Guadalupe Simões, dirigente do sindicato dos Enfermeiros Portugueses mostra surpresa pela saída de Temido, “não estávamos à espera. Digamos que por um lado ficámos surpreendidos mas, por outro lado, e face àquilo que têm vindo a ser os constrangimentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a ausência de soluções estruturais para os problemas parece lógico a ministra evocar as razões que evocou para pedir a demissão".
“Foi ministra num dos períodos mais complicados que Portugal passou em termos de saúde”, mas a “retenção dos profissionais é um dos problemas mais graves do SNS e, na verdade, o Governo nada tem feito para reter estes profissionais”, disse a dirigente sindical esta manhã à RTP.
Já Miguel Guimarães, Bastonário da Ordem dos Médicos, reagiu dizendo que "quando as pessoas se demitem é porque acham que não podem ir mais longe", disse, esta manhã, à CNN. "O PS tem uma política de saúde pré-definida e que está a conduzir aos resultado que temos atualmente", acrescentou o Bastonário da Ordem dos Médicos. Para Miguel Guimarães falta saber se a saída de Temido se deve "ao facto de já não ter alternativas para resolver os graves problemas da saúde em Portugal", disse em declarações à Lusa.
Para o Ministério da Saúde pretende-se "um ministro que faça acontecer e que resolva os problemas que afetam a saúde em Portugal e que de uma forma transversal afetam todos os portugueses". "A saída da senhora ministra do Governo é uma decisão dela e que só ela pode explicar aos portugueses. E só o senhor primeiro-ministro pode explicar porque aceitou de imediato esta demissão", referiu, ainda Miguel Guimarães. "Ou foi porque o Governo não lhe deu condições para executar as medidas estruturais, que eventualmente poderia querer fazer no Serviço Nacional de Saúde", questionou.
Por sua vez, o dirigente do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, declarou à Lusa que “não surpreende que o primeiro-ministro tenha aceitado a demissão da ministra” da Saúde.
No Porto, Xavier Barreto, da direção da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, afirmou que “ dada a falta de capacidade para se dar ao diálogo da ministra, diria que é uma demissão expectável”. No entanto, sublinhou que a ministra tem provas dadas enquanto gestora hospitalar e a responsabilidade do estado da Saúde é de todo o Governo e não de uma só ministra. Esperamos que a substituição seja rápida, por um profissional que conheça o setor da saúde”, disse à CNN, desde o Hospital de S. João do Porto.
Quanto à Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, garantiu à Agência Lusa, não ter ficado surpreendida com a saída de Marta Temido e notou que as "profundas divergências" que teve com a ex-governante ao longo de quase quatro anos deixam-na à vontade para defender que o problema não passa pelo nome do titular da pasta da Saúde.
"As decisões que se tomam relativamente ao setor - não é só o Serviço Nacional de Saúde (SNS) - são decisões que estão em consonância com o primeiro-ministro. A estratégia não é de uma pessoa só", destacou a bastonária, que continuou: "É uma questão de ideologia e do que está por detrás das decisões que se tomam e dos recursos colocados à disposição para tomar ou não essas decisões, porque os problemas estão identificados há muitos anos.
"Somos um país que escolhe pôr dinheiro na banca e na TAP ao invés do SNS. Sem um mínimo não é possível fazer as reformas que estão identificadas há muito", acrescentou, acentuando a responsabilidade de António Costa: "É o chefe do executivo. Portanto, Marta Temido trabalhou com as condições que lhe deram e fê-lo em consonância com o primeiro-ministro".
Segundo a bastonária da OE, havia já um "desgaste muito grande" em torno de Marta Temido. Contudo, a maior preocupação de Ana Rita Cavaco centrou-se na definição de respostas para os problemas apontados pelos enfermeiros e na necessidade de reformas estruturais que entendeu serem "decisivas" para as pessoas.
"O que nos preocupa agora é quem vai a seguir e se vai fazer aquilo que é necessário: vão rever a carreira dos enfermeiros? Vão finalmente negociar o internato? Vão ter medidas de fixação para enfermeiros?", questionou a responsável, sem deixar de lembrar "os enfermeiros que estão a sair das escolas e a emigrar para países estrangeiros sem uma medida de fixação", com exceção para os contratos de quatro meses.
Questionada sobre quem poderá suceder a Marta Temido, Ana Rita Cavaco refere-se a António Lacerda Sales "que tem uma ótima relação com todos os intervenientes do setor. É evidente que isso ajuda e gostamos sempre muito mais de trabalhar e de resolver problemas com pessoas simpáticas e que conseguem interagir connosco do que com uma pessoa que, no caso da OE, nos fez uma sindicância, porque não gostava do trabalho que fazíamos", finalizou.
Da parte do Sindicato dos Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica (STSS), reivindica-se o início de negociações urgentes com o próximo titular da pasta da Saúde sobre a carreira destes profissionais, que querem “medidas céleres e concretas” por considerarem que durante os mandatos de Marta Temido como ministra da Saúde “nada foi desenvolvido e resolvido”.
Para o presidente do sindicato, Luís Dupont, a demissão da ministra da Saúde era “expectável”, uma vez que, já se encontrava “numa situação muito frágil”.
Em comunicado, o STSS manifestou esperança num “início efetivo de negociações”, alegando que entregou em abril um acordo de princípios ao Ministério da Saúde do qual não viu resultados.
Os técnicos pretendem a regularização urgente de uma carreira especial e defendem a definição de um calendário negocial para que sejam atribuídos 1,5 pontos por ano, bem como a contagem do tempo na carreira desde o início do contrato.
A Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM), por seu lado, defende que o próximo ministro da Saúde deve reestruturar os serviços de emergência. “Deseja-se que o próximo ministro titular da pasta da Saúde se afigure sensível ao que diz respeito aos serviços médicos de emergência e que ocasione uma restruturação de fundo que só irá favorecer o país”, salientou a ANTEM em comunicado.
Segundo a associação, os serviços médicos de emergência carecem de uma “restruturação de fundo, desde a base do edifício até ao seu topo”.
Alegando os problemas estruturais desses serviços, a ANTEM salientou ainda que solicitou audiências a Marta Temido “sem que nunca tenha obtido qualquer resposta”, nem mesmo às cartas enviadas, o que demonstrou uma “total falta de respeito institucional” por parte da governante.
“Do mesmo modo que a ministra titular da pasta da saúde apresentou a sua demissão, o conselho diretivo do INEM também o deveria fazer e, com efeitos imediatos, pois é nossa certeza de que este deixou já de reunir as condições para o exercício das funções há muito tempo”, sublinhou ainda a associação.
Também em comunicado, a Associação Profissional dos Técnicos Auxiliares de Saúde (APTAS) considerou a demissão de Marta Temido como “inevitável”, alegando “que sempre tratou tão mal o pilar base do sistema de saúde em Portugal, que são os seus profissionais”.
(Notícia atualizada às 16h05).
*Com Lusa
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