A obra inclui o trabalho poético da multipremiada escritora nascida em Lisboa há 66 anos desde “Minha Senhora de Quê” (editado em 1990) até ao mais recente “Mundo” (lançado no ano passado).
O lançamento de “O Olhar Diagonal das Coisas” decorreu na Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, onde Ana Luísa Amaral conversou com Luís Caetano, da Antena 2.
“A verdade é que qualquer novo poema, ou conjunto de poemas, altera o todo-em-curso. E todos os poemas exigem nova leitura”, salienta a professora catedrática jubilada da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Maria Irene Ramalho no posfácio.
O livro abre com dedicatórias à filha, Rita (“o olhar, o mundo, o amor – tudo”), e a Maria Irene Ramalho, a quem Ana Luísa Amaral mostrou, “com grande vergonha”, alguns poemas, em 1989.
“Ela perguntou-me de quem eram. E eu disse: ‘São meus.’ Disse-me que eram muito bons e pediu-me mais. Depois, escreveu num postalzinho o seguinte: ‘A Ana Luísa é mesmo poeta’, assim sublinhado. Fiquei encantada. Era uma coisa tão importante para mim! Foi ela que insistiu que eu tinha de publicar”, contou a poeta, numa entrevista partilhada na página da Porto Editora.
Desde o primeiro livro, publicado um ano depois, recebido como “uma voz genuinamente original”, como recorda Maria Irene Ramalho, a poesia de Ana Luísa Amaral viu o seu impacto medir-se também “pela sua rápida e espantosa internacionalização”, de que será testemunho a atribuição do Prémio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana, no ano passado.
“O Olhar Diagonal das Coisas” surge em título depois de constituir o segundo verso do poema “Amendoins”, primeiro publicado no livro “Epopeias”, de 1994.
Maria Irene Ramalho destaca, já no final do posfácio, que o trabalho feito por Ana Luísa Amaral na sua poesia, como o que surge em “Escuro”, de “desconstrução do discurso da história imperial portuguesa”, continua a ser necessário: “A lucidez de ‘Escuro’ canta a portuguesa história nossa, que sempre na escola nos deixaram por contar”.
“Não sabiam,/os que viviam felizes nas margens do Nilo,/da chegada daqueles que os haviam de reduzir/a quase escombros”, escreveu Ana Luísa Amaral em “Entre mitos: ou parábola”.
Aquando da edição de “Mundo”, Ana Luísa Amaral afirmou à Lusa que “a poesia não tem de ter mensagem nenhuma” e criticou a “galeria de diferentes verdades” que “extremaram” as discussões “a um ponto insuportável”.
Na sua poesia reconhece, não necessariamente uma voz, já que acha que “são vozes diferentes”, mas uma “tonalidade”, que “tem a ver, talvez, até com intensidade”.
“Eu acho que [essa intensidade] falta muito a muita poesia que eu conheço hoje em dia”, disse, na altura.
Olha para os dias em curso e encontra “uma profundíssima ignorância que corre hoje”, numa era em que “as pessoas vivem muito deste mundo virtual – do Twitter, Instagram, Tiktoks –, e tudo é tomado como verdade. Depois são as frases que chegam, em vez de chegar o escritor que se lê”.
Para a escritora, “a poesia não tem de ter mensagem nenhuma”. O que tem de haver “é a paixão pela língua e pelo que os outros escreveram. Todo o escritor é um leitor. Sempre”.
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