“O fim do ‘apartheid’, da discriminação, do racismo - todos estes grandes movimentos enfrentaram vários nãos até alguém dizer que se trata de uma escolha entre o certo e o errado. [Em relação ao clima] Temos de escolher o que está certo. Temos de reconhecer que a verdade do futuro que vai ser enfrentado pelos nossos filhos e netos depende do que tivermos agora a coragem de fazer. Queremos deixar a Terra como um caixote do lixo ou ouvir os cientistas e fazer algo?”, questionou, aos gritos, o também Prémio Nobel, no Porto, no encerramento da Climate Change Leadership.
Durante as cerca de duas horas de conferência, Al Gore admitiu estar “furioso” algumas vezes, alertando que as pessoas “precisam de ouvir a verdade” e “podem mudar”, perante “a resposta patética dos governos” ao problema e o facto de alguns subsidiarem a produção de energias fósseis.
Após mostrar vários “cenários apocalípticos” de cheias, chuvas intensas, secas extremas ou dias de calor fora do vulgar, Al Gore pediu para todos impedirem que tais imagens se transformem “no novo normal”.
O Prémio Nobel admitiu que estão a ser dados passos positivos em todo o mundo para combater as mudanças climáticas e proteger o planeta, mas alertou que “as grandes mudanças só vão acontecer” quando os governos deixarem de subsidiar a produção de energias fósseis
“Estas empresas de [energias] fósseis têm muito poder económico e político”, vincou.
Questionado pelo diretor da conferência, Pancho Campo, sobre como mudar este cenário, o ex-vice-Presidente norte-americano apelou para o ativismo.
“Não podemos depender de mudanças individuais. As grandes mudanças só vão acontecer quando mudarmos as políticas. Estamos num momento invulgar de atividade política a uma escala revolucionária”, observou.
Para Al Gore, existe um “escalar do empenho” social e “este é o momento” de as pessoas se envolverem.
“Os ativistas de base, por vezes, dão-nos a impressão de que são estranhos, mas são eles que motivam as mudanças. Está na altura de darmos alguns recursos a estes ativistas de base. Está na altura de alguns de nós sairmos para a rua. Agora é o momento”, avisou.
De acordo com o Prémio Nobel, “as projeções de população até 2100 indicam que África terá mais pessoas do que a China ou a Índia em conjunto”.
“Se partes significativas do continente africano vão ser inabitáveis devido às mudanças climáticas, para onde vão estas pessoas?”, perguntou.
“Pode haver até mil milhões de migrantes do clima. Não podemos continuar. Não podemos deixar. Vocês precisam de ouvir a verdade. Ando há 40 anos nisto e vejo a resposta patética dos governos. Vocês podem mudar”, afirmou.
Referindo-se à crise de refugiados que a Europa “enfrentou”, com “um milhão provenientes da Síria”, Al Gore assegurou não ser a guerra civil o que está na origem da migração em massa.
“Antes da guerra civil, houve a maior e mais destrutiva seca em 900 anos. Esta seca destruiu 60% das quintas, matou 80% do gado e levou 1,5 milhões de refugiados das quintas para as cidades”, observou.
As “boas notícias”, disse Al Gore, residem na capacidade que vários pontos do planeta têm tido para produzir energia a partir de fontes renováveis, como é o caso das “centrais solares flutuantes em Portugal”.
“Subsidiar energia solar é mais barato do que fazê-lo com combustíveis fósseis. É a diferença entre gelo e água. Nos mercados de capitais, é a diferença entre capital congelado e fluxo de capitais que procuram oportunidade”, ilustrou.
[Notícia atualizada às 21:19]
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