“O objetivo desta greve é permitir que os trabalhadores do Hospital de Cascais possam ter as mesmas condições de trabalho, os mesmos direitos que os trabalhadores das outras instituições de saúde da administração pública, nomeadamente as 35 horas, [para] aqueles trabalhadores que fazem 40 horas”, explicou à Lusa Ana Amaral, do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas (STFPSSRA).
A dirigente sindical referiu que outra reivindicação reside na “questão das carreiras mais dignas”, como a carreira de técnico auxiliar de saúde, “uma carreira especial enquadrada no Serviço Nacional de Saúde [SNS]” e que o respetivo diploma também prevê que seja aplicado “para os trabalhadores dos hospitais PPP [parceria-público-privada]”.
“O que acontece é que os trabalhadores ainda não transitaram para essa carreira e não nos parece haver vontade da parte da direção para que isso aconteça”, considerou Ana Amaral, acrescentando que no caderno reivindicativo consta ainda “questões salariais” e “da falta de pessoal, que é imensa” e “faz com que os trabalhadores vejam os seus horários alargados” muito “além das 40 horas”.
O sindicato, em comunicado, informou que a greve, entre as 8h de sexta-feira e a meia-noite de sábado, inclui uma concentração de trabalhadores às 10h à porta do Hospital de Cascais, no distrito de Lisboa.
A estrutura sindical reuniu-se com representantes da direção do hospital em agosto de 2023, para discutir os problemas dos trabalhadores, e perante o argumento de que desconheciam os assuntos solicitaram tempo para analisar as questões, comprometendo-se a reunir novamente na segunda quinzena de outubro, mas desde então remeteram-se ao silêncio.
“Os trabalhadores, visto que não há vontade da parte da direção para resolver estas questões e até para se sentar à mesa para discutir e negociar com o nosso sindicato, decidiram em plenário avançar com uma forma de luta, que é a greve”, salientou Ana Amaral.
Além da urgente negociação efetiva de um Instrumento de Regulamentação Coletiva de Trabalho, os trabalhadores exigem ainda “a integração do Hospital de Cascais no âmbito do SNS [Serviço Nacional de Saúde], assegurando todos os direitos aos seus trabalhadores, nomeadamente a contabilização do tempo de serviço para todos os efeitos legais”.
“O que nós também exigimos é realmente a reversão deste tipo de gestão para a esfera pública”, reforçou a dirigente sindical, salientando que “os trabalhadores veem as suas condições de trabalho mais agravadas pelo facto de ser uma parceria-público-privada”.
Para Ana Amaral, o mesmo já aconteceu com outras PPP que voltaram para “a esfera pública, nomeadamente o hospital de Vila Franca de Xira, e o hospital de Loures, e as condições de trabalho dos trabalhadores melhoraram substancialmente”.
A PPP do Hospital de Cascais foi gerida durante 14 anos pelo grupo Lusíadas Saúde, que desistiu do novo concurso, em 2022, por já não estar garantida a sustentabilidade económica, e entretanto foi adjudicada ao grupo espanhol Ribera Salud.
O bastonário da Ordem dos Médicos disse hoje que a situação que encontrou numa visita ao Hospital de Cascais é mais preocupante do que antecipava e que os problemas afetam serviços como a Neurologia, Medicina Interna, Urologia, Gastrenterologia, Urgência, Cardiologia, Pediatria e Radiologia.
Comentários