O Amor nos Tempos de Coronavírus

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Um dia vão escrever-se romances tendo como pano de fundo os dias de hoje. Esta é uma constatação tão óbvia como qualquer outra (afinal de conta, todas as épocas são reencarnadas na literatura). Mas falo especificamente deste início de 2020.

Será uma história que terá a atual epidemia do coronavírus — Covid-19, para sermos exatos — como elemento dramático numa qualquer trama amorosa gizada pelo seu criador.

Ao contrário da famosa obra de Gabriel García Márquez, será o Coronavírus e não a Cólera o problema a erradicar, não serão trocadas cartas por correspondência e o autor provavelmente não escreverá a sua narrativa ao estilo do realismo mágico, a não ser que queira fazer uma reatualização (ou um trabalho arqueológico) dessa corrente.

Mas isso é o futuro, falemos do presente.

A epidemia segue sem ainda mostrar sinais de abrandamento, mesmo que até já tenha acontecido anunciar-se números mais pesados do que a realidade veio a demonstrar e que o contínuo aumento de vítimas mortais “não significa” que a epidemia em si “esteja a aumentar”.

Dado o potencial infeccioso do Covid-19, são cada vez mais os eventos a serem adiados ou cancelados por questões de segurança, não só devido à concentração de pessoas, mas pelo facto de muitos dos participantes poderem vir de países sob alerta vermelho. Tendo em conta que o coronavírus afeta cada vez mais a normalidade global, mesmo em locais onde não se manifestou, o SAPO24 foi perguntar a quem sabe se é necessário tomar tantas precauções assim.

Portugal é um desses países onde ainda não houve casos positivos confirmados, mas isso não quer dizer que o coronavírus não continue a gerar sobressaltos.

  • Somou-se hoje um sétimo caso suspeito de um portador da doença, uma criança que veio da China e que agora se encontra internada no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa. Ao final da tarde desta sexta-feira, veio a revelar-se negativo.
  • Em vésperas dos 20 cidadãos repatriados de Wuhan saírem do seu isolamento — deverá acontecer amanhã, depois de serem submetidos a novas análises —, soube-se hoje que duas estudantes do Instituto Politécnico de Bragança, que foram à China celebrar o Ano Novo Chinês com a família, vão cumprir um período de 14 dias de quarentena quando regressarem a Portugal.

A ameaça do vírus vai permanecendo, mas tal não deve tornar-se impeditivo de vivermos a vida como ela deve ser vivida, com amor.

Essa foi a grande temática deste dia, e se ontem falei dos aspetos mais perniciosos desse sentimento, hoje destaco uma das suas virtudes mais frutuosas, a forma como germina a criatividade. Foi por isso que o SAPO24 partilhou os textos resultantes da iniciativa literária “O Primeiro Capítulo”, podendo lê-los aqui. Para além disso, mostrámos a forma como o amor resiste perante a guerra, converte os mais resistentes e manifesta-se das mais diversas formas.

Mas se o Dia de São Valentim é um pretexto para abordar as questões do amor com maior abnegação, isso não quer dizer que não possa partilhá-lo de outras formas. É por isso que lhe fazemos uma série de sugestões para este sábado:

  • No Teatro São Carlos, em Lisboa, dá-se a estreia mundial da "Sinfonia (des)concertante". Criada por Ana Seara, esta obra é interpretada pela primeira vez num concerto com direção musical de Pedro Neves, o concerto conta com a participação do Coro do Teatro Nacional de São Carlos e da Orquestra Sinfónica Portuguesa.
  • Também em Lisboa vai ocorre um concerto dos Resistência. A banda, que assinalou recentemente o seu 25.º aniversário, vai dar um concerto no Culturgest, onde não vão faltar clássicos.
  • A oeste da capital, Zeca Pagodinho traz a sua "Roda de Samba" para o Casino Estoril. Com mais de 35 anos de carreira, aquele que é considerado um dos melhores sambistas e uma verdadeira estrela da música popular brasileira traz na bagagem antigos sucessos da sua carreira, assim como músicas do recém-lançado e 24.º álbum “Mais Feliz”.
  • Já no Porto, Devendra Banhart faz o seu retorno a Portugal, aproveitando o cantor e compositor norte-americano de ascendência venezuelana apresenta o seu mais recente disco, “Ma”. O espetáculo vai acontecer no Hard Club.
  • Se é de um musical o que procura, em Ílhavo vai estrear o espetáculo "Could Be Worse: The Musical", o mais recente trabalho e primeiro musical da parceria entre o Teatro Cão Solteiro e André Godinho. Com música original de PZ e música original adicional de Rodrigo Vaiapraia, Could Be Worse: The Musical tem texto de José Maria Vieira Mendes, coreografia de Sónia Baptista e Gonçalo Egito. Vai a cena na Casa da Cultura de Ílhavo.
  • Ou talvez seja dança o que deseja. Em Guimarães dá-se a apresentação das coreografias "A Sagração da Primavera" e "Henri Michaux: Movements". O espetáculo está a cargo de Marie Chouinard, bailarina e coreógrafa canadiana com mais de 40 anos de carreira, sendo apresentado no âmbito da 10.ª edição do GUIdance- Festival Internacional de Dança Contemporânea, no Centro Cultural Vila Flor.

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