Os trabalhadores da Samsung Electronics iniciaram, esta segunda-feira, uma greve de três dias por melhores salários, um dia extra de férias anual para os trabalhadores sindicalizados e alterações no sistema de bónus dos empregados.
Em junho ocorreu uma primeira ação coletiva na empresa que, durante décadas, não teve sindicatos. Nessa altura, o Sindicato Nacional da Samsung Electronics (NSEU), cujos cerca de 30.000 membros representam quase um quarto da força de trabalho da empresa na Coreia do Sul, não divulgou os níveis de participação na greve do mês passado, mas desta vez adiantou que 6.540 trabalhadores estarão em greve esta semana, principalmente em locais de produção e desenvolvimento de produtos. Segundo os seus dirigentes, a greve inclui trabalhadores que monitorizam linhas de produção automatizadas e equipamentos, de modo que as operações podem ser afetadas.
Além da greve, cerca de 3000 trabalhadores participaram de um comício sob a chuva perto da sede da Samsung em Hwaseong, ao sul de Seul.
Para alguns analistas ouvidos pela Reuters, a baixa participação e a produção automatizada podem significar que a greve não terá um impacto significativo na produção do maior fabricante de chips de memória do mundo. A empresa afirmou esta segunda-feira que não houve interrupção na produção.
Numa empresa com mais de 100 mil trabalhadores só na Coreia do Sul, a paragem de 6500 não chega sequer a 10%, mas, do ponto de vista moral, assinala um momento incomum na história e na cultura da Samsung. Um exemplo disso é o facto de, numa empresa que durante décadas não teve sequer sindicatos, a primeira greve realizada em junho ter sido realizada através da coordenação de férias anuais de forma a organizar uma paralisação em massa.
Além de melhores salários, os grevistas reivindicam uma equiparação na forma de cálculo dos bónus de trabalhadores da produção e de executivos.
Segundo o sindicato, os bónus para os trabalhadores de produção são calculados deduzindo o custo de capital do lucro operacional, enquanto os bónus para os executivos são baseados em metas de desempenho pessoal -parâmetro que pretendem seja aplicado a todos.
"Eu costumava dizer às pessoas que tinha orgulho de trabalhar na Samsung, mas a verdade é que não tenho," disse à Reuters Park Jun-ha, 20 anos, engenheiro nas linhas de embalagem de chips da Samsung, que entrou na empresa em janeiro.
As reinvindicações laborais são, por isso, uma nova frente para a Samsung, numa altura em que a empresa sul-coreana enfrenta a concorrência de chips usados em aplicações de inteligência artificial. O desempenho das ações da Samsung tem ficado atrás do compatriota rival, a SK Hynix, mas mesmo assim o conglomerado estimou, na sexta-feira, um aumento de mais de 15 vezes no lucro operacional do segundo trimestre, à medida que a recuperação dos preços dos chips impulsionados pelo boom da IA melhorou os resultados face ao ano anterior. Na semana passada, as ações subiram 6,9% com os ganhos trimestrais preliminares que superaram as estimativas dos analistas.
Lee Hyun-kuk, o vice-presidente do sindicato, disse que podem ocorrer novas greves se a Samsung não melhorar suas propostas.
"Ainda acreditam que isto não afeta a linha de produção?", perguntou trabalhadores reunidos no local.
"Até que as nossas exigências sejam atendidas, lutaremos com uma greve geral: 'sem pagamento, não há trabalho'", sublinhou Son Woo-mok, o líder do sindicato nacional da Samsung Electronics.
A Samsung Electronics é um dos maiores fabricantes de tecnologia móvel do mundo e também uma das poucas empresas que produz chips de alta performance utilizados em inteligência artificial.
Com AFP
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