O sufrágio foi para já restrito ao pessoal militar e de segurança e aos deslocados internos que vivem em campos, com a votação principal marcada para segunda-feira, e os resultados devem ser anunciados na terça-feira.
O ato eleitoral foi antecedido de preocupações sobre uma baixa participação na ida às urnas e a potencial propagação da violência nas tão esperadas eleições que tiveram lugar nas 18 províncias do país.
O poderoso clérigo xiita e líder político Moqtada al-Sadr — que renunciou oficialmente à política em 2022 durante um longo impasse sobre a formação do gabinete — apelou aos seus apoiantes para boicotarem as eleições provinciais, alegando que a sua participação reforçaria o domínio de uma classe política corrupta.
Um boicote generalizado “reduziria a legitimidade das eleições a nível internacional e interno”, disse Al-Sadr num comunicado.
Em algumas áreas, os apoiantes de Al-Sadr rasgaram cartazes eleitorais enquanto várias sedes de campanha política foram vandalizadas. Na cidade de Najaf, no sul do país — um bastião do apoio de Al-Sadr — milhares de pessoas marcharam na quinta-feira para pedir um boicote às eleições.
Os ativistas que organizaram protestos antigovernamentais em massa em 2019 e que se opõem a todos os partidos no poder também prometeram amplamente ficar de fora das urnas.
Além dos que boicotam ativamente as eleições, muitos estão simplesmente apáticos.
O analista político iraquiano Sajad Jiyad, membro do ‘think tank’ (centro de reflexão) apartidário The Century Foundation, citado pela agência Associated Press, salientou que milhões de eleitores elegíveis nem sequer estão registados e que a baixa participação tem sido uma tendência desde 2005.
“Todos os sinais apontam para apatia entre a população em geral”, disse Jiyad, acrescentando: “Os jovens, em particular, não estão envolvidos com a política e nenhum partido capturou a sua atenção”.
Os números iniciais mostraram uma participação de eleitores registados variando entre 37% e 53% nas províncias que reportaram resultados.
O dono de uma perfumaria em Bagdade, Aqeel al-Rubaie, disse não participar na votação, juntamente com a sua família, por não ver “nenhum programa eleitoral real” e devido à corrupção generalizada nas campanhas, com alguns candidatos a oferecer subornos a potenciais eleitores.
“O que é que os iraquianos ganharam com as eleições anteriores que me faria pensar que posso beneficiar com estas eleições?”, questionou. “A corrupção e as armas ainda são galopantes no país. Desemprego e serviços não estão disponíveis”, acrescentou.
A participação foi maior entre as dezenas de milhares de yazidis que ainda vivem em campos de deslocados na província de Dohuk, na área curda semi-autónoma no norte do Iraque, após terem sido deslocados de suas casas em Sinjar há quase uma década, por incursões do grupo extremista Estado Islâmico.
O diretor do comité superior para as eleições em Dohuk, Khalid Abbas disse que a participação nos campos foi de 67,6% dos eleitores registados.
Os yazidis deslocados disseram em grande parte que apoiavam o Partido Democrático Curdo, o partido dominante na área.
“Se os nossos candidatos forem bem-sucedidos, poderemos obter os nossos direitos”, disse Khodeida Ilyas, um yazidi de Sinjar que vive no campo da Sharia, em Dohuk. “Quero dizer, por exemplo, reconstruir Sinjar, obter compensação para nós e melhorar os serviços (em Sinjar). Não há serviços na nossa área até agora”, referiu.
Em algumas áreas, as eleições poderão inflamar as tensões políticas e sectárias existentes, nomeadamente na província de Kirkuk, com uma população mista de sunitas, xiitas, curdos e turcomanos, que há anos é palco de uma disputa territorial entre o governo central de Bagdade e o da região curda semi-autónoma do norte, com capital em Irbil.
As manifestações em Kirkuk contra a entrega de uma instalação importante das autoridades curdas federais às locais tornaram-se violentas em setembro, provocando a morte de um manifestante e ferindo outros.
Uma controversa lei eleitoral aprovada em março, que aumentou o tamanho dos distritos eleitorais, foi considerada como minando as hipóteses de partidos mais pequenos e candidatos independentes conquistarem lugares.
A lei foi apoiada pelo Quadro de Coordenação, coligação de partidos apoiados pelo Irão, principalmente xiitas, principal rival do bloco de Al-Sadr e que, com o boicote dos seguidores deste, será provavelmente o principal beneficiário das eleições provinciais.
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