“Criei o projeto para dar às pessoas uma viagem, ouvirem as músicas e apagarem tudo o que têm no cérebro e só se focarem naquilo. Imagino sempre montanhas, ambientes um bocado frios, países nórdicos, talvez seja isso que a minha música transmite”, referiu em entrevista à Lusa.
Ressalvando que a interpretação fica ao critério de cada um, contou que nos concertos tem sentido que o público recebe a música como idealizou. “Vejo muitas pessoas de olhos fechados e é isso que quero que as pessoas sintam: que apaguem tudo o que lhes vai na cabeça”, disse.
Débora Umbelino, de 22 anos, nasceu em Vale do Horto, aldeia perto de Leiria, e lá volta sempre que pode para fugir a Lisboa, para onde se mudou há uns anos.
Na adolescência era “um bocado rockeira, tocava guitarra com muita distorção”, depois vieram os sintetizadores e a eletrónica, contou a artista que tem como influências a norte-americana St. Vincent e a dinamarquesa Nanome.
Catalogar a música que faz é complicado: “Não gosto muito de etiquetar o género musical dos artistas, já me disseram que era experimental, jazz, post-rock, eletrónica. Acho que é uma mistura de tudo, não sei bem o que é aquilo, é estranho”.
O ‘bichinho’ musical foi-lhe passado pelo pai, que “sempre colecionou vinis, de vários géneros musicais”.
“Era bebé, nem tinha um ano, e o meu pai punha-me a ouvir vários vinis todos os dias e acho que isso despertou um bichinho cá dentro. Cada ano que passava ficava ainda mais interessada a ouvir música e a pesquisar coisas novas”, recordou.
Aos cinco anos disse à mãe que queria tocar bateria. Como era “muito pequenina” ficou pela flauta, mas por “birra” acabou por não durar muito. Só no início da adolescência voltou à educação musical. “Fui para piano e guitarra clássica, mas acabei por desistir passado três meses, porque era muita teoria e tinhas que ter uma determinada pose para tocar aquilo”, contou.
Aos 17 anos mudou-se para Lisboa “para estudar contrabaixo no Hot Clube”. Frequentou as aulas durante três anos, até começar o projeto Surma.
Fazer da música profissão não fazia parte dos planos - a ideia era ser pediatra - mas as más notas a Ciências levaram-na a desistir da Medicina. “Sempre tive bandas no liceu, mas nunca pensei nisto [a música] como profissão. Era um ‘hobbie’ que sempre levei de uma maneira muito divertida”, referiu.
Foi sem pensar nas consequências, “só porque sim”, que no final de 2014 criou uma página do projeto na rede social Facebook.
“Tinha acabado de sair da banda onde estava porque senti que não era o caminho que queria seguir. Tinha umas ideias perdidas no telemóvel e pensei ‘por que é que não faço um projeto e mando-me para a frente com isto?’”, recordou.
Na altura as “expectativas eram nulas” e foram as mensagens que começou a receber através da página, perguntando “então e as músicas?”, que a fizeram decidir que “mais valia levar a sério ou nem valia a pena ter criado nada”.
O nome do projeto saiu de “um caderninho com vários” numa altura em que viu um documentário onde se falava do povo Surma, da Etiópia. “Ficou-me o nome na cabeça várias semanas, era curtinho e tanto pode ser português como internacional, mas também pelos costumes que eles tinham, não gostam de pensar no futuro, vivem a vida sem bens materiais, sem nada a stressá-los e quis ligar essa parte descontraída ao projeto”, contou.
Há dois anos “começou tudo mais a sério”. Arrancaram os concertos e “a palavra foi passando de uma maneira estrondosa”. “Tem sido uma viagem louquíssima até hoje”, que já a levou a tocar em vários países à boleia da editora que a representa, a independente Omnichord Records, de Leiria, “que tem vindo a apostar muito na internacionalização das bandas”.
O disco de estreia, “Antwerpen”, foi gravado entre outubro do ano passado e julho deste ano, tendo as músicas sido “maioritariamente feitas na estrada”.
Apesar de Surma ser o projeto de uma pessoa só, Débora Umbelino faz questão de dizer que o disco é tão seu “como dos produtores que estiveram dentro dele: CASOTA Collective (Rui, Telmo e Pedro)”.
“Produzimos e compusemos sempre os quatro juntos”, referiu, acrescentando que também colaboraram no disco a violoncelista Joana Guerra e a violinista Milena Kolovska.
“Antwerpen” é apresentado ao vivo na quinta-feira no Porto, no Plano B, na sexta-feira no Curt'Arruda - Festival de Cinema de Arruda dos Vinhos, no sábado no Sport Club Operário de Cem Soldos, no domingo em Leiria, no Nariz, e a 28 de outubro em Lisboa, no Musicbox.
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