Se há covid? Há. Com todas as atenções viradas para novos problemas, novas lutas; com o regresso das festas e encontros e a cada vez menor presença das medidas sanitárias, o mundo vai ficando mais próximo daquilo que era antes da pandemia. O novo normal ficou só na canção de Sérgio Godinho e deu lugar ao normal que já havia. Mas a covid-19 ainda existe.

Na última semana, foram registados 3,8 milhões novos casos de covid-19. É, sim, o valor mais baixo desde o aparecimento da dominante variante ómicron, revelou hoje a Organização Mundial de Saúde (OMS). Estes valores indicam uma descida de 17% relativamente ao número de contágios registados na semana anterior, entre 18 e 24 de abril.

Porém, insiste a OMS, esta redução de contágios deve ser analisada com cautela, tendo em conta a queda de testes realizados ao vírus SARS-CoV-2 em muitos países (o número de óbitos, por exemplo, cai mais devagar).

Mesmo assim, esta é a sexta semana consecutiva em que se verifica uma descida de casos a nível mundial, longe dos valores recorde registados em finais de janeiro, com mais de 23 milhões de casos de globais identificados por semana. A Europa continua a ser a região com mais contágios detetados durante os últimos sete dias analisados, com 1,8 milhões de casos — uma descida de 22% em comparação com os dados da semana anterior —, seguida da Ásia Oriental, com mais 1,1 milhões de contágios registados.

Entre 25 de abril e 1 de maio, registaram-se 15.700 mortes, o que equivale a uma redução de 3%, confirmando-se a tendência da descida da mortalidade que se verifica desde princípios de fevereiro. Os valores de mortalidade desta semana são os mais baixos desde o final de março de 2020 — mês em que a pandemia se tornou a realidade um pouco por todo mundo, Portugal incluído.

Na Europa, foram contabilizadas, na semana passada, 6.400 mortes por covid-19, uma descida de 16%, seguindo-se a América com 4.200 e 2.600 no sul da Ásia.

Desde o início da crise sanitária em 2020, foram registados 511 milhões casos a nível mundial, dos quais 6,2 milhões resultaram em mortes, o que faz desta a pior pandemia de toda a História desde a gripe de 1918-20.

Novas preocupações

Enquanto a covid-19 se transforma numa doença normal, surgem notícias de um outro estranho fenómeno: a Organização Mundial da Saúde registou até agora 228 casos suspeitos de hepatite aguda de origem desconhecida em crianças em vinte países de várias partes do mundo, afastando a sua ligação a uma área geográfica específica.

Desde os primeiros casos registados no Reino Unido, “são conhecidos pelo menos 228 casos prováveis reportados de 20 países e cerca de 50 estão sob investigação”, adiantou Philippa Easterbrook, especialista da OMS, numa conferência de imprensa em Genebra, citada pela agência Lusa.

Philippa Easterbrook salientou que apenas seis dos 20 países reportaram mais de cinco casos, tendo alguns dos restantes apenas comunicado uma ou duas situações de hepatite aguda em crianças, que já provocou uma morte e 18 transplantes do fígado. A investigação está a incidir sobre “todas as possibilidades” de causas infecciosas e não infecciosas, assegurou a especialista da OMS, que reafirmou ainda não existir qualquer ligação entre os casos registados e a vacina contra a covid-19, uma vez que a larga maioria das crianças diagnosticadas com hepatite aguda não tinha sido vacinada contra o coronavírus SARS-CoV-2.

Philippa Easterbrook referiu que uma das possibilidades mais fortes passa pela hepatite aguda ser provocada por um adenovírus, com base na proporção de casos que deram positivos para este vírus, e que têm sido feitos “progressos consideráveis” na última semana na investigação das causas. Um dos objetivos das várias linhas de investigação passa por perceber se o “adenovírus é realmente a causa” da hepatite e não uma “descoberta acidental” nas crianças analisadas, adiantou a investigadora.

Os adenovírus são um grupo de vírus muito comuns que são transmitidos entre pessoas e que muitas vezes causam infeções do sistema respiratório e digestivo, particularmente em crianças.

Segundo anunciou hoje a Direção-Geral da Saúde (DGS), Portugal tem quatro casos suspeitos de hepatite aguda de origem desconhecida em crianças, com idades entre os sete meses e os oito anos, e nenhuma apresentou complicações graves, tendo recuperado do quadro clínico.

Os quatro casos suspeitos foram identificados nas regiões de saúde do Norte, Centro e Lisboa e Vale do Tejo e todos testaram negativo para hepatite A, B e C e para o vírus SARS-CoV-2, aguardando-se ainda resultados para a hepatite E em duas situações, revelou a DGS em comunicado.

Segundo a autoridade de saúde, um dos casos já testou positivo para adenovírus, tendo a amostra sido enviada para sequenciação ao Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

Refere ainda que as crianças apresentaram um quadro clínico de hepatite aguda, estando em curso a avaliação laboratorial complementar e a avaliação epidemiológica.

As crianças tiveram sintomas em abril e estiveram internadas, mas nenhuma apresentou complicações graves, tendo recuperado do quadro clínico”, afirma a autoridade de saúde, sublinhando que se encontram em investigação fatores epidemiológicos como viagens ou ligações entre os casos, em colaboração com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC).

Perante uma doença de causa ainda desconhecida, e que se encontra em investigação, a DGS recomenda o reforço de medidas gerais de proteção individual, como a higiene das mãos, a etiqueta respiratória, o arejamento e ventilação dos espaços interiores ou a limpeza e desinfeção frequente de equipamentos e superfícies.