A Associação Portuguesa de Empresas de Bioindústria (P-BIO) organizou, com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, a iniciativa "P-BIO Pledge 4 COVID", com o objetivo fomentar a participação das startups portuguesas na área das Bioindústrias na plataforma de cooperação mundial “Global Response to COVID-19", lançada a 24 de abril.

Vejamos, então, o que está a ser feito em Portugal.

Ao nível dos diagnósticos:

TonicApp

Daniela Seixas, CEO da TonicApp, começou por referir que "a missão da TonicApp é ajudar os médicos no seu dia-a-dia profissional, resolvendo 90% dos seus problemas", deixando os restantes para "outros sistemas de informação e para contextos hospitalares nesta missão".

A TonicApp junta "tudo o que são recursos profissionais úteis para os médicos e para os seus doentes", tendo neste momento "recursos diretamente clínicos", como algoritmos" que são um dispositivo médico, e ainda áreas que permitem o diagnóstico, tratamento e referenciação de casos. Por outro lado, a CEO explicou que a startup apresenta também recursos que "não são diretamente clínicos", mas apoiam o médico em várias áreas, desde a pesquisa de congressos à apresentação de notícias de saúde ou à procura de emprego na área.

Neste momento, um em quatro médicos em Portugal utilizam este sistema, o que perfaz um total de 13 mil profissionais. A startup já opera também em Espanha, sendo a app utilizada por 3 mil médicos desse país, e está a expandir os seus serviços para Itália e França.

No que diz respeito especificamente ao combate à covid-19, a TonicApp teve de se adaptar às necessidades dos médicos durante a pandemia. Assim, "foram incluídos conteúdos específicos para o contexto, que tiveram uma maior consulta nos meses de março e abril", indica Daniela Seixas. Contudo, em maio, os números têm estado a descer, centrando-se agora os médicos nos outros conteúdos, nomeadamente na procura de emprego (um aumento de 9% para 21%).

Para perceber melhor as necessidades dos médicos, a TonicApp fez um inquérito onde tentou obter a opinião dos utilizadores sobre as telemonitorizações e teleconsultas, sendo que 76% dos inquiridos respondeu ver uma mais-valia neste método. Neste sentido, a startup está a fazer uma parceria com a Knok, especialistas em videoconsultas, para ter este recurso disponível na plataforma.

Heart Genetics

Ana Teresa Freitas, CEO da Heart Genetics, empresa que trabalha na área da saúde digital e da genética humana, referiu que o seu trabalho se tem centrado em três áreas principais: cardiovascular, farmacogénetica e saúde e bem-estar.

A empresa, por operar num laboratório, teve de adaptar a sua atuação durante a pandemia. "Recebemos amostras e, mesmo não sendo amostras covid, podem estar contaminadas", indicou a CEO. Para acautelar esta situação, os profissionais da Heart Genetics trabalham com equipamentos de proteção individual ao manusear o que recebem.

No contexto da pandemia, a Heart Genetics começou a viver um momento "dramático", uma vez que "as pessoas deixaram de ir fazer consultas, deixaram de adquirir exames e os laboratórios pararam tudo o que não era covid". Para reagir a esta realidade foi preciso adaptar o trabalho, tendo sido desenvolvida, em parceria com a Biocant, "uma infraestrutura para responder ao diagnóstico covid", disse Ana Teresa Freitas.

Por outro lado, tendo em conta que "se fala muito no défice de vitamina D nos doentes que entram nas urgências, especialmente em situações mais severas", Ana Teresa Freitas diz que Heart Genetics aproveitou o conhecimento da genética portuguesa para perceber os impactos do fator no país, tendo como comparação os casos de Espanha e Itália. Contudo, ainda está a ser aprovado o financiamento para avançar com o projeto.

Ao nível dos produtos terapêuticos e vacinas:

ImmuneThep

Bruno Santos, CEO da ImmuneThep, começou por explicar que esta empresa se baseia na criação de vacinas e anticorpos, apresentando uma "visão disruptiva em relação a como controlar infeções bacterianas", olhando "não para a bactéria que causa o problema, mas para o sistema imune não é capaz de dar resposta a essa problema"- Desta forma, indica o responsável, este processo permite ver como as bactérias enganam o sistema.

Neste sentido, a ImmuneThep criou uma plataforma que "permite focar em vertentes preventivas e terapêuticas, em diferentes tipos de hospedeiro", sendo que o humano é "o mais importante" para o trabalho que desenvolvem, sublinha Bruno Santos.

O primeiro produto apresentado é uma imunoterapia, criada "para dar resposta a infeções bacterianas multi-resistentes": uma vacina que permite atacar cinco bactérias diferentes, todas elas relevantes em termos de infeção bacteriana. O próximo passo serão os ensaios clínicos. Devido às suas especificidades, pode ser uma vacina ideal para países em desenvolvimento.

Quanto ao combate ao novo coronavírus, o CEO da ImmuneThep refere que esta é a oportunidade de pôr em cima da mesa tudo o que a empresa tem vindo a alertar até aqui: "é preciso prevenir, é preciso levar vacinas, o sistema imune é a base para tudo isto". Assim, foi preciso ver se fazia sentido "usar os conhecimentos de imunologia e de vacinas".

"Em termos de imunidade, embora o vírus seja bastante contagioso, temos uma percentagem relativamente baixa da população que até agora foi infetada, o que faz com que a forma de sairmos disto seja mesmo através de uma vacina", disse Bruno Santos.

A ImmuneThep tem também conseguido perceber que o coronavírus "é controlado, ou seja, há um controlo da infeção bastante rápido" e que o desenvolvimento de anticorpos em reação a este vírus "demonstra uma forma de proteção que a vacina poderá dar", referiu ainda o seu CEO

Desta forma, a empresa trabalha agora numa vacina que possa cobrir todas as linhagens do novo coronavírus — mesmo nos casos com ligeiras variações. Até ao final deste ano, a ImmuneThep quer ter os testes pré-clínicos feitos em animais, para que em 2021 possa testar em humanos, havendo já uma parceria com uma empresa norte-americana para a produção.

Crioestaminal

André Gomes, da Crioestaminal, começou por explicar que a empresa é mais conhecida por ser "um banco de células estaminais de recém-nascidos, do sangue e do tecido do cordão umbilical". Contudo, há uma outra área de atividade: a investigação.

Neste âmbito, dada a pandemia do novo coronavírus, a Crioestaminal pensou em formas de poder ajudar, "primeiro na área do diagnóstico e com o laboratório de biologia molecular". No entanto, depois de, no início de março, ter saído um artigo que mostrava que as células estaminais estavam a ser usadas com sucesso na China para o tratamento da covid-19, abriu-se assim a porta para o que podiam fazer.

Neste momento, são já vários os ensaios clínicos com células estaminais. Na China, há já um grupo com mais de 150 doentes tratados, ainda à espera de resultados, aparentemente positivos. Nos Estados Unidos, Irlanda, Espanha, Itália e Reino Unido também estão a ser feitos ensaios.

Assim, as células estaminais funcionam como uma "droga, uma terapia celular", sendo atraídas para as áreas onde é preciso atuação, ajudando "a diminuir a hiperinflamação", disse André Gomes.

A Crioestaminal decidiu, portanto, criar células que permitissem o combate à covid-19. Utilizando os laboratórios já existentes, certificados pelo Infarmed, a empresa produziu, a 1 de maio, a primeira dose de 100 milhões de células, "a indicada nos estudos a administrar por paciente". Neste momento, a empresa está a validar a certificação do processo e, à partida, as células estarão disponíveis a 15 de junho, podendo ser requeridas pelo SNS. Nessa altura, haverá uma capacidade de produção de 5 a 10 doses por semana.

Vários grupos em Itália já solicitaram células à empresa portuguesa, para um ensaio clínico.

Janssen

Manuel Salavessa, da Janssen, uma multinacional farmacêutica, referiu que estes tempos são "extraordinários, onde cada um é desafiado a dar o melhor", encontrando respostas o mais rápido possível.

A Janssen, do grupo farmacêutico da Johnson & Johnson, tem estado a trabalhar "num desenvolvimento acelerado da vacina para a covid-19", mencionou Manuel Salavessa, adiantando que a empresa também olha para uma "biblioteca de moléculas para ver se alguma tem um componente antivírico" que possa ajudar a solucionar a pandemia.

Relativamente à vacina, o responsável da Janssen refere que "este é um processo moroso, até ter autorização de mercado", que por vezes ronda os 10 e os 15 anos, de modo geral. Todavia, para o novo coronavírus, está-se a tentar que a vacina chegue ao mercado no prazo de apenas um ano.

A empresa, tendo conhecimento do vírus em Wuhan, começou o desenvolvimento da vacina no mês de janeiro. Em apenas dois meses, foi possível ter uma candidata a vacina, entrando na fase pré-clínica de testes em roedores e primatas, para que seja possível chegar aos testes em humanos antes de setembro. Assim, a Janssen pretende, no início de janeiro de 2021, ter vacinas para utilização de emergência.

A primeira fase de ensaios clínicos vai ser realizada num país europeu — por definir — e nos Estados Unidos, mas a ideia é que Portugal possa ser também um candidato numa fase posterior. Para isso, tudo depende do estado da pandemia nos diferentes países.

Ao nível dos dispositivos médicos:

CEiiA

O CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento está a desenvolver o Atena, um ventilador médico invasivo. Apesar deste centro não ter qualquer experiência em dispositivos de saúde, te, uma equipa com competências para o seu desenvolvimento, e Tiago Rebelo, o seu diretor, indicou que, ao fim de 61 dias de trabalho, o ventilador já está a ser produzido.

Em primeiro lugar, começou Tiago Rebelo,  foi preciso tentar perceber "o que é que a comunidade médica de facto pretendia, qual seria o equipamento que traria mais benefícios do que riscos"; "quais eram os parceiros" que poderiam ajudar no desenvolvimento e, por fim, "perceber quais seriam os parceiros em Portugal" para a concepção do equipamento, de forma rápida.

O projeto juntou os engenheiros do centro de engenharia e desenvolvimento de produto a intensivistas, pneumologistas, anestesistas e internistas de hospitais públicos e privados do norte e sul do país e a Escola de Medicina da Universidade do Minho para conceber e desenvolver um novo ventilador que apoie o combate à covid-19.

O ventilador já foi testado em animais e, se aprovado pelo Infarmed, será testado em humanos já na próxima semana. Neste momento estão já produzidas 100 unidades do Atena, prontas para serem distribuídas por vários hospitais se verificadas as condições necessárias. Numa terceira fase, a produção poderá chegar a lotes de 750 unidades.

"O equipamento foi feito de forma a ser robusto e a poder ser produzido em Portugal, mais de 50% dos conteúdos são produzidos em empresas portuguesas, permitindo alimentar a nossa economia", concluiu o diretor do CEiiA.

Sword Health

Antes de abordar a forma como a sua empresa pode ajudar no combate à covid-19, André Santos, cofundador da Sword Health, começou por explicar que a área da fisioterapia não teve uma evolução significativa nos últimos 60 anos e que empresa pretende mudar essa realidade. 

O que a empresa quer é que em vez de ser o doente a deslocar-se até ao centro de fisioterapia, possa ser tudo feito em casa, através de um kit com sensores e um tablet, com acompanhamento do fisioterapeuta por videochamada. Ora, neste contexto de pandemia, o conceito de tele-reabilitação também pode ser aplicado. Neste caso, não houve a "necessidade de reinventar e empresa", defendeu André Santos, uma vez que já nasceu com o conceito de trabalhar à distância, mas algumas situações tiveram de ser adaptadas.

Com o início da propagação do vírus, as sessões de fisioterapia também tiveram de ser canceladas, pelo que a Sword Health se apresenta aqui como uma forma de garantir os tratamentos. Por isso, foram feitas triagens para perceber o que os doentes precisavam e enviados os kits para que os exercícios pudessem ser realizados em casa.

Desta forma, em cerca de dois meses, a empresa triplicou o número de doentes apoiados, só relativamente a sinistrados de trabalho, associados a uma seguradora nacional.

Além disso, a empresa viu na pandemia outra oportunidade. Com o aumento do teletrabalho, as pessoas queixam-se cada vez mais de dores musculares e, com a tecnologia da Sword Health, esse é um problema que pode ser combatido. "Por causa do sedentarismo e de não terem condições em casa, as dores nas costas são um dos problemas. Assim ajudamos a que possam ser produtivas quando voltarem ao trabalho", justificou André Santos.

Com a covid-19, surgiu também uma outra área a trabalhar: a terapia respiratória. "15% das pessoas que são assintomáticas vão desenvolver problemas pulmonares", pelo que a Sword Health apresenta soluções para ter acesso a reabilitação.

Matera

Carlos Faro, em representação da Matera, referiu que a tecnologia desenvolvida pela empresa permite dotar superfícies de "capacidade antimicrobiana".

Numa mesma nanopartícula, existe atividade "antibacteriana, antifúngica e antivírica", sendo que estas componentes não representam um problema ambiental. Ao longo dos anos, a Matera foi desenvolvendo várias aplicações em diferentes materiais, desde metais até madeira, que podem ser utilizados em corrimãos ou puxadores, "sobretudo em zonas públicas onde há grande contacto", refere Carlos Faro.

A tecnologia, "que era muito boa mas o mercado nunca quis comprar", viu agora uma oportunidade com a pandemia, indicou o representante da Matera. Em 2019, ao fim de 10 anos de existência, a empresa não tinha quaisquer receitas, tendo tido até duas rondas de investimento. Agora, "está a ser inundada com propostas de parcerias" e teve até já propostas de compra.

Novo coronavírus SARS-CoV-2

A Covid-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, é uma infeção respiratória aguda que pode desencadear uma pneumonia.

A maioria das pessoas infetadas apresenta sintomas de infeção respiratória aguda ligeiros a moderados, sendo eles febre (com temperaturas superiores a 37,5ºC), tosse e dificuldade respiratória (falta de ar).

Em casos mais graves pode causar pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. Contudo, a maioria dos casos recupera sem sequelas. A doença pode durar até cinco semanas.

Considera-se atualmente uma pessoa curada quando apresentar dois testes diagnósticos consecutivos negativos. Os testes são realizados com intervalos de 2 a 4 dias, até haver resultados negativos. A duração depende de cada doente, do seu sistema imunitário e de haver ou não doenças crónicas associadas, que alteram o nível de risco.

A covid-19 transmite-se por contacto próximo com pessoas infetadas pelo vírus, ou superfícies e objetos contaminados.

Quando tossimos ou espirramos libertamos gotículas pelo nariz ou boca que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo. Estas gotículas podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada. Por sua vez, outras pessoas podem infetar-se ao tocar nestes objetos ou superfícies e depois tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos.

Estima-se que o período de incubação da doença (tempo decorrido desde a exposição ao vírus até ao aparecimento de sintomas) seja entre 2 e 14 dias. A transmissão por pessoas assintomáticas (sem sintomas) ainda está a ser investigada.

Vários laboratórios no mundo procuram atualmente uma vacina ou tratamento para a covid-19, sendo que atualmente o tratamento para a infeção é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam.

Onde posso consultar informação oficial?

A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.

Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral da Saúde.