O canto coletivo sem recurso a instrumentos típico do Alentejo foi classificado pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade a 27 de novembro de 2014, graças a uma candidatura apresentada pela Câmara de Serpa e pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo.
Graças à classificação, o cante, "um dos principais ativos" e uma "expressão tão particular do povo alentejano, ganhou uma dimensão enorme" e o Alentejo, "por sua vez, acabou por ganhar um novo fator de atratividade", diz à agência Lusa o presidente da Câmara de Serpa, Tomé Pires.
Já o presidente da Turismo do Alentejo e Ribatejo, António Ceia da Silva, refere que as classificações atribuídas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a bens do Alentejo, como o cante, "têm dado um aporte muito importante para a promoção e a afirmação do Alentejo como destino turístico".
A questão da identidade é uma das apostas da estratégia da Turismo do Alentejo, porque "o turista quer destinos identitários e distintivos", e o cante tem "um peso muito forte a nível identitário" para a região, explica Ceia da Silva.
As pessoas gostam de ir ao Alentejo porque "tem uma identidade e uma força cultural únicas" e, neste aspeto, "o cante alentejano ajudou claramente no processo de afirmação do destino", frisa, referindo que o trabalho à volta da identidade da região, no qual o cante tem "uma forte expressão", tem influenciado o crescimento do número de turistas.
Tomé Pires e Ceia da Silva fazem um balanço "muito positivo" dos três anos de classificação do cante alentejano, com o autarca a frisar que "andámos muito" para a conquistar, "mas valeu a pena, está a valer a pena".
"Sobretudo porque está criado um movimento para a salvaguarda do cante alentejano", que ganhou "força, rejuvenescimento e motivação", o que "leva à questão da responsabilidade que temos de manter toda esta dinâmica, porque não podemos baixar os braços e ainda há muito, mas muito trabalho a fazer", sublinha o autarca.
Segundo Tomé Pires, a classificação da UNESCO trouxe "reconhecimento, prestígio, afirmação, reforço da autoestima, interesse, motivação" ao cante, o que é "evidente em vários níveis", nomeadamente na investigação e na "crescente procura" do cante em muitas atividades e interpretações artísticas, no turismo e no "interesse em visitar o Alentejo, percorrer as rotas do cante, provar os petiscos, partilhar experiências e conhecer a história e o património" da região.
"Havia um cante antes e passou a haver um cante depois da classificação, com mais força, dinâmica e impacto", refere Ceia da Silva, considerando também que "há muito a fazer e muito que vamos fazer [Turismo do Alentejo e outras entidades da região] em conjunto" para salvaguardar o cante, que "bem merece".
Neste sentido, a Câmara de Serpa e a Turismo do Alentejo estão a gerir a implementação do plano de salvaguarda do cante, que fez parte da candidatura e inclui orientações genéricas para desenvolvimento de projetos por várias entidades para salvaguardar, valorizar, promover e transmitir às novas gerações o cante alentejano.
Segundo Tomé Pires, a Câmara de Serpa tem vindo a sensibilizar entidades e grupos corais do Alentejo para a realização de ações enquadráveis no plano e para a importância da promoção, da transmissão e da sustentabilidade do cante.
No caso de Serpa, o município promove há 12 anos o ensino do cante em escolas básicas do concelho, criou a Casa e a Rota do Cante e o certame Cante Fest e, em parceria com a Direção Regional de Cultura do Alentejo, está a trabalhar na criação do Museu do Cante.
Já a Turismo do Alentejo está a preparar roteiros, guias e vendas específicas do destino Alentejo junto de operadores turísticos com base nos bens da região classificados como Património da Humanidade, refere Ceia da Silva.
Por outro lado, a Câmara de Serpa e a Turismo do Alentejo também têm um plano específico que pretendem executar nos próximos anos e prevê várias ações, como criação de roteiros e casas de cante.
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