O Rei Carlos III, de 74 anos, foi proclamado imediatamente após a morte da mãe, Isabel II, a 8 de setembro, aos 96 anos e após 70 anos de reinado.
A coroação do rei de Inglaterra, a 6 de maio, contará com três dias de atividades. Carlos III e a Rainha Consorte, Camilla, serão coroados na Abadia de Westminster, numa cerimónia religiosa conduzida pelo Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, líder da Igreja Anglicana.
Olhando para o passado, sabe-se que a coroação de Isabel II aconteceu a 2 de junho de 1953, mais de um ano após ser proclamada, durou quase três horas e contou com 8.251 convidados, representantes de 129 países e territórios. Carlos III quer que agora seja diferente, estando previsto um evento mais sóbrio e moderno. Vejamos como.
Três dias de celebrações e um cortejo
O Palácio de Buckingham, a residência oficial da família real do Reino Unido, divulgou no final de janeiro os primeiros detalhes do programa oficial da coroação do rei, do qual fará parte um espetáculo de música, dança e luz e com a participação de "ícones mundiais da música", orquestras e um grupo coral multicultural e inclusivo.
Além da coroação propriamente dita, a 6 de maio, está previsto ainda um "Grande Almoço da Coroação", de rua, no domingo, dia 7 de maio, enquanto no dia 8, que deverá ser declarado feriado nacional, é feito o apelo aos britânicos para que se envolvam em iniciativas de voluntariado e beneficência.
Os detalhes mais recentes sobre a cerimónia da coroação indicam que a mesma será mais breve — apenas uma hora — e menos complexa do que a de Isabel II, prevendo-se que comece às 10h00 de sábado, 6 de maio.
Sabe-se também já qual será o percurso e as carruagens reais utilizadas, de acordo com informação divulgada pela família real. Um vídeo nas redes sociais ajuda a resumir a informação.
Assim, "na manhã da Coroação, Suas Majestades vão viajar do Palácio de Buckingham, na Procissão do Rei, para a Abadia de Westminster, no Diamond Jubilee State Coach — que foi criado em 2012 para o Jubileu de Diamante da Rainha Isabel II", é referido.
Esta procissão vai ser acompanhada pela escolta do Sovereign's Escort of the Household Cavalry e vai passar pelo Mall, Admiralty Arch e pela Praça Trafalgar, descendo Whitehall e ao longo da Rua do Parlamento até à Abadia de Westminster.
Coroado o rei, a a Procissão de Coroação sai da Abadia de Westminster para o Palácio de Buckingham pelo mesmo percurso e "contará com Forças Armadas de toda a Commonwealth e dos Territórios Britânicos Ultramarinos, e todos os serviços das Forças Armadas do Reino Unido".
Nesse momento, "Suas Majestades vão viajar no Gold State Coach, que foi encomendado em 1760 e utilizado pela primeira vez pelo Rei Jorge III para viajar para a Abertura do Parlamento do Estado em 1762". Além disso, esta é a carruagem que "tem sido utilizada em todas as Coroações desde a de Guilherme IV em 1831".
E a festa não se faz sem música. Além da mais tradicional, haverá novas composições, sobretudo uma criada especialmente para a ocasião por Andrew Lloyd Webber, idealizador de musicais lendários como "Cats" e "Evita".
Londres já começa a preparar-se para o evento, com as ruas a serem decoradas para o momento da coroação.
Quem foi convidado?
Estão previstos 2.000 convidados. Ainda que não se conheça a lista final para a coroação de Carlos III, já se sabe que a Abadia de Westminster vai receber líderes políticos, monarcas e representantes da sociedade civil que retratam a diversidade do Reino Unido.
Entre eles estarão membros da família real britânica, incluindo os mais jovens. O príncipe George, de 9 anos, o mais velho dos três filhos do príncipe William e Kate, será um dos quatro pajens a acompanhar o Rei.
Vários outros membros da realeza já confirmaram presença, como o príncipe Albert de Mónaco e o príncipe Fumihito e a sua esposa, Kiko, da família imperial japonesa.
Do lado de Camilla, sabe-se que parte da sua família, fruto de seu primeiro casamento com Andrew Parker Bowles, também está incluída na lista — o que foi visto como uma tentativa de retratar uma imagem moderna de família. Assim, a coroação terá a presença dos seus dois filhos, Tom Parker Bowles e Laura Lopes. Três dos seus netos, Gus, Louis e Freddy, estarão entre os pajens que a acompanharão, juntamente com o seu sobrinho-neto Arthur.
Embora sejam esperados vários líderes europeus, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, "informou" o Rei, numa conversa telefónica, que será representado pela sua esposa, Jill Biden. De acordo com autoridades britânicas e americanas, esta decisão está de acordo com o precedente, já que nenhum presidente dos EUA jamais compareceu à coroação de um soberano britânico.
A Casa Branca insistiu que a ausência de Biden, conhecido pelas suas raízes irlandesas, "não é uma desconsideração", já que o presidente e o Rei têm um "bom relacionamento" e Biden aceitou o convite de Carlos III para fazer uma visita de Estado ao Reino Unido.
Por sua vez, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e os chefes de Estado de França Emmanuel Macron, da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, da Polónia, Andrzej Duda, e das Filipinas, Ferdinand Marcos Jr, já confirmaram presença.
O presidente brasileiro, Lula da Silva, também vai estar na coroação.
Também foram convidados representantes de instituições sociais e um adolescente que ficou famoso por dormir numa tenda no seu jardim durante três anos para juntar dinheiro para uma unidade de saúde mental.
E Harry e Megan?
Após as polémicas que envolvem Harry e Megan, pairava a dúvida sobre a presença do casal, que foi morar nos Estados Unidos em 2020 e mantém relações tensas com a família real. A questão agitou a imprensa britânica após a exibição da série documental na Netflix e a publicação da biografia de Harry em janeiro.
A 12 de abril, as dúvidas terminaram. "O Palácio de Buckingham tem o prazer de confirmar que o duque de Sussex comparecerá ao serviço de coroação na Abadia de Westminster, a 6 de maio. A duquesa de Sussex permanecerá na Califórnia com o príncipe Archie e a princesa Lilibet", foi referido em comunicado.
Em março, soube-se que o convite tinha sido enviado, mas não havia ainda uma resposta da parte de Harry e Megan.
Recorde-se que Harry fez uma aparição surpresa em Londres no final de março para uma audiência contra um jornal, mas nenhum reencontro com a sua família foi tornado público.
Segundo a imprensa britânica, o casal e o palácio real estão também em diálogo sobre as suas funções ou a gestão da sua segurança.
Uma Cadeira com mais de 700 anos
A Cadeira da Coroação, na Abadia de Westminster, "ocupa o centro das atenções durante as cerimónias de coroação há mais de 700 anos e será utilizada para o serviço religioso a 6 de maio".
Num vídeo publicado nas redes sociais da Abadia, a conservadora Krista Blessley explicou como é que a cadeira está a ser cuidada antes de ser usada novamente ao fim de quase 70 anos — e diz ser "um privilégio" ser responsável por este trabalho, já que é uma peça que faz parte "da história do país".
"É um exemplo requintado de artesanato medieval, muito poucos sobreviveram até aos dias de hoje. É importante ser-se extremamente delicado quando se trabalha na cadeira, porque é muito frágil e sensível", nota.
Assim, o trabalho desenvolvido é essencialmente de "conservação" do que existe e não tanto de restauro, de forma a evitar os efeitos do tempo.
Depois de uma limpeza deste objeto, uma coisa é essencial: a cadeira tem de ser "estável e estar o melhor possível" para o dia da coroação de Carlos III.
Diamante polémico fora da festa
O diamante Koh-i-noor não vai ser usado na coroação do rei Carlos III, o que permite à coroa britânica contornar a polémica sobre esta pedra preciosa, que remete para o período colonial.
De acordo com o Palácio de Buckingham, no dia da coroação, a Rainha Consorte, Camilla, vai modificar e usar uma coroa que pertenceu à rainha Maria (1910-1936) em vez da coroa de Isabel II na qual está incrustrado o controverso diamante Koh-i-noor.
O Kok-i-noor é considerado um dos maiores diamantes do mundo e foi oferecido à Rainha Victoria, depois da anexação da região de Punjab, na fronteira entre Paquistão e Índia, em 1849, e permanece desde então entre as joias da coroa britânica.
A sua propriedade tem já sido reclamada pela Índia, Paquistão, Irão e Afeganistão.
Segundo o Palácio de Buckingham, a residência oficial da família real do Reino Unido, a Rainha Consorte, Camilla, optou por readaptar uma coroa antiga, por questões de “sustentabilidade e eficiência”.
Contudo, a BBC escreveu até que surgiram algumas preocupações de um possível incidente diplomático com a Índia caso este diamante fosse usado na coroação.
Uma coroa valiosa (e um emoji)
O Palácio de Buckingham informou que foi criado um emoji inspirado na coroa de Santo Eduardo, do século XVII, que Isabel II usou na sua cerimónia de coroação, em 1953, assim como será feito pelo seu filho.
O emoji vai acompanhar as mensagens publicadas no Twitter com as hashtags #Coronation, #CoronationBigLunch, #TheBigHelpOut e outras semelhantes.
Mas voltemos à coroa real. Segundo informação disponibilizada sobre as joias da família real, sabe-se que esta é "a mais importante e sagrada de todas as coroas", sendo apenas usada no momento da coroação.
A parte em ouro maciço pesa 2,23 kg, ao qual acresce as pedras semipreciosas com que é adornada. Esta coroa foi feita para a coroação de Carlos II, de forma a substituir a coroa medieval derretida pelos parlamentares em 1649, após a execução do rei Carlos I.
Além desta coroa, outras joias da família real vão marcar presença nas cerimónias, bem como os objetos considerados sagrados associados à monarquia britânica, como é o caso da colher da coroação — o objeto mais antigo em uso, tendo sido registada pela primeira vez em 1349 —, usada para o santo óleo da unção, consagrado na Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, em março. Também serão usados o orbe e o cetro, que simbolizam os poderes do rei.
Rainha Consorte ou só rainha?
De Princesa Consorte a Rainha Consorte e, em breve, "Rainha Camilla". É assim que a mulher do Rei britânico Carlos III é designada no convite oficial para 6 de maio.
Apesar de no convite o termo "Consorte" ter sido abandonado, na publicação nas redes sociais da Família Real continua a ser utilizado, o que confirma as suspeitas de que tudo iria mudar apenas depois da coroação.
De recordar que, durante anos, o Palácio de Buckingham evitou responder à chamada "pergunta da Rainha", relativa à forma como Camilla seria conhecida quando Carlos ascendesse ao trono, conta o The Guardian. Em fevereiro do ano passado, a Rainha Isabel II deixou claro o seu desejo de que a nora usasse o título de Rainha Consorte .
Fonte do Palácio explica ao jornal britânico a atual escolha. "Faz sentido referir-se a Sua Majestade como a Rainha Consorte nos primeiros meses do reinado de Sua Majestade, para distinguir de Sua Majestade a Rainha Isabel II".
"'Rainha Camilla' é o título apropriado para fazer par com 'Rei Carlos' no convite. A coroação é um momento apropriado para começar a usar o título de forma oficial, já que todas as ex-rainhas consortes são conhecidas como 'Rainha' seguido do primeiro nome", evidencia a mesma fonte.
Quanto ao convite, este foi "desenhado por Andrew Jamieson" e inclui o "Homem Verde, uma figura antiga do folclore britânico, simbólica da primavera e do renascimento, para celebrar o novo reinado", é explicado na publicação nas redes sociais.
"As armas de Suas Majestades, as flores emblemáticas do Reino Unido e um prado de flores silvestres e vida selvagem britânica" foram também incluídos no desenho, "pintado à mão em aguarela e guache". Na versão impressa será utilizado "cartão reciclado, com detalhes em folha de ouro, para os 2.000 convidados".
James Bond vai à coroação?
Pode dizer-se que sim, já que o lendário agente britânico James Bond está numa corrida contra o tempo para salvar a coroação de Carlos III. É esta a narrativa de um novo romance a ser publicado pouco antes da cerimónia.
O autor e ator Charlie Higson foi contratado para escrever o livro, no qual Bond deve desmantelar os planos do excêntrico Athelstan de Wessex para sabotar a luxuosa cerimónia de coroação na Abadia de Westminster, informou a Ian Fleming Publications.
Este novo livro, que começará a ser vendido a partir de 4 de maio, dois dias antes da coroação de Carlos III, terá como título "On His Majesty's Secret Service" (“A Serviço Secreto de Sua Majestade”, em tradução literal), versão no masculino do título que Fleming deu ao seu décimo romance, publicado a 1 de abril de 1963, "On Her Majesty's Secret Service", em referência à rainha Isabel II.
“Quando a Ian Fleming Publications me propôs a ideia de escrever uma história de Bond para adultos há pouco mais de um mês, emocionei-me, até que me dei conta de que tinha de estar pronta para a coroação em maio”, disse Higson.
Higson prometeu o cocktail habitual de "sexo, violência, carros, um vilão excêntrico com capangas desagradáveis e, claro, o próprio Bond".
Os lucros obtidos com as vendas do livro serão destinados ao National Literacy Trust, que contribui para a alfabetização de crianças com necessidades.
Uma quiche real
Depois do "frango da coroação", o famoso frango escalfado que foi servido na coroação de Isabel II em 1953, Carlos e Camilla anunciaram que a receita escolhida para o grande dia é uma quiche de espinafres, favas, estragão e queijo cheddar.
Segundo a chef que prepara a receita, é um prato que se "adapta facilmente a diferentes gostos e preferências" e que "pode ser comido quente ou frio, com uma salada verde e batatas cozidas".
Quem quiser pode também experimentar fazer a quiche em casa, uma vez que a receita foi divulgada:
Ingredientes para a massa:
- 125g de farinha
- Sal
- 25g de manteiga
- 25g de banha (ou outro ingrediente semelhante)
- 2 colheres de sopa de leite
Recheio:
- 125ml de leite
- 175ml de creme de leite
- 2 ovos médios
- 1 colher de sopa de estragão fresco picado
- Sal e pimenta
- 100g gramas de queijo cheddar ralado
- 180g de espinafres cozidos
- 60g de feijão ou soja cozida
Carlos III, que há décadas defende a ecologia e o meio ambiente, optou assim por uma receita vegetariana. Resta agora saber se a quiche terá tanto sucesso quanto o "frango da coroação", que se tornou desde então um clássico da gastronomia britânica: hoje em dia pode ser encontrado como prato preparado em supermercados, como recheio de sanduíches e a receita está em diversos livros de culinária.
Relíquias doadas pelo Papa Francisco
O Papa Francisco enviou dois fragmentos da "Vera Cruz" — a que se diz ter sido usada para crucificar Jesus Cristo —, um com 5 milímetros e outro com 1 centímetro, para serem usados na cerimónia da coroação de Carlos III.
Esses fragmentos foram moldados numa pequena cruz e incorporados na cruz de prata cerimonial, sendo visíveis através de uma gema de cristal rosa.
O arcebispo do País de Gales, Andrew John, abençoou a nova Cruz de Gales perante dignitários e fiéis num serviço religioso realizado em Llandudno, no norte do país, a 19 de abril.
*Com agências
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