“Assistimos este verão a uma aceleração alarmante e à propagação de incêndios florestais por toda a Europa e a época deste ano bateu todos os recordes”, aponta em entrevista escrita à agência Lusa o comissário europeu para a Gestão de Crises, Janez Lenarcic.
E ilustra: “O número de grandes incêndios e os hectares de terra queimados ascendem a cerca de 750 mil hectares, cerca de três vezes o tamanho do Luxemburgo ou um quarto da Bélgica”.
De acordo com dados do executivo comunitário, até 01 de outubro, a área ardida aumentou 30% face a 2017 (o anterior máximo) e 170% desde o início dos registos a nível europeu, em 2006.
“As imagens que todos vimos da Gironda em França, do Parque Nacional da Serra da Estrela em Portugal, mas também da República Checa, Alemanha, Espanha, regiões Karst entre Itália e Eslovénia, ficarão connosco como lembrança da gravidade dos incêndios florestais que estão a ocorrer neste continente”, afirma Janez Lenarcic, na entrevista à Lusa.
Ainda assim, “mais uma vez, a solidariedade europeia permaneceu intacta graças à tomada de decisões estratégicas dos anos anteriores para reunir capacidades a nível europeu e partilhá-las além-fronteiras”, adianta o responsável.
Este ano, a frota de combate a incêndios do mecanismo europeu incluiu 12 aviões e um helicóptero postos à disposição dos Estados-membros pela Croácia, Espanha, França, Grécia e Itália.
Em 2022, o Centro de Coordenação de Resposta a Emergências (CCRE) recebeu 11 pedidos de assistência em fogos florestais, tendo sido mobilizados 33 aviões e oito helicópteros de combate a incêndios através do Mecanismo de Proteção Civil da UE (rescUE), a que se juntaram 350 bombeiros.
Dois destes pedidos de assistência foram feitos por Portugal, em 9 de julho e em 19 de agosto.
O CCRE é o cerne do rescUE, coordenando a prestação de assistência a países atingidos por catástrofes, tais como artigos de socorro, conhecimentos especializados, equipas de proteção civil e equipamento especializado.
O centro assegura o rápido destacamento de apoio de emergência e funciona como uma plataforma de coordenação entre todos os Estados-membros da UE, sete outros Estados participantes, o país afetado e os peritos em proteção civil e humanitários.
Além disso, o serviço de cartografia de emergência por satélite Copernicus da UE foi ativado 53 vezes para incêndios florestais em 14 países europeus.
Reconhecendo que o verão deste ano “não será, muito provavelmente, um episódio isolado, mas parte de uma tendência alarmante”, Janez Lenarcic defende a necessidade de “reforçar o mecanismo de resposta coletiva, especialmente as capacidades” existentes.
“Ficou claro que temos de fazer mais e temos de fazer mais também a nível europeu, temos de encontrar formas de aliviar mais rapidamente a carga nacional [porque] a solidariedade através da Europa, quando muitos ou todos são afetados ao mesmo tempo, não pode ser tida como certa”, salienta o responsável europeu.
“Todas estas catástrofes são nomeadamente reforçadas pela nova realidade das alterações climáticas que só podemos enfrentar em conjunto”, conclui Janez Lenarcic.
No início deste mês, a Comissão Europeia propôs o reforço de 170 milhões de euros no orçamento para 2023 da UE para o combate aos fogos florestais, que registaram números recorde este ano.
A frota de transição da UE passará a ser composta por um total de 22 aviões, quatro helicópteros, bem como mais equipas terrestres preposicionadas.
A partir de 2025, a frota será ainda mais reforçada através de uma aquisição acelerada de aviões e helicópteros.
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