Cerca de um ano depois do lançamento do disco “A Procura”, Tiago Bettencourt apresenta-o no Coliseu da capital, num concerto 360º. "Este disco, como é assim mais calminho, acho que merecia um sítio mais pequeno, que desse para criar um ambiente mais bonito”, explica. Esse ambiente, mais intimista, será proporcionado pelo palco no centro da arena e com o músico no meio do público. O concerto, será "um resumo não só deste álbum [“A Procura”], mas das coisas que tenho vindo a fazer desde a última vez que fomos ao Coliseu”, acrescenta.
O Coliseu de Lisboa é um espaço que Tiago Bettencourt conhece bem — esta será a terceira vez que o pisará em nome próprio. E brinca, em conversa com o SAPO24: "O Coliseu é sempre bom para o ego”.
É? Então e a Altice Arena, perguntamos. "Acho que a música que faço não me vai dar a oportunidade de algum dia encher a Altice Arena, se der, ótimo", diz.
Porquê? ”O lado comercial da música está a ficar cada vez mais agressivo, mais vazio. E há determinados sacrifícios que há que fazer no repertório para chegar a determinados sítios. E eu serei incapaz de fazer esses sacrifícios”, responde.
"Quando [a música] deixar de ser uma descoberta vou para outra profissão. Preciso de estar sempre a mudar, de estar sempre a perceber para onde é que a minha música pode ir. Óbvio que sei que vou ter sempre um estilo próprio, que vou estar sempre a descobrir outras maneiras existem de fazer boas canções e de reinventar o conceito de fazer canções”.
Tiago Bettencourt recua ao início do milénio para deixar uma crítica à indústria musical nacional de hoje. "Acho que se tivesse aparecido [hoje] com a música que faço ia ser um bocado difícil furar o mercado que existe".
"Pelo registo, pelas minhas letras não serem tão básicas, por a música não ser tão fácil e precisar de mais tempo e disposição da parte do ouvinte". Hoje, diz, "há cada vez mais menos artistas e cada vez mais homens de negócios na música. Há cada vez mais gente pelo negócio e menos pela arte, noutra forma de dizer".
Mas se hoje não seria fácil, o princípio também não o foi. Primeiro com os Toranja, depois a solo.
"Quando apareci levei com um preconceito gigante por parte da imprensa, preconceito que passou para algumas pessoas que embirram, não com a minha música, porque são capazes de nunca ter ouvido a minha música, mas com a minha pessoa. Sei que há muita gente que gosta daquilo que eu faço mas nunca pensou em aproximar-se”, diz.
"A minha culpa foi ter vindo de uma educação um pouco mais conservadora num país ainda com preconceitos de esquerda ou de direita. Por me chamar Bettencourt deviam achar que eu era da nobreza ou de extrema-direita. E a imprensa começou a embirrar comigo como se eu não merecesse estar ali. Hoje em dia isso já não acontece. Já temos imensos artistas betinhos que estão otimamente bem. Mas na altura levaram muita mal; e levaram muito mal ter tido sucesso logo no inicio. Era uma altura muito fechada da imprensa”
Mas somos nós jornalistas responsáveis por não chegar artistas aos seus possíveis ouvintes, questionámos. "Acho que hoje em dia nem por isso. A Internet veio facilitar. A verdade é que naquela altura a imprensa foi muito responsável pela minha música não chegar a determinados públicos."
“Mas foi uma fase que passou”. E dela o que ficou? "Distanciamento do público", lamenta. Algo que ainda hoje o magoa. "Há um público que nunca pensou em aproximar-se". Mas se o preconceito desapareceu da imprensa, não desapareceu por parte de alguns festivais, diz. "O preconceito fecha-me portas e isso fecha-me público. Sei que podia estar a tocar para determinadas pessoas mas há pessoas que acha que eu não devo estar ali".
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