Um (novo) aviso, uma nega e uma postura histórica
Depois de alguns dias em que se verificou uma relativa diminuição dos casos registados de Covid-19 — o que, não servindo de grande consolo, ao menos significava um atraso do agravamento —, o boletim de hoje voltou a pôr o país em sentido, tendo como única virtude não ser a pior data de sempre da pandemia em Portugal.
Com 2.535 novas infeções registadas — a umas meras 73 de atingir os 2.608 casos de 16 de outubro — e com renovadas subidas do número de internados, os alertas voltaram a soar no país, materializados pela voz de Diogo Serra Lopes.
"Vivemos um momento de grande preocupação com a evolução da pandemia", admitiu o secretário de Estado da Saúde, apesar de manter os mesmos pedidos de “serenidade” que se têm repetido nos últimos dias.
Continuando a garantir que o SNS se mantém capaz para aguentar o choque desta segunda vaga, o governante concedeu, porém, que “o aumento de casos verificado nas últimas semanas coloca e continuará a colocar uma pressão significativa sobre todo o sistema de saúde e, em particular nesta fase, sobre a saúde pública" e que já foram estabelecidos contactos junto do Ministério da Defesa para que este providencie apoio caso seja necessário.
Este não está a ser um bom mês de outubro, onde já se registaram a maioria dos piores dias da pandemia em Portugal, e o próprio governo não descarta a possibilidade do número ascender aos 4.000 casos diários num futuro próximo.
Também por isso, desdobram-se as ações na tentativa equilibrar a vida do país entre as liberdades possíveis — como ficou patente na confirmação de que será permitida lotação máxima de 27.500 espetadores no GP de Portugal de Fórmula 1 — e as medidas de contenção — como a redução da presença de público no Sporting de Braga-AEK, que irá contar para a Liga Europa.
Hoje, o foco esteve na região do Vale do Sousa, onde a subida dos casos tem assumido contornos preocupantes, em particular nos concelhos de Paços de Ferreira, Felgueiras e Lousada — este dois últimos que, recordemos, foram o ponto zero da chegada da pandemia a Portugal —, o que valeu uma visita de António Costa e outros membros do executivo à região para reunir com os autarcas do território.
Mantendo a mesma postura que tem defendido desde que se começou a verificar o agravamento da pandemia em Portugal, o chefe do executivo, apesar do aumento dos casos no território, disse que "não está em causa uma cerca sanitária, nem um confinamento obrigatório", mas sim “medidas que visam conter a expansão da pandemia, que tem origem em contágios eminentemente resultantes do convívio social”. Essas medidas, todavia, ficaram no segredo dos deuses, sendo apenas sugerido que serão implementadas nos próximos dias.
O governo mantém a confiança de que será capaz de debelar o avanço da Covid-19, mas somam-se as vozes críticas. Desta vez, foi a bastonária dos farmacêuticos a defender, à saída da reunião com o Presidente da República, que o país falhou a preparação do período de outono-inverno, uma postura secundada por Rui Rio, que acusou o executivo de ter sido incapaz de criar condições para resistir à segunda vaga da pandemia, alertando que a economia pode voltar a parar mesmo sem decisão política.
Esse não foi, porém, o destaque da intervenção do presidente do PSD que decorreu esta tarde, recaindo as atenções na revelação de que os sociais-democratas vão votar contra o Orçamento do Estado para 2021.
Na raiz da sua decisão, justificou Rio, está o facto de António Costa já ter dito anteriormente que “o seu projeto é com o PC e com o BE e que, no momento em que precisasse do PSD para aprovar o Orçamento, o seu governo terminava”.
“Ora assim sendo, se o Orçamento é mau, se não combate o desemprego, se não apoia as empresas e até dificulta, se distribui o que tem e o que não tem, se não dá sinais à classe média, se tem défice de transparência, se pré-anuncia um orçamento retificativo por ter receita sobrestimada, se nada faz pela reforma da administração pública para combater o desperdício e ineficiência e se o voto do PSD não serve nem para evitar uma crise política, o PSD então só pode votar contra, porque esse é que é o único voto coerente com aquilo que devemos fazer”, defendeu. A decisão, de resto, já mereceu repúdio da parte do PS.
Na prática, o que isto significa — prevendo-se que o CDS-PP, a IL e o Chega também votarão contra — é que o documento só poderá ser aprovado do PAN para a restante ala esquerda da Assembleia da República, sendo que as relações se mantém tensas. Depois das reuniões de ontem, e apesar do governo considerar que fez as aproximações necessárias às exigências do BE, PCP e PAN, tanto bloquistas como comunistas mantém o “nim” no ar.
Se a aprovação do Orçamento teima em manter-se em duras negociações fechadas, registe-se então uma abertura histórica hoje registada.
O Papa Francisco referiu hoje pela primeira vez — na qualidade de sumo pontífice — que os casais homossexuais devem ser protegidos pelas leis da união civil, durante uma entrevista para o documentário "Francesco", que se estreou no Festival de Cinema de Roma.
“Os homossexuais têm o direito a ter uma família. Eles são filhos de Deus", disse Francisco numa das suas entrevistas para o filme, frisando que “ o que temos de ter é uma lei da união civil. Dessa forma, eles estão legalmente cobertos".
A ideia, note-se, não é nova da parte de Francisco — já o tinha dito enquanto arcebispo de Buenos Aires, mas não como Papa — e não irá alterar a doutrina da Igreja no que toca aos direitos dos homossexuais no seio da organização quanto ao casamento — mas pelo mero peso da posição que agora ocupa, poderá ser uma posição a criar ondas de choque.
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