Uma equipa de investigadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, quis perceber por que razão algumas bactérias que vivem no meio ambiente resistem aos antibióticos e, ao mesmo tempo, alimentam-se deles.
Segundo os autores do estudo, publicado na revista Nature Chemical Biology, a compreensão dos passos envolvidos na conversão de um antibiótico em alimento para as bactérias pode ajudar a encontrar um mecanismo para eliminar restos de antibióticos do solo e dos cursos de água e travar a disseminação da resistência bacteriana a estes fármacos.
Os especialistas lembram que a contaminação do meio ambiente com antibióticos promove a resistência a estes medicamentos e limita a capacidade de tratamento de infeções bacterianas.
As bactérias partilham facilmente material genético e, quando os antibióticos se infiltram na água e no solo, em resultado do desperdício gerado pela atividade pecuária ou farmacêutica, as bactérias respondem aos antibióticos espalhando os genes da resistência desenvolvida a estes medicamentos a outras bactérias.
A Universidade de Washington salienta, em comunicado, que na Índia e na China, que produzem a maioria dos antibióticos consumidos no mundo, os laboratórios despejam lixo com restos de antibióticos em cursos de água.
Nos Estados Unidos, adianta a instituição, criadores de gado adicionam antibióticos à ração dos animais para que estes cresçam mais depressa, dando origem a resíduos com estes medicamentos.
A equipa de cientistas estudou quatro espécies de bactérias do solo que cresceram sob uma dieta rica em penicilina, o primeiro antibiótico usado na medicina, mas ao qual as bactérias ganharam resistência.
Os investigadores descobriram três conjuntos de genes distintos que ficaram ativos quando as bactérias consumiam penicilina e inativos quando consumiam açúcar.
As três séries de genes correspondem aos três passos seguidos pelas bactérias para transformarem um composto letal como o antibiótico numa refeição.
De acordo com os autores do artigo, as quatro bactérias analisadas começam por neutralizar a parte tóxica da penicilina antes de comerem a porção ‘saborosa’ do antibiótico.
Os cientistas acreditam que bactérias como a intestinal ‘E. coli’ podem ser potencialmente modificadas, com técnicas de engenharia genética, para se alimentarem de antibióticos que contaminam água e solos.
No estudo, a ‘E. coli’, que habitualmente necessita de açúcar para sobreviver, cresceu com uma dieta sem açúcar mas rica em penicilina, depois de lhe terem sido feitas algumas modificações genéticas e adicionada uma determinada proteína (cuja identidade e funcionalidade não é mencionada no comunicado da Universidade de Washington).
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