“Hoje, com vergonha do que vi, com uma imensa dor de alma pelo que senti, tenho que dizer que: não quero, não posso e não aceito continuar a encabeçar esta candidatura. Isto não é uma desistência. Isto é uma questão de higiene. Uma recusa de pôr os interesses de uns personagens à frente dos interesses dos 300.000 gaienses e pessoas que escolheram este grande concelho para fazer a sua vida”, justifica numa carta aberta a que a Lusa teve acesso.
Em declarações à Lusa, o PSD, através do seu gabinete de imprensa, admitia ao final da tarde que António Oliveira tinha reunido com o presidente do PSD a quem indicou haver “dificuldades de relacionamento” com concelhia liderada por Cancela Moura.
A mesma fonte garantia, contudo, que o ex-selecionador nacional não comunicou a sua desistência.
Contactada novamente pela Lusa após a divulgação da carta aberta de António Oliveira, o gabinete de imprensa, reiterou as declarações que já havia feito.
Na missiva, o ex-selecionador nacional de futebol tece duras críticas à concelhia liderada por Cancela Moura, assumindo que nunca pensou que a política e os partidos, “quando se deixam apropriar por alguns, ainda que localmente, pudessem descer a um nível tão baixo e tão miserável”.
“Ao longo de três meses fui sujeito a pressões, intimidações e ameaças. Tentaram impor-me o pior da "mercearia partidária" e tentaram envolver-me nas mais inacreditáveis negociatas de lugares. Enfim, quiseram obrigar-me a empregar os beneficiários do rendimento mínimo da política”, acrescentou Oliveira.
Na missiva, o empresário diz não conhecer “este PSD, que em Gaia, está prisioneiro de quem só lhe faz mal, para fazer bem a si próprio”, acrescentando que não quis acreditar que “fosse possível fazer política com base nos piores princípios da espécie humana”
“Mas, aqui, em Gaia, no meu partido de sempre, é o que se passa”, observou, assegurando que ao longo destes três meses, desde que foi convidado pessoalmente pelo presidente do PSD para ser candidato à Câmara de Gaia, nunca vacilou, negociou ou tremeu.
Dizendo-se honrado com o convite, o ex-selecionador nacional recusa, contudo, “nomear responsáveis, culpados ou traidores”, salientando que “infelizmente são os mesmos que já vem a prejudicar o partido há anos demais”
Deixa, no entanto, uma palavra a Rui Rio, que considera, não ter culpa do que se passou.
“O Dr. Rui Rio não tem culpa do que se passou. Terá sido, como eu fui, uma vítima do aparelho. Terá sido, como eu fui, traído por uma máquina que tudo faz por lugares, cargos e salamaleques”, lê-se na carta aberta a que a Lusa teve acesso.
António Oliveira diz acreditar que teria sido possível apresentar um “excelente projeto para Vila Nova de Gaia, oferecer uma alternativa de Governo aos cidadãos e levar a cabo uma campanha vencedora”.
“Gaia merece muito mais do que tem tido com estes executivos liderados pela atual maioria. Quase sem exceção, estamos a falar de gente sem nome, sem mérito e sem profissão”, observou.
O empresário termina a carta aberta dizendo que não precisa “desta política” para sentir que deu um contributo à sociedade ou para agradecer ao seu país tudo o que ele foi capaz de lhe dar.
“Com certeza encontrarei outros projetos de participação cidadã, talvez até em Gaia, em que possa saudavelmente ter um papel pleno e sério. Preciso muito mais de sentir e de ser fiel aos meus valores. Preciso muito mais de não transigir na minha dignidade”, remata.
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