Em julho de 1946, o francês Louis Reard provocou um verdadeiro escândalo ao lançar um maiot considerado, vamos dizer, pouco apropriado. Ou mesmo pouco púdico. 70 anos depois, uma exposição conta a história do biquíni através de peças míticas, do primeiro exemplar até ao que foi eternizado por Ursula Andress em "James Bond".
A chegada do biquíni foi histórica, porque mostrou pela primeira vez o que as mulheres não se atreviam a mostrar, o umbigo. Foi uma dançarina de 19 anos, Micheline Bernardini, que se apresentava no Cassino de Paris, que vestiu o primeiro biquíni da história, a 5 de julho de 1946, para a eleição da mais bela na piscina Molitor, local muito frequentado da capital francesa nos anos 30. "É comum lermos que nenhuma modelo quis usar a peça. E isso não é verdade", explicam à AFP Ghislaine Rayer e Patrice Gaulupeau, que colocaram em exposição sua coleção privada, de cinco mil peças de lingerie e banho. "Réard sempre convocava vedetas ou modelos para os seus desfiles".
O criador francês também não hesitava em travestir a verdade, com etiquetas "made in USA" ou "Reard of California".... "Ele compreendeu como funcionava o marketing e a publicidade!", exclama Thierry Virvaire. Na Europa, sob pressão da Igreja Católica, os governos italiano, espanhol e belga proibiram a venda dos biquínis. Na França, curiosamente, foi permitido nas praias do Mediterrâneo, mas proibido nas do Atlântico.
Foi preciso esperar pelos anos 50 para as estrelas do cinema adoptarem o biquíni. A atriz francesa Brigitte Bardot causou histeria durante o Festival de Cinema de Cannes em 1953, ao posar de biquíni branco com flores na praia de Carlton. O público pôde admirar as sublimes fotos de "BB", Marilyn Monroe ou Ava Gardner em roupa de banho sexy. "Foram BB e Marilyn que fizeram do biquíni uma peça emblemática", revela Ghislaine Rayer, que levou a esta exposição outras peças raras como "roupas de banho" de 1880 ou sumptuosos maiots New Look. A exposição é de entrada livre e decorre até 24 de julho em Lyon, seguindo depois para Nova Iorque em setembro, Miami em dezembro e para um museu do biquíni que será inaugurado na Alemanha em 2017.
'Itsy bitsy'
Em Lyon também está exposta uma das peças mais memoráveis, a utilizada por Ursula Andress, quando aparece emergindo das águas, conchas na mão e punhal na cintura, numa famosa cena de "James Bond contra o Dr. No", de 1962. "O verdadeiro biquíni do filme foi leiloado pela Christie's por 55 mil euros. E foi um biquíni produzido em contra-relógio por um pequeno alfaiate indiano, relata a colecionadora. Ainda assim, foram-lhe dedicadas canções - como em 1960, "Itsy Bitsy, petir bikini", título americano que fez sucesso em todo o mundo, incluindo na versão portuguesa "Biquíni às bolinhas amarelas", que conta a história de uma jovem que usava pela primeira vez um biquíni na praia.
"Mas foi preciso esperar até os anos 1970, quando as mulheres se emanciparam e queimaram o soutien em público, para que o biquíni, tal como foi concebido por seu criador, voltasse a aparecer, desta vez de forma definitiva", conclui Ghislaine Rayer. Adoptado pelas jovens, "simboliza a ruptura com a geração precedente", sublinha. Depois, a maioria das mulheres passaram a escolher as duas peças para se bronzear ao sol, tanto quanto possível. Hoje, o biquíni já não causa escândalo e quase quinze milhões de peças são vendidas todos os anos em França, o maior mercado na Europa.
A exposição é organizada pela Mode City, realizada em Lyon, em colaboração com as duas colecionadoras que também contam em "Rétrospective du bikini", livro ilustrado de arquivos inéditos, a sua história.
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