“A violação é um crime. Mas tentar seduzir alguém insistentemente ou de forma desajeitada não o é, nem o cavalheirismo é uma agressão machista”, afirmam no jornal Le Monde uma centena de atrizes, escritoras, investigadoras e jornalistas.
Este grupo de mulheres rejeita o "puritanismo" que segundo elas se instalou após as acusações de assédio e agressão sexual contra o produtor de cinema americano Harvey Weinstein.
Consideram, ainda, "legítima" a "consciência sobre a violência sexual exercida contra as mulheres, sobretudo no âmbito profissional". Mas, afirmam, o tipo de discurso que atualmente está a ser utilizado tem um pendor contraditório: "somos intimadas a falar como se deve, a silenciar o que irrita, e aqueles que se recusam a cumprir tais injunções são considerados traidores, cúmplices!"
Há homens que foram "punidos no exercício da sua profissão, obrigados a se demitir, quando o seu único erro foi ter tocado num joelho, tentado roubar um beijo, falar de coisas 'íntimas' durante um jantar de negócios, ou ter enviado mensagens de conotação sexual a uma mulher que não sentia uma atração recíproca", asseguram, falando de uma "onda purificadora".
"Enquanto mulheres, não nos reconhecemos neste feminismo", afirma a carta , acrescentando que defendem "uma liberdade de importunar, indispensável à liberdade sexual".
Em março do ano passado, Deneuve, de 74 anos, gerou polémica ao defender na televisão o cineasta Roman Polanski, acusado de ter violado uma menor há mais de 40 anos nos Estados Unidos.
O artigo, assinado por uma centena de mulheres, provocou reações imediatas.
Num tweet, a ex-ministra francesa dos Direitos das Mulheres, Laurence Rossignol, lamentou "esta estranha angústia de deixar de existir sem o olhar e o desejo dos homens, que leva mulheres inteligentes a escrever enormes estupidezes".
Este é "uma carta para defender o direito de agredir sexualmente as mulheres e para insultar as feministas", denunciou a ativista Caroline de Hass.
Em novembro, a revista norte-americana Time nomeou como “Personalidade do Ano” as pessoas que, nos últimos meses, denunciaram casos de assédio e abuso sexual, num movimento coletivo denominado "#MeToo", surgido nos Estados Unidos.
Na capa da Time surgiram seis mulheres, entre as quais a atriz Ashley Judd e a cantora Taylor Swift, que quebraram o silêncio, denunciaram casos em que foram vítimas de assédio sexual, e fizeram com que milhares de outras pessoas partilhassem histórias semelhantes.
Da sexta mulher, que representa todas as vítimas anónimas, é visível apenas um braço.
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