O exército russo anunciou esta sexta-feira que bombardeou no dia 28 de maio uma área de Raqa, na Síria, onde terá decorrido uma reunião de líderes do EI, e que está a tentar confirmar se Al-Bagdadi morreu no ataque.

Nascido em 1971 em Samarra, no norte de Bagdad, é um dos homens mais procuradas do planeta. Tanto assim é que os Estados Unidos oferecem 10 milhões de dólares a quem ajudar na sua captura. No entanto, não é a primeira vez que surgem notícias como as de hoje. No passado, várias foram as vezes que circularam boatos sobre a sua morte.

E, apesar do grande aparato de propaganda do EI, que divulga uma grande quantidade de fotos ou vídeos das suas ofensivas e atrocidades, al-Bagdadi não aparece muito.

"É notável que o líder do grupo terrorista que mais se preocupa com a sua imagem seja tão discreto", disse em 2015 Patrick Skinner, analista da consultoria de inteligência Soufan Group.

Em dois anos, o "califa Ibrahim" aparece em apenas um vídeo, gravado numa mesquita de Mossul e divulgado em julho de 2014. Ostentava uma barba grisalha, de turbante e estava vestido com roupas escuras.

Na gravação aparece a sugerir que todos os muçulmanos lhe deviam obediência, sendo que este vídeo foi difundido pouco depois da organização ter proclamado o "califado" nos territórios sob o seu domínio quer na Síria, quer no Iraque.

Em novembro de 2016, a Al Furqan, um meio de comunicação afiliado ao EI, difundiu uma mensagem de áudio, em que um homem se identifica como Al-Bagdadi, onde está a "convocar" as suas tropas a resistir ao avanço do exército iraquiano em Mossul, reduto do grupo.

Porém, Al Bagdadi já não estaria em Mossul no início de 2017, tendo sido visto, em diferentes ocasiões, em locais nas imediações da fronteira entre a Síria e Iraque.

Al-Bagdadi, um "Mistério"

"Existe um elemento de mistério que vem com o facto de ter sobrevivido a várias tentativas de o fazer desaparecer", explicou Aymenn al-Tamimi, analista do Middle East Forum.

Segundo um documento dos serviços secretos iraquianos, Bagdadi tem um Doutoramento em Estudos Islâmicos e foi professor na Universidade de Tikrit, no Iraque. Terá quatro filhos do primeiro casamento e mais quatro de um segundo relacionamento. Numa entrevista ao jornal sueco Expressen, em março de 2016, Saja Al Dulaimi, que foi sua mulher durante cerca de três meses, descreveu-o como sendo "um pai de família normal", professor universitário e admirado pelas crianças.

Bagdadi juntou-se à insurreição no Iraque pouco depois da invasão das tropas dos Estados Unidos em 2003. É tido que também esteve preso num campo de detenção norte-americano. Em 2005, apesar de ter sido anunciado a morte de Abu Dua — um dos seus cognomes —, voltaria a reaparecer cinco anos mais tarde, em 2010, à frente do Estado Islâmico, braço iraquiano da Al-Qaeda.

Menos de uma década depois, Bagdadi conseguiu transformar este grupo na mais potente, rica e brutal organização extremista do mundo, marcando presença primeiro na Síria, em 2013, e depois no Iraque, em 2014. No entanto, por esta altura, já se havia desvinculado na totalidade da Al-Qaeda ao rejeitar as ordens do líder deste grupo, Ayman al-Zawahiri — que exigiu que se mantivesse no Iraque e abandonasse a Síria para deixar o caminho aberto à Frente Al-Nusra, uma milícia e um dos principais problemas do Governo de Bashar al-Assad.

Diferente de Bin Laden 

A sua trajetória é diferente do caminho traçado por Osama Bin Laden, que desenvolveu a Al-Qaeda graças à sua fortuna, assim como já se tratava de um nome reconhecido internacionalmente muito antes dos ataques de 11 de setembro de 2001.

"A sua ascensão à fama não pode ser comparada com as de outros líderes terroristas mais famosos. Bin Laden era conhecido pelo nome", explica Skinner. "Bagdadi evita ser o centro das atenções e, nos seus discursos, fala sobre o seu califado e dos seus inimigos, e não de si mesmo", completa o analisa do Soufan Group.

Esta quarta-feira, o Estado Islâmico assumiu o controlo de Tora Bora, aquela que é considerada a última "fortaleza" de Osama Bin Laden no leste do Afeganistão, utilizada frequentemente por si para escapar às tropas norte-americanas após o 11 de setembro.

Esta rede de grutas, particularmente difíceis de serem alcançadas ou de serem penetradas, foi alvo de uma dura batalha e de intensos bombardeamentos em dezembro de 2001. À data, Bin Laden conseguiu alcançar as zonas tribais próximas da fronteira, acabando por se refugiar no Paquistão, mas acabou por ser morto numa operação das forças especiais norte-americanas em 2011.