Entre 1 de janeiro e 15 de fevereiro, as autoridades registaram a chegada de 11.704 migrantes às Canárias (arquipélago no Atlântico) a bordo de 176 embarcações conhecidas como ‘pateras’, quando no mesmo período de 2023 tinham sido 1.602 pessoas e 37 embarcações.
Já às costas espanholas do Mediterrâneo (Espanha continental e ilhas Baleares), chegaram, no mesmo período, 1.251 migrantes, um aumento de 55% em relação a 2023.
Espanha está a lidar com um pico inédito de chegadas de migrantes, de forma irregular, às Canárias, sobretudo, desde meados do ano passado.
As ‘pateras’ têm como origem as costas ocidentais de África e o Governo espanhol atribui à instabilidade na região do Sahel o aumento de chegadas de migrantes às Canárias.
Na semana passada, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex) revelou que quase todas as rotas migratórias para a União Europeia (UE) registaram uma descida em janeiro, que variou entre recuos de 71% no Mediterrâneo Central e de 30% nos Balcãs Ocidentais, mas a rota da África Ocidental contrariou a tendência de descida.
A agência europeia explicou o aumento apontando que, “nos últimos meses, os grupos criminosos envolvidos no tráfico de seres humanos na Mauritânia aproveitaram rapidamente as oportunidades oferecidas pelo aumento da procura por parte dos migrantes subsarianos que transitam pelo seu país para entrar na União Europeia através das ilhas Canárias”, onde chegam em pequenas embarcações de pesca normalmente sobrelotadas.
Segundo as autoridades de Espanha, mais de 80% das embarcações precárias ou em situação ilegal que chegaram às Canárias em janeiro com migrantes saíram da Mauritânia.
Em 8 de fevereiro, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, foram à Mauritânia, onde anunciaram ajudas de centenas de milhões de euros ao país africano, para gestão de fluxos migratórios e apoio a refugiados, entre outros objetivos.
Von der Leyen anunciou que Bruxelas vai desbloquear mais de 210 milhões de euros este ano em ajudas à Mauritânia e Sánchez revelou que Espanha destinará nos próximos anos mais de 300 milhões à cooperação bilateral.
A presidente da Comissão lembrou a “situação muito precária” que vive a região do Sahel, com golpes de Estado e violência nos países vizinhos da Mauritânia, que assume “um papel primordial” na garantia da estabilidade nesta zona.
A Mauritânia, sublinhou, além de ser um país de origem de fluxos migratórios para a Europa, está também a acolher centenas de milhares de pessoas de outros Estados próximos, como o Mali, que fogem da violência.
Espanha é um dos países da UE que lida diretamente com maior número de chegadas de migrantes em situação irregular que pretendem entrar em território europeu.
Como outros Estados-membros da UE, Espanha tem defendido o reforço da cooperação com os países de origem e trânsito de migrantes, insistindo numa “abordagem integral”, que não se limite ao controlo de fronteiras e abranja também o desenvolvimento económico e social.
Espanha declarou em outubro de 2023 uma situação de emergência por causa do aumento das chegadas de migrantes e o Governo aprovou hoje, em Conselho de Ministros, mais 60,6 milhões de euros para serviços de resposta.
Desde outubro, foram já aprovados quase 170 milhões de euros para responder a necessidades básicas dos migrantes em situação vulnerável, cuidados médicos de urgência, acolhimento por asilo, apoio psicológico ou restabelecimento de contactos com familiares, segundo o Governo.
A par dos números oficiais com as chegadas de migrantes a território espanhol, as organizações não-governamentais (ONG) chamam a atenção para o número de mortos.
Segundo a ONG Caminhando Fronteiras, 6.618 pessoas morreram no ano passado no mar quando tentavam chegar a Espanha, quase o triplo das vítimas de 2022 e o maior número desde que há registos (2007). Mais de 6.000 (6.007) dessas pessoas morreram na “rota das Canárias”, que voltou a ser “a região migratória mais letal do mundo”.
Além da situação no Sahel, as ONG atribuem o aumento do número de chegadas a Espanha e de mortos no mar aos acordos do Governo de Madrid com Marrocos, para controlo das fronteiras, que levam os migrantes para as rotas mais longas e perigosas do Atlântico.
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