Ao que tudo indica, Giorgia Meloni vai ser a primeira primeira-ministra de Itália, depois de nas eleições de domingo, nenhum partido ter conseguido uma maioria suficiente para governar sozinho.
Nesse contexto, Itália vai ser governada por uma coligação. De acordo com resultados parciais, esta coligação de direita, que inclui os partidos Irmãos de Itália, liderado por Giorgia Meloni, a Liga, de Matteo Salvini, e Força Italia, de Silvio Berlusconi, obteve 43% dos votos nas legislativas.
Ainda falta serem anunciados os resultados finais e oficiais, mas a Europa já encara Meloni como a nova primeira-ministra de Itália, com a líder do partido de extrema-direita a ser felicitada por vários líderes europeus.
Mateusz Morawiecki, primeiro-ministro da Polónia, foi um dos primeiros a fazê-lo através das redes sociais, com um simples e sucinto: "Parabéns".
A partir de França, Eric Zemmour e Marine Le Pen parabenizaram Giorgia Meloni. A líder da Frente Nacional aplaudiu os líderes dos partidos de extrema-direita "por terem resistido às ameaças da União Europeia antidemocrática e arrogante e conquistado esta grande vitória".
Já Elisabeth Borne, primeira-ministra francesa, disse à RMC Radio e BFM TV que haverá agora uma maior vigilância, em termos de direitos humanos, ao que se passa em Itália: “Na Europa, temos certos valores e, obviamente, estaremos vigilantes”.
Borne exemplificou com o tema do aborto, afirmando que este “é um valor de direitos humanos e o respeito aos outros, ou seja, o direito de ter acesso ao aborto, [que] deve ser defendido por todos”.
Balázs Orbán, diretor político do gabinete do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, endereçou através do Twitter os parabéns a Giorgia Meloni, Matteo Salvini e Silvio Berlusconi.
"Nestes tempos difíceis, precisamos mais do que nunca de amigos que partilhem uma visão e uma abordagem comuns aos desafios da Europa", escreveu.
De acordo com a agência ANSA, o porta-voz do governo da Rússia, Dmitri Peskov, afirmou esta segunda-feira que espera que o novo governo de Itália tenha uma relação "mais construtiva" com Moscovo.
"Estamos prontos a dar as boas-vindas a qualquer força política que possa ser mais construtiva nas relações com Rússia", disse.
Na conferência de imprensa diária da Comissão Europeia, em Bruxelas, o porta-voz principal do executivo comunitário, Eric Mamer, começou por recordar o princípio da instituição de "nunca comentar resultados de eleições nacionais" e sublinhou que, na sequência das eleições de domingo, aguarda-se agora "a formação de um governo, segundo os procedimentos constitucionais de Itália".
Questionado sobre se a Comissão Europeia liderada por Ursula von der Leyen está pronta a trabalhar com um governo dirigido pela líder de um partido considerado de extrema-direita, o porta-voz respondeu que "a Comissão trabalha com os governos que saem das urnas das eleições nos países da União Europeia, e neste caso não vai ser diferente".
"Esperamos ter uma cooperação construtiva com as novas autoridades italianas", afirmou então.
Desafiado a comentar o facto de cerca de um terço dos italianos terem votado em forças políticas consideradas antieuropeístas, Eric Mamer disse que não cabe à Comissão Europeia "comentar a campanha eleitoral" ou "tentar explicar as razões que levaram os italianos a votar da forma como o fizeram".
Ainda assim, observou que houve toda uma série de assuntos a marcar estas eleições e comentou que "encarar estas eleições como uma espécie de julgamento sobre a Europa parece uma simplificação extrema".
Já de Itália, Roberto Saviano, nome proeminente da literatura italiana, famoso por ter exposto a realidade da máfia napolitana, publicou nas redes sociais a palavra "Resistir" sob um fundo negro.
"Li #Saviano nas tendência [do Twitter] porque os eleitores de Meloni “convidam-me” a sair do país. Estes são avisos. Esta é a Itália que nos espera. Eles já estão a elaborar uma primeira lista negra de inimigos da pátria, apesar daqueles que disseram que o fascismo é outra coisa", publicou o escritor.
Do Brasil vieram felicitações de Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente Jair Bolsonaro.
Já em Portugal, o Livre lamentou os resultados das eleições legislativas em Itália, que disse ver “com inquietação”, mas ressalvou que a esquerda e outras forças progressistas “falharam ao não se aliarem”, abrindo caminho à extrema-direita.
Em comunicado, o partido representado na Assembleia da República pelo deputado Rui Tavares lamentou “a divisão progressista” que "abriu caminho à extrema-direita".
“O Livre olha com inquietação para os resultados das eleições italianas, reiterando a necessidade em repensar as estratégias das forças democráticas, pela defesa da liberdade, da democracia e da Europa”, lê-se o texto.
Para o partido, “estes resultados são mais um exemplo, mas talvez o mais importante, de bons resultados da extrema-direita nos últimos tempos, como aconteceu recentemente com a Suécia”, deixando ainda críticas aos partidos de esquerda.
“Num sistema político que passou a beneficiar coligações, a esquerda e outras forças progressistas que têm em comum a defesa de um modelo económico inclusivo de combate às desigualdades e às alterações climáticas falharam ao não se aliarem, dividindo votos e favorecendo a direita”, criticam.
O Livre salienta que os níveis de abstenção foram "cerca de 10% mais elevados do que em 2018".
“A Aliança Esquerda Verde alcançou cerca de 3,54%, resultado que o Livre congratula. Contudo, perante a gravidade dos problemas atuais, da guerra na Ucrânia à crise climática, a esquerda falha na mobilização dos cidadãos para o voto”, sublinha.
Já o secretário-geral adjunto do PS, João Torres, considerou hoje que o resultado das eleições em Itália demonstra que "quando a direita democrática normaliza a extrema-direita, acaba por ser liderada por esta".
"Temos hoje, mais do que nunca, de manter a atenção e a vigilância em relação à salvaguarda dos valores democráticos", escreveu o número dois do PS na sua conta na rede social Twitter.
"Especialmente num contexto geopolítico marcado pela incerteza e por desafios globais muito exigentes, a diferentes níveis, os resultados de ontem só podem ser encarados com apreensão e preocupação", acrescenta o secretário-geral adjunto dos socialistas.
O PCP considerou que a perspetiva de um Governo de extrema-direita em Itália "é inquietante" e obriga à intensificação da "luta contra o revisionismo histórico que branqueia e banaliza os crimes do nazifascismo".
Em comunicado, a direção comunista sustenta que a ideia de um Governo de extrema-direita em Itália, a terceira maior economia da Zona Euro, "é inquietante e confirma a necessidade de intensificar a luta contra o revisionismo histórico que branqueia e banaliza os crimes do nazifascismo enquanto promove o anticomunismo".
Na perspetiva dos comunistas portugueses, a vitória declarada pela extrema-direita nas eleições legislativas de domingo é consequência da "profunda crise" político-económica e social "em que Itália está mergulhada" por causa da ação de sucessivos executivos que seguiam as orientações de Bruxelas, incluindo o último, liderado por Mario Draghi.
"A ascensão de uma força marginal à mais votada é inseparável da sofisticada mediatização e descarada promoção da figura de Giorgia Meloni e da normalização do Irmãos de Itália, um partido com uma trajetória de cariz fascizante", argumenta o PCP.
Ainda "é cedo para avaliar todas as implicações" do resultado das eleições, mas o PCP já encontra "profissões de fé neoliberal e 'atlantista' à medida dos interesses do grande capital" daquele país.
"O PCP confia, porém, em que os trabalhadores e o povo italiano, coerente com as suas tradições democráticas e progressistas, acabarão por derrotar as forças reacionárias e os projetos fascizantes", finaliza a nota divulgada pelo partido.
Por outro lado, o presidente da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, disse que respeitar as escolhas dos italianos nas urnas, embora tenha manifestado preocupação com as “ideias políticas” dos partidos vencedores.
“Respeitarei sempre as escolhas livres dos povos, porque é disso que se trata em democracia, e manifesto preocupação e manifesto também uma total falta de afinidade com as ideias políticas que saíram vencedoras em Itália”, declarou o líder da IL, em reação ao sufrágio de domingo.
Cotrim Figueiredo afirmou que, apesar da preocupação, não se pode contestar a escolha dos italianos.
“Foi uma escolha livre dos italianos. É possível fazer uma análise sobre os motivos pelo qual os italianos decidiram como decidiram. Não é possível é contestar a legitimidade dessa escolha”, defendeu o líder da IL.
Neste sentido, defendeu a necessidade de se ter “muito cuidado” nas contestações ao resultado, considerando que “muitas vezes a contestação de escolhas livres é que conduz à radicalização dessas escolhas”.
“Uma eleição livre, e aqui sublinho o livre, uma eleição livre e informada conduziu a um determinado resultado. Respeita-se, é a democracia. Pessoalmente, e enquanto líder de um partido liberal, só posso lamentar que seja aquele tipo de ideias políticas que tenha ganho as eleições, mas não faço mais comentários”, concluiu.
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