Na terça-feira, na sequência de uma intervenção policial no bairro da Jamaica, no Seixal, ocorrida no domingo, o dirigente da SOS Racismo publicou um texto na rede social Facebook em que fala da “violência policial” no bairro e se refere à polícia como “a bosta da bófia”.
O dirigente afirmou encarar as críticas que lhe têm feito nas redes sociais, e também um vídeo no qual dirigentes do Partido Nacional Renovador lhe dizem para se demitir, como “uma manobra de diversão” e como “uma forma de omitir o que é essencial”.
“O que motivou as minhas declarações foi a forma como a polícia agrediu de modo injustificado cidadãos indefesos e é sobre isso que temos de falar”, disse.
“Não quero dizer que eu não possa ser criticado pelo que digo, agora num país em que as pessoas se indignam por uma expressão em comparação com a violência que se abateu sobre a Jamaica é um país que não está preparado para lidar com a questão racial”, acrescentou.
Mamadou Ba estava entre as cerca de 100 pessoas que se manifestavam hoje à tarde em frente à Câmara do Seixal, no distrito de Setúbal, contra alegadas agressões e racismo da polícia e para pedir habitações dignas.
O assessor bloquista salientou estar no protesto “porque a polícia não pode servir de instrumento do Estado para gerir a exclusão social”, considerando que “as habitações no bairro da Jamaica são indignas de um país no seculo XXI”.
Em relação aos desacatos que têm ocorrido em diversos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa, salientou que “cada ato de cidadania tem de ser avaliado por si próprio”.
“Este [o de hoje, no Seixal] pretende ser pacífico, sem nunca deixar de ser contundente e frontal. Não podemos tolerar que as forças de segurança sejam elas a falta de segurança”, considerou.
O protesto acontece na sequência de incidentes entre moradores e a polícia ocorridos no passado domingo em Vale de Chícharos, conhecido como Bairro da Jamaica, no Seixal, distrito de Lisboa, e contou com apenas uma minoria de habitantes deste bairro.
A Associação para o Desenvolvimento de Vale de Chícharos demarcou-se do protesto de hoje.
“Vivemos em democracia. Há opções e não temos que discutir esta escolha. Nós respeitamos os motivos para não virem e estamos aqui a prestar solidariedade e a dizer que não vamos largar nunca o problema da exclusão que os afeta e que também nos afeta”, concluiu Mamadou Ba.
No domingo passado, a polícia foi chamada a Vale de Chícharos após ter sido alertada para “uma desordem entre duas mulheres”.
Segundo a PSP, um grupo de homens reagiu à intervenção dos agentes da polícia quando estes chegaram ao local, atirando pedras. Do incidente resultaram feridos, sem gravidade, cinco civis e um agente.
Na segunda-feira, decorreu uma manifestação contra a violência policial, convocada nas redes sociais, em frente ao Ministério da Administração Interna, em Lisboa, que resultou em quatro detenções por apedrejamento aos agentes da PSP, de acordo com a polícia.
Nos dias seguintes aos protestos ocorreram diversos atos de vandalismo, como caixotes de lixo queimados e carros vandalizados, nos concelhos de Loures, de Sintra, de Odivelas e de Setúbal.
A Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) acusou na terça-feira algumas entidades políticas e associativas, e a associação SOS Racismo, de incitamento à violência e de colocarem a população contra a polícia.
O parlamento aprovou hoje um voto apresentado por PSD e CDS-PP de condenação pelos recentes episódios de violência na Grande Lisboa e de solidariedade para com as forças de segurança.
O texto contou com votos favoráveis do PS, além das duas bancadas proponentes, e com a abstenção dos restantes partidos, bem como da deputada socialista Isabel Moreira e do deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira.
O Ministério Público e a PSP abriram inquéritos aos incidentes no bairro da Jamaica.
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