“É preciso reconhecer que a Rússia ganhou na Geórgia”, afirmou o chefe de Estado ucraniano num encontro com jornalistas em Reiquiavique, na Islândia, do qual publicou hoje um vídeo nas suas redes sociais.

Zelensky, que não comentou as acusações de fraude denunciadas pela própria Presidente georgiana, Salome Zurabishvili, associou a vitória do partido pró-russo Sonho Georgiano à ocupação russa de parte do território da Geórgia desde 2008.

“No início, ocuparam parte da Rússia, depois mudaram a política, mudaram o governo e agora há um governo pró-russo, posições pró-russas”, frisou Zelensky.

O líder ucraniano acrescentou, referindo-se ao governo georgiano, que “a opção é a amizade com a Rússia e não em ir em direção à UE [União Europeia]”.

Zelensky referiu ainda que “se os países ocidentais não mudarem a retórica sobre as linhas vermelhas, perderão a Moldova dentro de um ano ou dois”.

A Ucrânia criticou repetidamente os países ocidentais por respeitarem certas linhas vermelhas estabelecidas pela Rússia, por exemplo, ao não lhe permitir atingir alvos militares na Rússia com mísseis enviados para esse país ou ao deixarem de garantir a adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Zurabishvili, pró-europeia, afirmou hoje que “não tem qualquer intenção” de pormenorizar as suas acusações ao Ministério Público sobre a alegada fraude nas eleições legislativas, nas quais o partido no poder foi declarado vencedor.

Além de afirmar a violação do direito de voto secreto nos locais com votação eletrónica, a governante acrescentou que mais de mil pedidos de anulação dos votos em 246 assembleias já tinham sido remetidos para a Comissão Eleitoral Central (CEC).

Apesar do estatuto de imunidade, a Presidente da Geórgia é obrigada a comparecer para ser interrogada, podendo solicitar a presença de um juiz e não do Ministério Público.

O Ministério Público da Geórgia tinha anunciado a abertura de uma investigação sobre a alegada fraude nas eleições legislativas, convocando a Presidente a pormenorizar as suas acusações.

De acordo com a comissão eleitoral, o partido no poder, com o qual Bruxelas congelou as negociações de adesão à UE devido à sua aproximação à Rússia, venceu as eleições com 53,92% dos votos.

A oposição acusa o Sonho Georgiano, do oligarca Bidzina Ivanishvili, de aproximar a Geórgia da Rússia e de a afastar de uma possível adesão à UE e à NATO, dois objetivos consagrados na Constituição do país.

A Presidente já se tinha recusado a reconhecer os resultados e apelou aos georgianos para que protestem nas ruas.

O primeiro-ministro, Irakli Kobakhidze, descreveu, por sua vez, a vitória do Sonho Georgiano como “impressionante e óbvia”, considerando que “qualquer tentativa de falar sobre manipulação eleitoral está condenada ao fracasso”.

A missão de observação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) destacou a boa organização das eleições, mas denunciou “muitos casos de coação” dos eleitores e “frequentes violações do sigilo do voto”, entre outras possíveis irregularidades.