O São João é o profano. O São João são as sardinhas na brasa, são os balões no céu e o vinho nos copos. O São João são os foguetes a estalar e os corpos a dançar. O São João são os martelos a apitar nas cabeças alheias, alertando, no seu grito estridente, que é dia de festejar.
Faz agora um ano, porém, que este arsenal de festa tem ordens de estar arrumado. Se em 2020 as ruas estavam na sua maioria desertas e sombrias, hoje, à boleia do jogo que Portugal empatou com a França, a cidade deu mostras do outro tempo.
Não tem nada a ver com o São João do tempo antigo. Esteve, antes, mais próximo das imagens que, há umas semanas, os adeptos britânicos protagonizaram por causa da final da Champions.
Quando o jogo começou, às 20 horas, já os festejos oficiais do São João tinham terminado nos três pontos de diversão espalhados pela cidade. Aí, ao contrário do que tem acontecido todos os dias desde o início de junho, os carrosséis deixaram de dar voltas às 18 e já desde as 17:30 que ninguém podia entrar nos restaurantes dos recintos das Fontainhas, Lordelo do Ouro e Boavista.
Sem a festa do santo, inventou-se a festa da bola. Quando Cristiano Ronaldo marcou o segundo golo aos franceses, um rugido levantou-se nas esplanadas da Ribeira do Porto e do Cais de Gaia, entoando as celebrações som tal que, ainda com o sol a pintar de laranja os céus, vinham à cabeça as memórias do fogo de artifício que, oficialmente, este ano não aconteceu.
Quando o jogo terminou, aí sim, a festa arrancou. Tal como num São João normal, começaram a lançar-se fogos um pouco por todo o lado nas encostas do Douro. O vermelho e o verde a dominar, misturando o apuramento e o São João e a fadiga da pandemia que continua a existir, mesmo quando ninguém quer pensar nela.
Perto da meia-noite, na Cordoaria, o SARS-CoV-2 parecia suspenso. Grupos de pessoas, jovens e não só, segurando numa mão o martelo, na outra o copo, e no queixo (ou no braço — ou no bolso) a máscara, celebravam qualquer coisa. Encostada à parede da reitoria da Universidade do Porto, a PSP tinha três carros, incluindo duas carrinhas da Unidade Especial de Polícia, e vários operacionais, que observavam, à distância, o ajuntamento.
Fronteira ao edifício da reitoria da Universidade do Porto, também ali junto ao jardim da Cordoaria, a fonte dos Leões, que dá o nome popular à praça de Gomes Teixeira, tornou-se palco de uma festa de espuma. Crianças e jovens mergulhavam as mãos na espuma e espalhavam-na pelas cabeças uns dos outros, como um alho porro ainda mais efémero, que esvoaçava pelo ar, em fiapos grandes e pequenos.
A noite quente e sem vento não ajudou a conter a festa. E à meia-noite, quando as esplanadas começaram a encerrar, a PSP teve mesmo de “varrer” os festeiros. A tentativa de dispersar os ajuntamentos teve, contudo, apenas o efeito de os deslocar para outro lado.
Uma festa do gato e do rato
"Das pessoas que aqui estão, 60% serão portuenses e os restantes estrangeiros, sendo que uma parte são estudantes de Erasmus”, disse aos jornalistas o subcomissário Eduardo Alexandre, da PSP.
Num balanço feito pouco antes da meia noite, a PSP contava quatro autos de contraordenação por consumo de bebidas alcoólicas na via pública e três por falta de máscara até às 23:00.
"Muito provavelmente, no resto da noite, vai haver uma espécie de jogo do gato e do rato, com as pessoas a rumarem ao Passeio das Virtudes, depois à zona da Ribeira, sendo que vamos distribuir os nossos meios de acordo com aquilo que achamos vai acontecer", disse, citado pela agência Lusa.
O graduado da PSP do Porto admitiu estarem "à espera que pelas 02:00 as pessoas percebam que não vão ter muita sorte nos sítios para onde fugirem, pois irão encontrar lá a polícia".
"Temos praticamente todas as valências da PSP empenhadas neste evento, desde as equipas de Intervenção Rápida, as Forças de Reação Imediata, o Corpo de Intervenção", descreveu.
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