Constança Urbano de Sousa deixou o executivo depois de meses de polémica sobre a responsabilidade política em torno dos incêndios de Pedrógão Grande, distrito de Leiria, e concelhos limítrofes, em junho, e, no domingo, na região centro, nos distritos de Viseu, Coimbra, Leiria, que fizeram mais de 100 mortos.
A carta de demissão da ministra, que ainda na sexta-feira afirmou que não sairia do Governo, surge horas depois de uma comunicação ao país do Presidente da República, a partir de Oliveira do Hospital, na terça-feira à noite.
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que é preciso "abrir um novo ciclo", na sequência dos incêndios de junho e de domingo passado, e que isso "inevitavelmente obrigará o Governo a ponderar o quê, quem, como e quando melhor serve esse ciclo".
Desde os incêndios de domingo, que causaram 41 mortos, por duas vezes o primeiro-ministro, António Costa, manifestou a sua confiança política em Constança Urbana de Sousa.
A anterior mudança no Governo aconteceu a 09 de julho, com a saída dos secretários de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira (ministério dos Negócios Estrangeiros) dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade, (Finanças) e da Indústria, João Vasconcelos, (ministério da Economia).
Os três secretários de Estado afirmaram que pediram a exoneração após terem solicitado ao Ministério Público a sua constituição como arguidos no inquérito relativo às viagens para assistir a jogos do Euro2016.
Os governantes aceitaram, no ano passado, convites da Galp para assistir a jogos da seleção nacional no campeonato europeu de futebol, vindo, mais tarde, a ser constituídos arguidos no processo.
A primeira remodelação do Governo ocorreu em 08 de abril de 2016, menos de cinco meses depois de ter tomado posse, a 26 de novembro de 2015, quando o então ministro da Cultura, João Soares, se demitiu, o que implicou também a substituição da secretária de Estado da Cultura, Isabel Botelho Leal.
A demissão de João Soares aconteceu na sequência de um polémico comentário do governante na sua rede social Facebook, no qual prometia "salutares bofetadas" ao colunista Augusto M. Seabra, devido a críticas deste à falta de linha de ação política e ao "estilo de compadrio, prepotência e grosseria", e também ao colunista Vasco Pulido Valente.
João Soares viria a ser substituído por Luís Filipe de Castro Mendes e Isabel Botelho Leal por Miguel Honrado, que tomaram posse a 14 de abril, no Palácio de Belém.
Na semana em que foram conhecidas aquelas demissões, foi também divulgado, na página da Presidência da República na Internet, que o então secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Wengorovius Meneses, foi exonerado e seria substituído no cargo por João Paulo de Loureiro Rebelo.
Horas mais tarde, a demissão de João Wengorovius Meneses, a seu pedido, foi confirmada pelo Ministério da Educação e o próprio, num comentário posterior na rede social Facebook, revelou que saiu do Governo "em profundo desacordo" com o ministro da Educação em relação às políticas seguidas e "ao modo de estar" no exercício de cargos públicos.
A composição do executivo de António Costa viria ainda a ser alterada, em fevereiro passado, com a entrada de Álvaro Novo, como secretário de Estado do Tesouro, no ministério das Finanças. Ricardo Mourinho Félix ficou como secretário de Estado Adjunto e das Finanças.
No anterior executivo PSD/CDS-PP que cumpriu a legislatura completa, o XIX, a primeira alteração no elenco governamental aconteceu oito meses e meio depois da posse, quando o então secretário de Estado da Energia, Henrique Gomes, pediu a demissão a 12 de março de 2012, sendo substituído por Artur Trindade.
O XIX Governo, que tomou posse a 21 de junho de 2011, registou a primeira baixa ministerial apenas um ano e nove meses depois de tomar posse (a 04 de março de 2013), quando Miguel Relvas pediu para deixar o executivo, na sequência de várias polémicas.
Em governos anteriores, as primeiras remodelações surgiram ao fim de cerca de quatro meses. Com José Sócrates, a primeira 'baixa' foi o ministro das Finanças, Campos e Cunha, por motivos "pessoais, familiares e de cansaço".
Já Santana Lopes fez uma "mini remodelação" de secretarias de Estado, mas provocou uma crise política que culminaria no recurso à "bomba atómica" por parte do então Presidente da República, Jorge Sampaio, que dissolveu o parlamento e convocou eleições antecipadas.
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