Ao longo das últimas quatro semanas, "todos os dias", das 18h às 20h, Nuno Martins e outros voluntários socialistas têm ido bater diretamente à porta dos eleitores na cidade de Noisy-le-Grand, nos arredores de Paris.
"Bonjour! Somos militantes benévolos da equipa de Benoît Hamon e estamos a falar com os residentes do bairro sobre as eleições. Pode abrir-nos a porta se faz favor?", lançou o franco-português num dos prédios do bairro Pavé-Neuf.
Nesta cidade de 64 mil habitantes, onde Nuno Martins já foi deputado municipal, as portas nem sempre se abrem mas quando se abrem ele e os colegas de campanha não deixam escapar a brecha para tentar convencer as pessoas, em poucos minutos, para votarem Benoît Hamon.
"O nosso objetivo no 'porta-a-porta' é ir buscar os indecisos aqui em França. Como há um grande potencial de entre 30 a 35 por cento das pessoas, é aí que devemos ir buscar as pessoas para ir votar Benoît Hamon", explicou à Lusa o técnico mecânico, acrescentando que, num mês, ele e os outros voluntários bateram em "mais de 1200 portas" em Noisy-le-Grand.
Com a porta entreaberta, Simaga Fatou, de 20 anos, disse estar "indecisa" mas indicou que vai votar à esquerda e que prefere Mélenchon porque "num dos debates na televisão deixou todos K.O.", ao que Nuno Martins replicou que "um presidente não é apenas um bom orador, tem de ter um bom projeto construído".
Ibrahima Wagné, dirigente associativo conhecido no bairro, também ainda não se decidiu, mas Nuno Martins perguntou-lhe se "o coração não bate mais à esquerda" e ele admitiu que sim, ainda que "a coisa esteja complexa" entre um "Mélenchon um pouco utópico" e um "Hamon com os pés assentes na terra".
Apesar das sondagens deixarem Benoît Hamon longe dos favoritos, Nuno Martins acredita que o candidato eleito nas primárias socialistas pode passar à segunda volta e justifica que Hamon tem o programa "mais realista e que quer mesmo mudar a sociedade francesa".
"O projeto que ele tem não é só uma ou duas ou três, quatro ideias. São ideias globais. Quando ele fala de ecologia, não é para fazer só menos poluição, é também para criar empregos. É um ciclo, é um projeto global", defendeu o também representante do sindicato dos transportes de Paris CGT-RATP.
Nuno Martins elencou, ainda, como outras medidas importantes "o reconhecimento do voto branco, o rendimento universal e o reconhecimento do voto dos imigrantes de fora da União Europeia", não sabendo, por enquanto, o que fará na segunda volta se Hamon não for apurado.
Hermano Sanches Ruivo, vereador-executivo da Câmara de Paris, também tem feito campanha por Benoît Hamon junto dos parisienses através da distribuição de panfletos nas feiras e nas saídas do metropolitano, tendo organizado a viagem do candidato a Portugal em janeiro.
O autarca franco-português lamenta "profundamente" que não tenha havido uma "união à esquerda" entre Benoît Hamon e Jean-Luc Mélenchon, o candidato de "A França Insubmissa", e "sem união" não vê "como o candidato da esquerda pode estar na segunda volta".
"Penso que vai ser muito difícil Benoît Hamon passar à segunda volta. Na situação atual da política francesa, se houvesse uma união à esquerda, o candidato da união estaria praticamente na segunda volta. Que Mélenchon esteja ou não na frente, infelizmente os dois correm o risco de ficar para trás", considerou.
Por isso, sem a união da esquerda, Hermano Sanches Ruivo argumentou que "claramente os indecisos podem fazer a diferença" mas que são "vários os candidatos que podem beneficiar" desse voto.
No próximo dia 23, a França realiza a primeira volta das eleições presidenciais com um quase empate técnico entre quatro candidatos: Marine Le Pen (extrema-direita), Françoi Fillon (direita), Emmanuel Macron (centro) e Jean-Louis Melénchon.
Comentários