Um relatório da HRW, hoje divulgado pela organização não governamental, documenta o desaparecimento de 47 ex-membros das Forças de Segurança Nacional afegãs – incluindo militares, polícias e membros de serviços de informações – que se renderam ou foram detidos pelos talibãs, entre 15 de agosto e 31 de outubro.
O relatório – intitulado “Sem perdão para pessoas como vocês” – coligiu ainda informações sobre mais de 100 assassínios de antigos funcionários governamentais afegãos, nas regiões de Ghazni, Helmand, Kandahar e Kunduz.
“A amnistia prometida pelos líderes talibãs não impediu que os comandantes locais executassem sumariamente ou fizessem desaparecer ex-membros das forças de segurança afegãs”, disse Patricia Gossman, diretora associada da HRW para a Ásia.
A Human Rights Watch entrevistou 40 pessoas nas quatro províncias e outras 27 por telefone, nomeadamente testemunhas, familiares e amigos das vítimas, ex-funcionários do Governo, jornalistas, trabalhadores da saúde e membros dos talibãs.
De acordo com a investigação, os talibãs instruíram membros das unidades de forças de segurança que se renderam a registar-se como membros da organização, para poderem receber uma carta garantindo a sua segurança.
Contudo, esses registos foram utilizados para deter, executar sumariamente ou fazer desaparecer muitas dessas pessoas.
Os talibãs também conseguiram ter acesso aos registos de emprego deixados pelo anterior Governo afegão, o que lhes permitiu realizar operações de busca abusivas, incluindo incursões noturnas, para deter e fazer desaparecer ex-funcionários suspeitos.
“Os ataques noturnos dos talibãs são assustadores”, disse um ativista da província de Helmand, explicando que as famílias das pessoas desaparecidas não podem perguntar, sequer, para onde foram levados os funcionários.
Durante as buscas, os talibãs costumam ameaçar e abusar de membros da família para fazê-los revelar o paradeiro dos escondidos, refere o relatório da Human Rights Watch.
Na província de Nangarhar, os talibãs também têm como alvo pessoas que acusam de apoiar o Estado Islâmico (EI) da província de Khorasan.
O relatório desta ONG também confirma que, conforme foi relatado pelas Nações Unidas, as operações dos talibãs “dependem fortemente de detenções e assassínios extrajudiciais”, com muitas das vítimas a serem mortas por causa das suas opiniões ou afiliações tribais ou religiosas.
O documento, de 25 páginas, também refere que a comissão criada pelos talibãs para investigar denúncias de abusos de direitos humanos ainda não anunciou qualquer operação sobre os assassínios denunciados, embora tenha informado sobre a detenção de vários membros da organização acusados de roubo ou demitidos por corrupção.
“As alegações infundadas dos talibãs de que agirão para evitar abusos e responsabilizar os abusadores parecem, até agora, nada mais do que uma manobra de relações públicas”, concluiu Gossman.
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