No final da década de 1970 e início da década de 1980, a vítima, que usa o pseudónimo "Graham", foi obrigada a ficar nua à frente de John Smyth, sendo espancada com uma bengala até sangrar.

Graham, que fez campanha durante anos para expor Smyth e tentou impedi-lo de abusar outras pessoas, comemorou a renúncia de Justin Welby como arcebispo da Cantuária, mas afirmou que outros bispos deveriam seguir o seu exemplo.

O The Guardian teve acesso a vários e-mails que Graham enviou à diocese de Ely a pedir que os alertas sobre Smyth fossem repassados ​​para a África do Sul, país onde o mesmo se refugiu e onde se acredita que tenha continuado a abusar de jovens até à sua morte, em 2018.

De acordo com um relatório recentemente divulgado, que descreve o caso, em 2013, o então bispo da diocese de Ely, Stephen Conway, alertou um bispo na África do Sul e o Palácio de Lambeth sobre Smyth.

"Conway deveria renunciar", disse Graham. "Ele era a pessoa na melhor posição para parar John Smyth. Foi ele quem escreveu para a Cidade do Cabo e todos presumiram que ele estava a lidar com o caso. Ele falhou e Smyth não foi parado", continuou.

Ainda segundo a publicação, no início desta semana, Conway disse que fez tudo o que pôde, mas pediu desculpas por não ter conseguido impedir os alegados abusos nos anos seguintes.

Por outro lado, Graham afirmou que a capelão pessoal de Welby na época, Jo Bailey Wells, agora bispo para o ministério episcopal na Comunhão Anglicana, também deveria "analisar com muito, muito cuidado a sua posição".

No relatório consta que Bailey Wells foi alertada por Conway para os abusos de Smyth e que terá desvalorizado a situação.

"É impressionante pensar que ela não achou que pessoas a serem espancadas até sangrarem fosse algo relevante", referiu Graham.

Recentemente, Bailey Wells defendeu-se, dizendo que não sabia dos detalhes dos abusos de Smyth e lamentou não ter verificado, na época, a veracidade das alegações, descreve o The Guardian.

Após a divulgação do relatório, Graham apelou à Igreja para proibir vários clérigos aposentados de celebrar serviços religiosos. Entre eles, o ex-arcebispo da Cantuária, George Carey, cuja permissão para celebrar foi removida em 2020 por ter conhecimento do caso de Smyth, mas que foi restabelecida em 2021.

Segundo o documento, Carey terá sido informado sobre os abusos em 1983.

Por outro lado, a vítima apontou que Andrew Cornes, um clérigo aposentado que poderá fazer parte do processo de seleção para o próximo arcebispo da Cantuária, também deveria ser proibido de celebrar por também ter tido conhecimento dos abusos.

"Há cerca de 30 pessoas que têm conhecimento do caso de Smyth que precisam de olhar para as suas consciências", alertou Graham.

"Mais pessoas têm um papel nisto, não é só Justin Welby. Não sou uma pessoa vingativa, mas passei pelos abusos mais horríveis. O clérigo sénior escondeu-se e fingiu que isto não aconteceu", continuou.

"Não tenho absolutamente nenhuma confiança de que qualquer tipo de ação rápida seja tomada. A única razão pela qual o abuso de Smyth chegou ao conhecimento do público foi pela pressão da comunicação social e porque a igreja é incapaz de fazer a sua própria salvaguarda", concluiu Graham.