Não nos iludamos, a palavra do momento (ainda) é confinamento
Depois de semanas atrás de semanas a contabilizar novos máximos de casos de infeção e de óbitos por covid-19 — juntando-se a isso trocas de acusações quanto à responsabilidade da situação pandémica e recriminações várias — as notícias que vão avolumando à medida que fevereiro se aproxima do fim anunciam boas perspetivas para março.
Hoje foi registado o mais baixo valor de mortos pela pandemia desde o início do ano, 66, e o número de infeções também continua a baixar. O índice médio de transmissibilidade não mente: está nos 0,66, o que representa uma tendência de redução de novos casos em todas as regiões do país — a 11 de janeiro estava nos 0,77.
Com a situação a normalizar-se a pouco e pouco e a afastar-nos do epíteto de “pior país do mundo” a gerir a pandemia, como aconteceu no início do ano, é difícil não nos deixarmos invadir com a vontade súbita de sair de casa. As coisas já não estão assim tão más, não é? A história da pandemia, porém, diz-nos que esse pensamento deve ser combatido com elevadas doses de prudência. O que caracteriza as vagas é justamente o facto de estas irem e virem.
O sinal político tem vindo a ser repetido por várias figuras do Governo. António Costa já o tinha dito na última vez que apresentou as medidas do estado de emergência, ontem foi Mariana Vieira da Silva a dizer que “ainda estamos muito longe de números que permitam começar a avançar para a concretização de um desconfinamento em breve” e hoje foi a vez de António Lacerda Sales replicar o discurso.
“É prematuro falar em desconfinamento, o que queremos assegurar é que todos nós possamos seguir as regras e fazermos um confinamento seguro", disse o secretário de Estado Adjunto e da Saúde à margem da cerimónia de entrega de viaturas da Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra a seis municípios.
Não se arriscando grandes futurologias, é seguro ao menos dizer-se que o Governo dificilmente quererá repetir um cenário como o pós-festividades no final de 2020, pelo que é bom que nos habituamos a esta política de gato escaldado até que a pandemia termine, seja lá quando isso for.
O caso não é exclusivo a Portugal, sublinhe-se: hoje Emmanuel Macron também comunicou que "ainda é cedo" para decidir os próximos passos da França e os Países Baixos querem manter o recolher obrigatório, não obstante a oposição de alguns setores da população.
O que é certo é que tão cedo nos livramos da covid-19, até porque, como tem sido repetido, o processo de vacinação encontra-se mais atrasado que o desejado, o que até levou à alteração do plano inicial de vacinação. O dia foi iniciado com a notícia de que as forças de segurança e bombeiros passaram a ter menos prioridade, conforme confirmou o novo coordenador da ‘task force’, Henrique Gouveia e Melo, e mais tarde o próprio António Lacerda Sales.
Tudo seria mais fácil se tivéssemos a nossa própria vacina, o que até é possível, mas só em 2022. A confirmação veio da Immunethep, laboratório sediado em Cantanhede, que, entretanto deixou uma ressalva: esse prazo só vai ser atingido se o Estado abrir os cordões à bolsa.
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