Segundo o professor da Escola Superior de Desporto de Rio Maior e coordenador da licenciatura de Gestão das Organizações Desportivas Alfredo Silva, as perdas para a indústria do futebol, na qual inclui “clubes, SADs, ‘media’, fornecedores de marketing, eventos, alimentação, equipamentos” e outros, são “muito elevadas”.

Pelas contas do docente universitário, o “impacto global” de uma paragem de um mês, por exemplo, será “superior a 40 milhões de euros”, em números estimados a partir de uma observação do fluxo económico das SAD de Benfica, FC Porto e Sporting.

O especialista em marketing desportivo e diretor executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) Daniel Sá divide em três cenários as possibilidades de impacto da pandemia.

Por um lado, segundo explicou à Lusa, um em que “a Liga não chega a terminar”, outro em que a Liga “é retomada de uma forma ou outra, com um ‘play-off’ ou outra solução intermédia”, e um terceiro em que se consegue “terminar a época com todos os jogos restantes”.

Salvaguardando que “o impacto é muito diferente consoante cada um destes cenários”, a possibilidade de terminar todos os jogos restantes na I Liga mostra uma tendência “negativa, mas bastante reduzida”, prevendo-se até “mais adesão de público, por ter estado tanto tempo afastado”.

Os outros dois cenários dão lugar a previsões “mais complicadas”, porque os clubes “mantêm praticamente todos os custos e perderam quase todas as receitas”, a começar pela bilheteira.

Com mais de 3,5 milhões de espetadores em 2018/19, o que equivale, pelas contas de Daniel Sá, a um rendimento de 80 milhões de euros de bilheteira, na parte remanescente do campeonato, por agora suspensa, há aí a fatia “mais interessante”, uma vez que são “jogos decisivos”.

Assim, estima o especialista, a perda pode chegar a “um quarto das receitas de bilheteira, que estão concentradas na fase final”.

Mas se na bilheteira pode existir "uma perda real mensal de 4,3 milhões de euros", os valores sobem muito mais quando se fala de transmissões televisivas, especialmente para FC Porto, Benfica e Sporting.

Com o campeonato parado, não só os adeptos não podem marcar presença nos estádios, como não conseguem assistir às partidas em casa, através da televisão.

Nesse cenário, e assumindo uma paragem de um mês, as perdas com a distribuição televisiva das partidas, bem como outros conteúdos relacionados, originariam "uma perda de 17 milhões de euros" para os três clubes.

O outro eixo de perdas possíveis prende-se com os patrocínios e outros contratos de publicidade, que podem "ser mitigadas" para os clubes, mas acabam por afetar mais "as empresas e marcas patrocinadoras".

"Os contratos poderão ser renegociados, facto que pode originar [para os clubes] perdas mensais de seis milhões de euros", acrescenta o docente universitário.

Se Daniel Sá considera que o problema se estende também aos direitos de transmissão, que deverão ser renegociados, e a patrocinadores “de Liga, federação e clubes”, Alfredo Silva concorda que a área “designada ‘commercials'”, que inclui alugueres, os museus e venda de produtos licenciados e publicidade, vai sofrer, podendo chegar a “perdas mensais de nove milhões de euros”.

“O ‘merchandising’ não tem tanta expressão em Portugal, mas é uma fatia no meio de tudo isto. Com as lojas fechadas, as vendas caem. Por outro lado, há as transferências de jogadores, porque sem jogos os jogadores não valorizam, e o mercado está condicionado”, atira Daniel Sá.

O docente universitário no IPAM realça ainda que o mercado português enquanto “vendedor” de futebolistas está ameaçado por “esta crise que afeta toda a gente”, porque “todos os clubes europeus terão menos dinheiro”.

Daniel Sá alerta ainda para os riscos “de desemprego, de redução salarial e renegociação” de condições contratuais, ainda que veja esta, também, como uma oportunidade para “repensar algumas coisas no futebol”, como o excesso de competições e o “televisionamento a mais” dos jogos, porque diz não saber “se o mercado aguenta tanto”.

O novo coronavírus surgiu na China, em dezembro de 2019, mas o surto espalhou-se por todo o mundo, tendo levado a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Inicialmente alguns eventos desportivos foram disputados sem público, mas, depois, começaram a ser cancelados, adiados – entre os quais se destacam os Jogos Olímpicos Tóquio2020, o Euro2020 e a Copa América – ou suspensos, nos casos dos campeonatos nacionais e internacionais de todas as modalidades.