“O depoimento do meu cliente foi condizente com aquele que já foi prestado durante longas horas no processo de inquérito. O processo foi arquivado e depois houve instrução e, entretanto, acabou por se confirmar o arquivamento”, disse hoje Paula Brum aos jornalistas no final da primeira audiência de julgamento no Tribunal de Setúbal.
“Estou satisfeita porque ele [João Gouveia] esclareceu aquilo que já tinha sido esclarecido”, acrescentou a advogada, que negou alegadas contradições do ex-`dux´ da Lusófona nos depoimentos prestados ao Procurador da República e ao Tribunal de Setúbal, referidas pelo advogado Vítor Parente Ribeiro.
O advogado que representa as famílias das vítimas considera que o depoimento de João Gouveia, com “algumas pequenas alterações” face ao que tinha dito inicialmente ao Procurador da República, “foi mais do mesmo” e diz que “falta explicar muita coisa” sobre a tragédia de 13 de dezembro de 2013 na praia do Meco, em Sesimbra, no distrito de Setúbal.
“Falta explicar, de facto, aquela questão que ele não explicou, nomeadamente, como é que são levados os seis por uma onda. E explicar em que termos é que eles se encontravam colocados para serem levados. E isso ele veio invocar que não se recordava”, frisou Vítor Parente Ribeiro.
Para o advogado das famílias, falta também perceber “o que é que faz seis jovens estarem à meia-noite numa praia, numa circunstância em que era sobejamente conhecido que o mar estava revolto e tinha vagas de mais de quatro metros de altura”, factos que Vítor Parente Ribeiro acredita terem acontecido no contexto de uma praxe.
“A própria descrição dos acontecimentos que é feita por João Gouveia leva-nos a concluir isso. As próprias entregas de ovos, que eram dados (aos alunos), o próprio ritual que foi feito até a praia, o simples fato de se ter o cuidado de deixar longe do alcance da água os telemóveis, o tabaco”, são outros factos que, na opinião do advogado, contribuem para reforçar esta convicção de que se tratou de uma praxe em que não foram tidas em conta as questões de segurança.
Para Vítor Parente Ribeiro, também é surpreendente, e nada verosímil, a descrição de João Gouveia sobre o momento em que os sete elementos do grupo foram arrastados por uma onda e da forma como o próprio, João Gouveia, terá conseguido voltar a terra firme.
“Como é que alguém que está no meio do mar, com ondas de quatro metros, consegue ouvir colegas a gritar por socorro, consegue tirar uma capa que tem à volta do pescoço, consegue ir tentar socorrer outra pessoa, agarrando-lhe até no pulso e, ao mesmo tempo, não perde o controlo sai da água e vai direitinho ao local onde tem o telemóvel”, questionou.
“São os especialistas que dizem: o local onde os jovens foram atingidos era uma zona de bueiro, era uma zona onde quem caísse à água naquele momento não tinha qualquer hipótese de sobrevivência porque as correntes eram fortíssimas. E depois a própria rebentação das ondas provocava, em muito dos casos, morte instantânea. Acho que não faz sentido nenhum”, disse.
As famílias dos seis jovens falecidos interpuseram seis ações cíveis em 2016, contra o ex-‘dux’ João Gouveia e a COFAC – Cooperativa de Formação e Animação Cultural, CRL (Universidade Lusófona).
Em cada uma das seis petições iniciais (PI) é pedida uma indemnização de cerca de 225 mil euros, o que perfaz um valor global que ronda um milhão e 350 mil euros.
A próxima sessão do julgamento do ex-`dux´ e da Universidade Lusófona está marcada para as 09:00 de quarta-feira no Palácio da Justiça de Setúbal.
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