A pandemia, provocada pelo novo coronavírus, foi uma verdadeira aceleradora da transição do mundo real para o mundo virtual. As reuniões deixaram de acontecer presencialmente para passarem a ocorrer em plataformas de videoconferência, aulas de ginásio passaram a acontecer online, o menu do restaurante foi substituído pelo scroll numa aplicação de entrega de comida ao domicílio, entre tantos outros exemplos. Nos últimos dois anos, este aumento da nossa presença no digital colocou nas conversas e nos jornais uma palavra que se tem vindo a tornar cada vez mais recorrente: metaverso.
O termo foi descrito pela primeira vez pelo autor de ficção científica Neal Stephenson no romance "Snow Crash", no qual os seres humanos, com avatares digitais, interagem num mundo virtual em três dimensões. O metaverso de que hoje tanto se fala parte do projeto de Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, quando este alterou o nome da empresa para Meta Platforms. Zuckerberg apresentou uma visão incorporada da Internet, na qual as interações são enriquecidas, seja entre pessoas ou entre o utilizador e anúncios ou videojogos, por exemplo.
Esta é vista como a próxima fronteira da tecnologia, onde a visualização de conteúdo é substituída pela interação com o mesmo, um universo onde as pessoas podem socializar, jogar, viajar ou fazer compras.
O entusiasmo com o crescimento do metaverso está a ser tal que são várias as grandes empresas que estão a aventurar-se, de franquias de jogos como Fortnite, a gigantes tecnológicas como a Microsoft. Recentemente, o investidor de ativos digitais Tokens.com comprou um terreno virtual na plataforma Decentraland metaverse por 2,4 milhões de dólares em criptomoedas. Um valor que talvez tornará menos chocante a projeção da Bloomberg para o valor do metaverso em 2024: 800 mil milhões de dólares.
A indústria hoteleira não é alheia a isto e já entrou no metaverso. O passo mais mediático, até ao momento, foi dado pelo Marriott Bonvoy, o programa de fidelidade da Marriott International, que se juntou a três artistas digitais, TXREK, JVY e Erick Nicolay, para criar três Non-Fungible Tokens (NFTs) — tokens não fungíveis, em português —, tornando-se assim numa das primeiras cadeias de hotéis a criar os seus próprios NFT’s, tokens criptográficos que representam algo único e que podem ser negociados na blockchain, muitas vezes denominados de “chave” para o metaverso.
Os NFT’s em causa são inspirados na campanha do Marriot, “Power of Travel” [Poder de Viajar] feita para a rede social TikTok.
Este é sem dúvida um primeiro passo, mas ainda muito aquém do que a hotelaria e o metaverso podem vir a oferecer aos clientes. A grande expectativa é que os hotéis deixem de só se apresentar através de fotografias e críticas nas plataformas mais conhecidas, como a Booking ou a Tripadvisor, para passarem a oferecer uma experiência imersiva dos seus espaços aos avatares dos futuros hóspedes.
Imagina-se a escolher o hotel para as próximas férias ou viagem de trabalho com base num passeio do seu avatar pelos espaços do alojamento? Acredita-se que esta mudança passe a dar muito mais confiança aos clientes na escolha do hotel.
Além disso, aponta-se que o metaverso poderá levar à redução de pessoal, fisicamente, nos hóteis e a uma reformulação da força de trabalho, com as reservas e gestão das mesmas a passar a acontecer em backoffice no metaverso.
Outro dos pontos em que este mundo poderá ajudar os hotíis é no aluguer de espaços destinados a reuniões de trabalho ou a eventos, com o avanço tecnológico a diminuir as barreiras entre quem está fisicamente no espaço e quem poderá participar através do metaverso.
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