A centralização dos direitos audiovisuais foi “uma das chaves de sucesso” do crescimento do futebol espanhol e da Liga espanhola. Javier Tevas, presidente da LaLiga, veio a Oeiras, à Soccerex Europe, falar sobre a enorme transformação que a competição profissional que organiza assistiu nos últimos anos.

Adiantando que os valores “triplicaram em 5 anos”, chama a atenção para o facto de que “os direitos existem porque há pessoas que pagam o produto em casa. O futebol não paga às televisões”, adiantou ao SAPO24, à margem da sua intervenção.

“Os direitos individuais criaram desequilíbrios maiores na competição”, recorda. Questionado sobre o modelo vigente em Portugal, em que os “três grandes” assinaram contratos milionários por 10 anos, Tebas, embora se tenha escudado no facto de que essa questão deve ser direcionada para a Liga portuguesa, avisa que esta medida “aumenta as assimetrias” e que, embora, esteja “seguro que o argumento utilizado foi que os outros não valiam mais”, essa foi a mesma desculpa anteriormente utilizada “em Espanha e em Itália”. Deixa, por isso, um alerta: “Portugal está a ir a outra velocidade no mundo do futebol”.

O nivelamento nos pagamentos pelas transmissões televisivas leva a mudanças na competitividade. “Se recuarmos cinco anos nada fazia prever que a contratação mais cara do campeonato espanhol fosse o Atlético de Madrid (João Félix). Há 5 anos, não podia pagar os passes dos jogadores e tinha que recorrer aos fundos de investimento - Thrid Party Ownership (partilha de direitos económicos de jogadores entretanto proibidos pela UEFA e FIFA) – para ter jogadores. E agora têm a contratação mais cara. Porquê? Por causa da transformação do futebol espanhol”, assinalou. “O Atlético recebia 48 milhões de euros quando negociava sozinho. Agora tem 110 milhões vendendo em conjunto”, completou.

E para essa mudança contribuiu igualmente o facto de ter a “capacidade para chegar às meias-finais e finais da Liga dos Campeões”, ao que acrescem “as receitas do novo estádio com 60 mil pessoas a cada jogo”. É assim que, em cinco anos, o “orçamento salta de 80 para 400 milhões de euros”, explica.

Para o presidente da LaLiga, o facto de existirem equipas com capacidade para adquirir um jogador por 120 milhões e outros só terem capacidade para gastar 1 milhão “não é problema” para a instituição que dirige. “Haverá sempre grandes clubes e pequenos clubes. É um mal menor”, considerou.

“O importante é que a classe pequena e média tenha capacidade de manter talento e ter uma liga competitiva”, adiantou. “Na Liga espanhola, não me preocupa que o Real Madrid ou o Barcelona ganhem a Liga sempre. O que me preocupa é que ganhem com muitos pontos diferença: 97 pontos no ano passado. É nisso que temos que trabalhar”, frisou. “Ganhar com 67 pontos significa que perderam e empataram muitas partidas. E que as outras equipas se aproximaram”, rematou.

Numa Liga que tem procurado internacionalizar-se, os jogos fora de Espanha, “entre clubes pequenos e outros”, é uma possibilidade a desenvolver, tal como aconteceu com a Supertaça. A internacionalização passa também pela contratação de jogadores dos mercados asiáticos. “Há grandes jogadores na China. Wu Lei (Espanhol de Barcelona) é um grande jogador e não é qualquer clube espanhol que tem essa capacidade. Foi o melhor na Liga chinesa, na Liga dos Campeões Asiática”, relembrou. Na apresentação que antecedeu a conversa com o SAPO24, Tebas recordou que o jogo de estreia de Wu Lei, contra o Villarreal, em fevereiro passado, foi visto por “40 milhões de chineses” através de plataformas online.

Voltamos ao ponto de partida. A televisão e os jogos televisionados. Respondendo à velha polémica levantada por adeptos sobre o calendário dos jogos, Javier Tebas, presidente de LaLiga defendeu que o “futebol às 2ª feiras é fundamental. Para os espectadores-adeptos”. Esse é o dia da semana “com mais gente a frente da televisão na Europa e com um milhão de espanhóis a verem futebol. São 2 mil que deixam de ir ao estádio, mas 1 milhão que vê na televisão. As partidas às 2ª feiras afetam 3% da assistência”, sublinhou. “O que teremos de fazer agora? Procurar mais adeptos em todo o mundo que pagam. Há muita demagogia ...”, avisou. “Em seis anos, as assistências, jogando às 2ª feiras, cresceram 25%. E as audiências triplicaram na televisão. Este ano, teremos mais 5% de assistência”.

Para o final deixou um recado interno, diz que a LaLiga é uma liga muito complicada, "até mais que a Champions". Tebas admitiu "que os clubes querem ganhar tudo... estamos acostumados a ganhar muitas coisas". No entanto, "há muitos boas equipas na Europa. Podemos passar um tempo que é difícil".