"As minhas mais sinceras e humildes desculpas", começou por dizer Rogan num vídeo de quase seis minutos publicado no Instagram, observando que foi "a coisa mais lamentável e vergonhosa que tive de expressar publicamente".
O podcaster, comediante e comentador de UFC, de 54 anos, reconheceu que o Spotify tirou do ar um episódio do seu podcast no qual ele mencionou um filme ambientado em um bairro negro dizendo que "era como se estivéssemos no 'Planeta dos Macacos'".
O jornal "New York Times" informou hoje que até 70 episódios do podcast "The Joe Rogan Experience" já tinham sido removidos do Spotify. A plataforma não respondeu ao pedido de comentário feito pela AFP.
Rogan reconheceu que o seu uso da palavra "nigger" (um termo ofensivo para se referir a uma pessoa negra) por 12 anos "é horrível". "Inclusive para mim", disse.
As ações do Spotify tiveram uma queda acentuada na bolsa na última quinta-feira devido à controvérsia a envolver o programa de Rogan, que tem 11 milhões de ouvintes, e vários artistas que anunciaram a retirada da sua música da plataforma.
Entre os artistas que se posicionaram contra Rogan encontram-se Neil Young e Joni Mitchell, sendo que outros lhes seguiram o caminho.
Em causa está o programa do comediante Joe Rogan, o “The Joe Rogan Experience”, considerado atualmente como o podcast mais popular dos Estados Unidos.
Vale referir que este podcast é um exclusivo Spotify, depois da plataforma ter assinado com Rogan por 100 milhões de dólares (89,6 milhões de euros, à taxa de câmbio atual).
O que é este “The Joe Rogan Experience”? É um podcast de conversas longas, onde o comediante traz amigos e convidados, entre os quais outros comediantes, atores, músicos, lutadores de MMA, escritores, entre outros.
E o que causou tantos "anticorpos" a este programa? A covid-19. O podcast tem sido criticado por promover teorias da conspiração sobre o coronavírus e incentivar a não vacinação.
Uma carta assinada por 270 médicos e cientistas norte-americanos advertia há algumas semanas o Spotify de que estava a permitir a difusão de mensagens que afetavam a confiança pública na investigação científica e nas recomendações sanitárias.
Em resposta, o Spotify prometeu medidas para combater a desinformação sobre a covid-19. Quais? “Estamos a trabalhar para agregar um aviso de conteúdo a qualquer episódio de um ‘podcast’ que inclua uma discussão sobre a covid-19”, disse o presidente executivo da plataforma de música e de programas pré-gravados, Daniel Ek, em comunicado, no qual detalha os padrões de divulgação da empresa.
“Tem havido muita conversação sobre informação relativa à covid-19 no Spotify. Temos escutado as críticas e estamos a implementar mudanças para ajudar a combater a desinformação”, garantiu, reconhecendo todavia que, apesar de ter regras para a produção de conteúdos, estas não foram “transparentes” para que pudessem ser conhecidas por todos.
“Lançamos vários recursos educativos e campanhas para criar consciencialização e desenvolvemos e promovemos um centro de informação global de covid-19”, rematou o presidente executivo do Spotify.
O responsável conversou com funcionários “desapontados ou revoltados” com as declarações de Rogan, e garantiu que a Spotify assinou um contrato de exclusividade, no valor estimado de 100 milhões de dólares (cerva de 89,6 milhões de euros), e que a plataforma não tem “controlo editorial” sobre o ‘podcast’.
"Há muitas coisas que Joe Rogan diz que eu discordo fortemente e considero muito ofensivas", admitiu, segundo a transcrição de uma reunião, divulgada pelo portal The Verge.
O próprio Joe Rogan já reagiu à polémica. Num vídeo de nove minutos publicado no Instagram, o comediante disse que a sua intenção nunca foi promover a desinformação.
"Não estou a tentar promover a desinformação. Não estou a tentar ser controverso. Nunca tentei fazer nada mais com este podcast que não fosse falar com pessoas e ter conversas interessantes", disse.
Num vídeo em que lamentou que o Spotify tivesse sido colocado numa posição complicada por causa do seu podcast, Rogan garantiu que vai tentar equilibrar a balança, entre convidados mais e menos controversos, para poder oferecer uma perspectiva mais mainstream. Disse ainda que em tópicos mais complicados vai fazer por estar munido com informação relevante nestas conversas.
"Eu quero poder mostrar todo o tipo de opiniões, de forma a que consigamos todos perceber o que se passa, e não apenas sobre covid-19, mas sobre tudo, seja saúde, fitness, bem-estar ou o estado do mundo", disse o comediante.
Apesar de se retratar como alguém que só quer ter conversas interessantes, Rogan contesta algumas questões, alegando que mudanças na opinião científica — como sobre a eficácia das máscaras comunitárias ou as origens do vírus — podiam ter sido vistas no passado como desinformação e, logo, banidas da Internet. "Muitas das coisas que pensávamos ser desinformação há pouco tempo são agora aceites como factos", argumentou.
Entre os seus controversos convidados estiveram o cardiologista Peter McCullough, que considera que as vacinas contra a covid-19 são "experimentais" ou o virologista Robert Malone, que foi banido do Twitter por desinformação. "Estas duas pessoas têm credenciais reconhecidas, são muito inteligentes e bem-sucedidas, mas tem uma opinião diferente daquela que é veiculada pela maioria", defendeu. Da mesma forma, salientou, esteve à conversa com Sanjay Gupta, um neurocirurgião e correspondente da CNN para temas de saúde, que é um defensor da vacinação ou da utilização de máscaras para combater a covid-19.
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