“A agitação marítima durante os meses de fevereiro e março colocou a descoberto vestígios arqueológicos enterrados há várias décadas em duas praias algarvias, que não se encontravam inventariados pela tutela”, explicou a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), em comunicado.
Sem uma cronologia precisa, as duas armações de pesca, serão de finais do século XIX a princípios do século XX, segundo os arqueólogos, e localizam-se, uma na Fuseta, no concelho de Olhão, e outra em Almancil, no de Loulé. E, por serem artefactos imóveis, vão permanecer nos respetivos locais de achamento, após a verificação científica das equipas arqueológicas, adiantou a DGPC.
Os vestígios foram vistos por Pedro Brito, no caso da Fuseta, e Joaquim Terêncio, no de Almancil, “por serem elementos estranhos à paisagem natural local”, referiu a mesma fonte, frisando que, nos dois casos, eram visíveis “conjuntos de cabos de aço que deveriam servir para ligar a armação de pesca às âncoras”.
A DGPC frisou que, no caso de Olhão, foram também encontrados “vestígios de uma ocupação mais permanente no local (arraial), nomeadamente cerâmicas de uso doméstico, pesos de rede e elementos construtivos de estruturas habitacionais”.
A entidade que tutela o património cultural português precisou que estas armações de pesca testemunham “uma arte de pesca de armadilha constituída por quilómetros de redes verticais, sustentadas por estacas, boias, cabos e âncoras”.
"Estes elementos criavam um sistema labiríntico de corredores que conduzia os peixes até à área de pesca [denominada na gíria piscatória como copagem]”, refere a DGPC, segundo a qual há notícia de armações de pesca no Algarve, desde a época islâmica (séculos VIII a XIII)".
“Embora exista notícia de armações desde a época islâmica, estes aparelhos de pesca desenvolveram-se sobretudo entre meados do século XIX e meados do século XX. Durante os três a seis meses da faina, esta arte servia para a pesca do atum, tendo sido muito importante para o desenvolvimento da indústria conserveira, em particular no Algarve, único local em Portugal onde era utilizada”, contextualizou ainda a DGPC.
A mesma fonte recordou que esta técnica de pesca era utilizada nos concelhos de Tavira e Lagos, e chegou a garantir “trabalho a mais de uma centena de homens”, tendo em determinados anos as capturas chegado aos “40 mil atuns”.
“As últimas armações encerraram na década de 70 do século XX, sendo hoje possível visitar alguns desses vestígios na Praia do Barril, em Tavira”, referiu a Direção-Geral, referindo-se às âncoras que podem ser vistas no areal dessa área balnear, e que pertenceram a uma armação da zona.
As praias do Burgau, em Vila do Bispo, Ramalhete, em Lagos, Carvoeiro, em Lagoa, e Quarteira, em Loulé, são outros locais onde há referência destas estruturas, segundo a DGPC.
Na intervenção realizada pelos técnicos do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), foi feita a “salvaguarda e avaliação científica/patrimonial” dos achados, a “articulação com os achadores” e a “elaboração dos autos de achado fortuito”, adiantou também a DGPC.
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