que desenvolvi e apliquei nos meus projetos e investimentos, para além de ter sido usada por centenas de empreendedores por todo o mundo. Com base na minha própria experiência, não tenho qualquer dúvida de que seja possível mitigar o risco em qualquer projeto e, em muitos casos, chegar mesmo aos 99 por cento. Apresentarei mais de cem dicas ao longo deste livro para a mitigação dos riscos dos vossos projetos.

O vosso objetivo não deverá ser alcançar o risco zero, pois tal poderá levar muito tempo, até porque existem inúmeros riscos que estão para lá do vosso controlo, como os terramotos. O objetivo da metodologia Startup Risco Zero é reduzir os riscos a um nível aceitável para o empreendedor, o que acionará a decisão de iniciar o negócio.

A mitigação do risco vai muito além de meramente se iniciar uma empresa e procurar investidores, sendo um elemento inevitável de qualquer aspeto de um negócio e constituindo um tópico de interesse para todos os tipos de empreendedores. Este livro foca-se especificamente na mitigação do risco nas startups e noutros projetos novos, mas a metodologia subjacente é aplicável a qualquer contexto de negócios e para lá deles.

"É Desta Que Leio Isto"

"É Desta Que Leio Isto" é um grupo de leitura promovido pela MadreMedia. Lançado em maio de 2020, foi criado com o propósito de incentivar a leitura e a discussão à volta dos livros.

Já folheámos as páginas de livros de autores como Luís Sepúlveda, George Orwell, José Saramago, Dulce Maria Cardoso, Harper Lee, Valter Hugo Mãe, Gabriel García Marquez, Vladimir Nabokov, Afonso Reis Cabral, Philip Roth, Chimamanda Ngozi Adichie, Jonathan Franzen, Isabel Lucas, Milan Kundera, Joan Didion, Eça de Queiroz e Patricia Highsmith, sempre com a presença de convidados especiais que nos ajudam à discussão, interpretação, troca de ideias e, sobretudo, proporcionam boas conversas.

Ao longo da história do nosso clube, já tivemos o privilégio de contar nomes como Teolinda Gersão, Afonso Cruz, Tânia Ganho, Filipe Melo e Juan Cavia, Kalaf Epalanga, Maria do Rosário Pedreira, Inês Maria Meneses, José Luís Peixoto, João Tordo e Álvaro Laborinho Lúcio, que falaram sobre as suas ou outras obras.

Para além dos encontros mensais para discussão de obras literárias, o clube conta com um grupo no Facebook, com mais de 2500 membros, que visa fomentar a troca de ideias à volta dos livros, dos seus autores e da escrita e histórias que nos apaixonam.

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Algumas das dicas mencionadas neste livro poderão ter sido já usadas pelos leitores, ou poderão ter ouvido falar delas, mas provavelmente não terão usado algumas delas de uma forma sistemática. Espero que este livro possa inspirar muitos potenciais empreendedores a tornarem-se empreendedores ao reduzir o risco do seu projeto e também o seu próprio risco pessoal. Os que são já empreendedores, incluindo aqueles que desejam lançar novos produtos ou alcançar novos mercados, poderão também encontrar informação útil e relevante e dicas neste livro. Sugeriria que esses empreendedores começassem a ler o livro no capítulo 9 e saltassem os primeiros capítulos.

Nos primeiros seis capítulos, o livro abordará os conceitos de motivação empreendedora, as principais desculpas para não se iniciar um negócio e, finalmente, os conceitos de risco tangível e intangível. Como acima mencionado, a primeira parte do livro é sobretudo interessante para wantrepreneurs que queiram iniciar um negócio, mas que não tenham tomado ainda ações decisivas para que isso aconteça.

Depois dos conceitos motivacionais, o livro atingirá a sua zona nuclear, que consiste na atividade de mitigação de risco do projeto, prosseguindo até ao capítulo 20, no qual falarei acerca da forma como a inteligência artificial pode apoiar os empreendedores. Os últimos dois capítulos abordarão o processo de financiamento para qualquer empreendedor que deseje atrair financiamento externo.

Ao longo deste livro, sempre que mencionar a palavra projeto, estarei a referir-me ou a uma startup, ou a uma nova atividade de negócios de uma empresa existente, ou apenas aos planos para começar uma empresa.

Espero que, na altura em que tenham terminado a vossa leitura, se sintam inspirados e prontos para mitigar a maioria dos riscos dos vossos negócios. Assumirem o controlo da vossa vida, forçarem-se a abandonar a vossa zona de conforto e tornarem-se mestres da mitigação do risco, capazes de estabelecer novas fronteiras, são ris- cos audaciosos por que vale a pena lutar! Estão prontos?

Paulo Andrez
Londres, abril de 2024

CAPÍTULO 1

ESTÃO EMOCIONALMENTE PREPARADOS PARA SER EMPREENDEDORES?

Ser empreendedor é definitivamente estimulante e compensador, mas as coisas nem sempre correm com facilidade. Pelo contrário, podem esquecer a ideia de que tudo correrá exatamente como planeado quando se enceta o percurso do empreendedorismo. Têm de ter a consciência de que o vosso novo papel acarreta frequentemente coisas inesperadas a que não estão habituados, por vezes muito afastadas da vossa zona de conforto, ou da vossa área de especialização. A verdade é que, mesmo que pensem que têm tudo sob controlo, terão mesmo assim de ser honestos convosco: estão emocionalmente prontos para o desafio de serem empreendedores?

Estejam prontos para uma viagem na montanha-russa: vão iniciá-la com uma grande ideia e as pessoas vão começar por rejeitá-la. Depois, vão encontrar alguns clientes que não estão interessados na vossa oferta e o progresso abranda. As coisas dão de novo uma volta e de repente os clientes querem comprar o vosso produto, tornando-se necessário arranjar novos fornecedores ou reinvestir dinheiro no vosso negócio, ou ficam esmagados pela quantidade de trabalho – e assim por diante.

Uma das características mais importantes num empreendedor é ter resiliência. Os empreendedores precisam de ter uma atitude mental que seja capaz de lidar com mudanças constantes. Isso significa trabalhar sem horários, aos fins de semana e de noite; estar sempre alerta e ativo na criação de novos produtos ou serviços; ouvir as exigências dos clientes; adaptar-se a novos regulamentos; e manter a concorrência debaixo de olho.

Há algo que é uma constante na vida de um empreendedor: a mudança – quer seja a mudança do mercado, a mudança do enquadramento regulamentar, a mudança da procura do cliente, a mudança das expectativas dos empregados. E, se não forem resilientes e não estiverem prontos para lidar com a mudança, deverão reconsiderar o vosso desejo de se tornarem empreendedores.

Poderá chegar a encomenda de um grande cliente – mas não se entusiasmem e não fiquem a pensar que conquistaram o mundo, porque poderá tratar-se de algo a curto prazo. Por outro lado, se tiverem problemas com os vossos clientes ou com a vossa equipa, isso não se transformará necessariamente num desastre e não há necessidade de ficarem desesperados a pensar que a empresa irá subitamente fracassar. Nos negócios, há sempre algumas situações que não são fáceis nem agradáveis, como despedir alguém, informar um cliente que a encomenda não será entregue a tempo, ou lidar com outros empreendedores ou investidores que não estão ativamente envolvidos no negócio, mas que, apesar disso, exigem respostas a perguntas difíceis.

Se não gostam realmente de trabalhar pela noite dentro ou de viver com um sentimento de incerteza, ou não são suficientemente ativos para andar à procura de investidores, então talvez devam ponderar encontrar outra pessoa para liderar a empresa e poderão recuar para a posição de acionista, a qual poderá ser também muito compensadora. Quando as coisas não correm assim muito bem, ou até quando estão a correr mesmo bem, procurem um mentor para vos ajudar com o vosso processo de tomada de decisão, para que não sintam que toda a pressão vos cai em cima. Depois de terem lançado o vosso negócio com sucesso, a história não termina aí – são precisos muitos esforços para criar e manter clientes.

Terão de estar preparados para um trabalho duro, desafios constantes e uma baixa qualidade de vida durante o período inicial do projeto. Terão de possuir a estabilidade emocional suficiente para enfrentar muitos «não», mas também não pensem que todos os problemas desapareceram, ou que já não precisam de se preocupar, quando ouvem um «sim». Falem com outros empreendedores antes de iniciarem o vosso projeto, para pelo menos ficarem cientes dos potenciais desafios e, assim, evitarem surpresas.

EPISÓDIO STARTUP RISCO ZERO

A 10 de março de 2023, os clientes do Silicon Valley Bank perderam o acesso às suas contas bancárias e muitos recearam ter perdido tudo. Um amigo meu, CEO e fundador de um unicórnio com sede na área de São Francisco (EUA), tinha mais de 30 milhões de euros bloqueados no banco, sem poder pagar salários a 15 de março. Basicamente, tinha três dias para arranjar 30 milhões de euros para pagar salários, ou teria de solicitar um processo de falência ao abrigo do Capítulo 11 nos EUA, para se proteger contra os credores, apesar de a sua empresa ser muito lucrativa. Durante esse fim de semana, falou com muitos investidores e alguns deles concordaram em investir. Mas, na segunda‐feira, a Reserva Federal dos EUA garantiu todos os depósitos, por isso deixava de ser preciso ter investidores. Então, teve de contactar todos esses investidores para lhes dizer que já não tinha necessidade de dinheiro novo. Imaginam a montanha‐russa deste empreendedor? Estão prontos para viver a este elevado nível de emoção e incerteza?

Livro: "Startup Risco Zero"

Autor: Paulo Andrez

Editora: Bertrand Editora

Data de Lançamento: 24 de outubro de 2024

Preço: € 18,80

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Ser empreendedor significa ter o destino nas próprias mãos, o que pode ser também assustador. No entanto, ser-se empreendedor sem dúvida vale o risco, pois o benefício dos projetos empreendedores estende-se muito para lá do benefício recolhido pelos próprios empreendedores. O empreendedorismo é a força motora da sociedade e é um desafio constante, pois melhora e abala ao mesmo tempo a qualidade de vida de toda a gente, em todos os cantos do mundo.

Apesar das promessas feitas aos empreendedores, incluindo os esforços de muitos governos por todo o mundo, a realidade é que, em muitos casos, os empreendedores acabam por ter muito pouco apoio. Hoje em dia, toda a gente parece ser especialista em empreendedorismo, mas apenas uma pequena percentagem está em condições de apoiar os empreendedores com aconselhamento de qualidade e valor acrescentado. Infelizmente, entre esses falsos especialistas, contam-se muitas vezes representantes do setor público, que não conseguem compreender a verdadeira essência do apoio de que o empreendedor realmente precisa.

Existem milhares de eventos dedicados aos empreendedores por todo o mundo, mas quantos deles fornecem o adequado seguimento, deixando-os em vez disso entregues à sua própria sorte assim que o evento termina?

Testemunhei em tempo real as montanhas-russas de muitos ven- cedores de concursos de startups que, a princípio, ficavam eufóricos com a vitória, mas depois, nos dias seguintes, ficavam deprimidos porque não surgiam novos clientes, não havia novo dinheiro, etc.

Caros empreendedores, se desejam contribuir para moldar o mundo à vossa volta, adquirir o controlo da vossa vida, ser independentes, resolver problemas e criar soluções e empregos, não se esqueçam de primeiro reavaliar a vossa preparação emocional para a montanha-russa do empreendedorismo. Se ainda não estiverem prontos, terão de mitigar esse risco.

COMO ESTAR EMOCIONALMENTE PRONTO PARA INICIAR UM NEGÓCIO

Há três coisas que poderão fazer para estar emocionalmente preparados para iniciar um negócio:

Identificar e mitigar os principais riscos

Depois de identificarem os principais riscos que potencialmente impedirão o vosso negócio de ter sucesso, antes de o começarem, poderão então mitigá-los. A metodologia MEFLO ajudar-vos-á a lidar com esta questão. Se existir menos risco no vosso projeto, sentir-se-ão muito menos receosos e mais confiantes.

Plano B

No caso de as coisas correrem mal, o que vos acontecerá, às vossas finanças pessoais, à vossa reputação, etc.? Conseguirão criar e viver com um plano B que não afete dramaticamente a vossa vida se as coisas não correrem bem? Se for esse o caso, estarão praticamente prontos para começar o vosso negócio, a um nível pessoal e emocional.

Tentem sem qualquer risco!

Não há nada melhor do que experimentar uma coisa antes de a comprar! Idealmente, se houver a hipótese de experimentarem o vosso negócio antes de se empenharem nele, isso será uma ótima solução. Por exemplo, se forem o diretor executivo de uma empresa na mesma área de atividade do projeto que pretendem lançar, terão já vivido os principais problemas e estarão prontos para iniciar o vosso próprio negócio na mesma área de uma forma muito mais confiante. Neste livro, encontrarão algumas dicas para experimentarem o vosso negócio com um risco baixo ou mesmo nulo.

Poderão também iniciar o vosso negócio com uma versão limitada, num nível de atividade mais reduzido e, durante esse processo, ficarão familiarizados com os altos e baixos emocionais do negócio. Se acharem que não foi feito à vossa medida, poderão facilmente parar e não seguir em frente. Pelo contrário, se se sentirem emocionalmente confortáveis, estarão prontos para o nível seguinte.

Finalmente, é importante declarar que discordo por completo das pessoas que dizem que apenas é preciso ter coragem para começar um negócio. Pelo facto de muitas pessoas acreditarem neste disparate, correm riscos desnecessários e, em muitos casos, não só começam projetos que falham como ficam enredados numa teia de dívidas, que afetará as suas vidas durante décadas. A resiliência, a paixão e a mitigação do risco são elementos essenciais para uma jornada empreendedora bem-sucedida a nível emocional.

Se sentirem que estão emocionalmente prontos para encetar esta viagem empreendedora, então recomendo que leiam os dois próximos capítulos, nos quais tratarei das razões para iniciar um negócio e das desculpas mais comuns para não o fazer.

AÇÕES STARTUP RISCO ZERO

  • Falem com outros empreendedores para perceberem como gerem a montanha‐russa emocional.
  • Identifiquem e mitiguem os principais riscos do vosso negócio.
  • Criem um plano B.
  • Testem sem risco.

Se quiserem, poderão também recorrer à avaliação da preparação do empreendedor em: www.pauloandrez.com/tools.

(1) Um wantrepreneur refere-se em geral a um aspirante a empreendedor que sonha um dia ter o seu próprio negócio, mas que não toma qualquer ação significativa nesse sentido. Conceito semelhante ao de «empreendedor wannabe».

(2) Um empreendedor no interior de uma organização.